Ensina-me a te amar

Capítulo 9 - Sonhos são apenas sonhos

O dia em que Scarlett foi embora marcou Taehyung de uma forma que ele nunca esqueceria. Ele tinha apenas onze anos, mas a dor de vê-la partir parecia muito maior do que qualquer coisa que um garoto da sua idade pudesse suportar. Por muito tempo, ele se acostumara a viver com a ausência dela, primeiro na guerra, depois na universidade. Mas a última despedida foi diferente, carregada de um silêncio pesado que ele não compreendia totalmente. Ela estava indo para algo que ele sabia ser necessário, mas a ideia de que não a veria por tanto tempo deixou um vazio doloroso em seu peito.

Os meses viraram anos. Taehyung cresceu, e a saudade de Scarlett tornou-se parte de quem ele era. O tempo passou devagar, mas ele se agarrou à promessa que ela fez quando foi embora: que um dia eles estariam juntos de novo. Ele se jogou nos estudos e nas artes, com o desejo ardente de entrar na Escola Nacional de Belas Artes. Era o único caminho que via para se aproximar dela, para tornar o reencontro possível.

Aos quinze anos, finalmente, o momento que ele esperava chegou. Ele foi aceito no colégio de belas artes junto com Seojoon, o irmão mais novo de Scarlett, e os dois decidiram se mudar para morar com ela em Seul. A excitação e o nervosismo de Taehyung eram quase palpáveis. Ele havia trabalhado tanto para aquele momento, desenhado sem parar, estudado com a mesma intensidade com que guardava as lembranças da irmã mais velha. Agora, finalmente, ele estaria perto dela novamente.

A primeira vez que a viu depois de tantos anos foi um choque. Ela estava mais velha, mais madura. Scarlett agora se movia com uma confiança que ele admirava, mas também havia algo diferente — algo que falava de cansaço e responsabilidades. Seus olhos carregavam um brilho suave de afeto, mas também uma exaustão que ele nunca havia visto antes.

A nova vida com ela não foi exatamente como Taehyung havia imaginado. Scarlett trabalhava incansavelmente. Durante o dia, ela ia para a editora onde lia e revisava manuscritos de outros escritores, e à noite, corria para a universidade, onde lecionava para alunos tão jovens quanto ele. Taehyung muitas vezes a via sair apressada de casa, a pasta de couro em uma mão e um café na outra, sempre de olho no relógio. Mas, mesmo assim, ela encontrava tempo para cuidar deles, para perguntar sobre a escola, para garantir que nada faltasse.

As noites eram quando ele a via mais relaxada, o que acontecia raramente. Nas poucas horas de descanso que tinha, Scarlett se dedicava ao que chamava de sua "diversão secreta": ela escrevia histórias em fóruns de internet, publicando sob o pseudônimo S.V. Eram histórias simples, leves e até bobas, mas que traziam um sorriso ao rosto dela. Às vezes, Taehyung a encontrava no pequeno escritório improvisado em casa, os dedos voando pelo teclado, e o som da risada suave dela era o suficiente para acalmá-lo. Ele não entendia por que ela escondia essa paixão, mas sabia que aquilo a fazia feliz, mesmo que por poucos momentos.

O que Taehyung não esperava era o dia em que as coisas começaram a desmoronar. Scarlett chegou em casa tarde, mais cansada do que o habitual. Ela não sorriu ao vê-los, nem perguntou sobre o dia de Seojoon ou de Taehyung. Apenas se jogou no sofá, os olhos fixos no teto, o rosto pálido e sem emoção.

— Noona? — Taehyung chamou, aproximando-se cautelosamente. Ele não a via assim desde... bem, desde antes, quando a guerra a havia destruído. Seu coração apertou com o medo de que algo terrível tivesse acontecido.

Scarlett suspirou, passando a mão pelo cabelo antes de finalmente olhar para ele.

— Fui demitida — ela disse, simples e direta. Aquelas duas palavras caíram como uma bomba, fazendo o mundo de Taehyung girar. — Da editora. Eles estão cortando pessoal, reduziram a equipe de publicações... Eu sou uma das dispensadas.

O silêncio que seguiu foi sufocante. Ele não sabia o que dizer. Scarlett sempre foi forte, inabalável. Ela nunca deixava que eles vissem quando algo estava errado. Mas ali, naquele momento, ela parecia frágil, quase quebrada.

— O que... o que vamos fazer? — Seojoon perguntou, hesitante, sentado à mesa de jantar, onde a comida esfriava intocada.

Scarlett deu um sorriso triste, o tipo de sorriso que não traz conforto.

— Eu vou encontrar outra coisa. Já encontrei, na verdade — disse, tentando soar otimista. — É temporário, mas... vou trabalhar como cozinheira por um tempo.

— Cozinheira? — Taehyung repetiu, chocado. Não era que ele duvidasse das habilidades dela na cozinha — ela era excelente, sempre fazia os melhores pratos quando tinha tempo —, mas era uma mudança tão brusca para alguém que amava literatura tanto quanto ela.

— É só até conseguir algo melhor — ela explicou, seus olhos cansados. — Não quero que vocês se preocupem. Isso é temporário.

Mas Taehyung se preocupou. Ele via o esforço que ela fazia, como passava de uma mulher cheia de sonhos a alguém que só tentava sobreviver. Ela passava as manhãs na cozinha de um restaurante pequeno, voltando para casa cheirando a óleo e temperos, para então correr para a universidade, onde continuava a dar aulas até tarde da noite. O brilho nos olhos dela, que às vezes ele via quando ela falava de livros ou escrevia, parecia estar desaparecendo.

E isso o machucava profundamente. Ele sabia que Scarlett fazia tudo por eles, que trabalhava tanto para que pudessem viver juntos, mas o preço parecia ser alto demais. Ele se perguntava como poderia ajudar, o que poderia fazer para aliviar o fardo dela. E foi então que Taehyung tomou uma decisão.

Ele se dedicaria ainda mais à escola de belas artes. Ele sabia que, se conseguisse alcançar algo significativo, se tornasse um artista de verdade, poderia, de alguma forma, aliviar o peso nos ombros dela. Ele estudaria como nunca, faria seus desenhos e pinturas valerem a pena. Um dia, queria ser capaz de se sustentar e, talvez, sustentar Scarlett e Seojoon também, para que ela pudesse finalmente viver seu sonho de verdade — escrever seus livros, sem preocupações.

Taehyung não disse nada a Scarlett sobre seus planos, mas cada vez que a via cansada, lutando para se equilibrar entre a cozinha e a sala de aula, ele se lembrava do motivo pelo qual estava fazendo tudo isso. Ele havia prometido, anos atrás, que ficaria ao lado dela. E essa promessa era mais forte agora do que nunca.