I Have Questions (Trans version MTF)

Cap. 2 - O Despertar

O coração é um labirinto de segredos, onde cada batida ecoa as palavras não ditas e os anseios silenciados. Às vezes, é preciso se perder para encontrar o caminho de volta a si mesmo."

Camila POV. - Férias de Verão

O aroma de café fresco invade minhas narinas, trazendo um sorriso aos meus lábios. As férias de verão finalmente chegaram, e eu não poderia estar mais feliz. Sinto-me leve, cheia de esperança para o futuro. Meus esforços para conseguir uma bolsa na faculdade estão dando frutos, e mal posso esperar para compartilhar as boas notícias com minha mãe.

Descendo as escadas, encontro-a na cozinha. Seu olhar, no entanto, não reflete minha alegria. Algo em sua expressão me faz hesitar.

— Camila, precisamos conversar — ela diz, sua voz estranhamente séria.

Sento-me à mesa, meu coração acelerando com a antecipação.

— Agora que você está terminando o colégio, é hora de pensar no seu futuro — ela começa. — Você vai se casar com Noah. Ele é um bom rapaz, da igreja, e será o próximo pastor no lugar do seu pai.

Sinto como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Minha voz sai trêmula quando respondo:

— Mas mãe, eu quero ir para a faculdade. Estou me esforçando tanto para conseguir uma bolsa, assim como fiz para o colégio.

O rosto dela se contorce em uma expressão de desaprovação que me faz encolher.

— Faculdade? Camila, você está com essas ideias sem fundamento de novo. Você é igualzinha à sua mãe biológica — ela dispara, suas palavras me atingindo como flechas envenenadas. — Uma mulher não deve se destacar mais que o homem. Seu lugar é ao lado de Noah, apoiando-o em seu ministério.

Sinto minha garganta apertar, as lágrimas ameaçando cair. A depressão que eu havia conseguido controlar durante as trocas de cartas com o anjo começa a se infiltrar novamente em minha mente.

— Mas mãe, eu tenho sonhos, ambições. Não posso simplesmente...

— Sonhos? — ela me interrompe, sua voz carregada de desdém. — Nada do que você faz é bom o suficiente, Camila. Você não entende a oportunidade que Deus está te dando? Como pode ser tão ingrata?

Cada palavra dela é como um golpe em minha já frágil autoestima. Sinto-me afundando em um poço de inadequação e desespero. Por que nada do que faço é suficiente? Por que não posso ser amada pelo que sou?

— Eu só quero fazer algo significativo com minha vida — sussurro, mais para mim mesma do que para ela.

— Significativo? — ela ri, um som frio que me faz estremecer. — O que pode ser mais significativo do que servir a Deus ao lado de um homem de bem? Você deveria agradecer pela vida que estamos te oferecendo.

Sinto-me sufocada, presa em uma gaiola de expectativas que não são minhas. A depressão pesa sobre meus ombros como um manto de chumbo, e a ansiedade aperta meu peito. Será que nunca serei boa o suficiente? Será que estou destinada a viver uma vida que não escolhi?

As lágrimas que eu tanto lutei para conter começam a escorrer pelo meu rosto. Não consigo mais olhar para minha mãe, temendo ver nela apenas decepção e raiva. Meu mundo, que há poucos minutos parecia tão cheio de possibilidades, agora desmorona ao meu redor.

— Eu... eu preciso de um tempo — murmuro, levantando-me da mesa com as pernas trêmulas.

Subo as escadas correndo, refugiando-me em meu quarto. Fecho a porta e me jogo na cama, deixando que os soluços tomem conta de mim. A voz da minha mãe ecoa em minha mente, lembrando-me mais uma vez que não sou boa o suficiente, que nunca serei a filha perfeita que ela deseja.