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Capítulo 1 - Sob o Olhar da Tempestade (continuação)

Alice corria. Cada passo parecia um esforço inútil contra o vento e a chuva que a empurravam de volta, como se a própria tempestade estivesse a serviço de Dante, tentando detê-la. Seus pulmões ardiam, o frio invadia seus ossos, e seu coração batia com tamanha força que ela sentia o sangue pulsando em seus ouvidos. Mas, mesmo assim, ela corria.

As ruas estreitas da cidade se estendiam como um labirinto diante dela, mas não importava o quanto tentasse, não conseguia se livrar da sensação de que ele estava perto. Muito perto. Não ousava olhar para trás, temendo o que veria, mas a sensação de ser seguida, caçada, a envolvia completamente. A presença de Dante era como uma sombra, sempre ali, mesmo quando ela não conseguia vê-lo.

A luz fraca dos postes projetava longas sombras sobre o caminho, tornando cada esquina um possível esconderijo, cada beco um refúgio. Mas nada parecia seguro. O medo que ela sentia não era só por estar sendo perseguida; era algo mais profundo, algo que ela não conseguia definir. O homem que a seguia não era um simples desconhecido. Ele a conhecia. Ele sabia seu nome, e de algum modo, sabia muito mais sobre ela do que ela própria.

Alice virou abruptamente uma esquina e entrou em um beco estreito, sem pensar. O lugar estava escuro e úmido, o cheiro de lixo e umidade a enjoando, mas ela continuou a correr, escorregando na lama que se acumulava nos paralelepípedos. O beco parecia interminável, e a única coisa que ela conseguia ouvir, além do som de sua respiração ofegante, era o da chuva insistente. Mas a qualquer momento, ela sabia que ouviria os passos dele.

Seu coração estava disparado, a adrenalina correndo por suas veias, mas, de repente, uma voz cortou o silêncio.

— Você realmente acha que pode fugir de mim, Alice?

A voz ecoou pelo beco como um trovão. Ele estava atrás dela. Não sabia como ele conseguia mover-se tão rápido e silenciosamente, mas ele estava lá, mais uma vez reduzindo a distância entre eles. Alice sentiu o pânico a dominar, mas antes que pudesse dar outro passo, sentiu uma mão firme agarrar seu braço, puxando-a com força.

Ela tentou gritar, mas o som morreu em sua garganta. Em um segundo, estava contra a parede fria e úmida do beco, seu corpo preso entre o concreto duro e o calor opressor de Dante. O contraste da frieza da parede e do calor do corpo dele a desorientou, deixando-a ainda mais vulnerável. Alice lutou para se libertar, mas a força de Dante era incomparável. Ele segurava seu braço com uma facilidade que a fez perceber o quanto ele era poderoso.

Os olhos de Dante a fitavam intensamente, brilhando como chamas escuras, mesmo na penumbra do beco. Havia algo predatório neles, algo que fez sua pele arrepiar, não de medo, mas de uma atração que ela não conseguia explicar. A proximidade dele fazia com que o ar ao redor parecesse mais pesado, mais denso. Ela estava completamente à mercê daquele homem, e não sabia o que ele faria a seguir.

— Por que está fugindo? — A voz dele era baixa, mas cheia de comando. Ele não parecia irritado, apenas curioso. Como se a fuga dela fosse apenas mais um jogo que ele sabia que venceria.

Alice tentou puxar o braço, mas era inútil. — Eu não sei quem você é. Me deixe ir!

Dante sorriu de leve, um sorriso que parecia carregado de segredos. — Não, você sabe quem eu sou. Mesmo que ainda não tenha aceitado isso.

Ela tentou negar, mas suas palavras ficaram presas na garganta. Ele estava perto demais, tão perto que podia sentir o cheiro dele, uma mistura de madeira e algo mais, algo escuro e perigoso. O olhar de Dante não se desviava dos olhos dela, e o jeito como ele a fitava era desconcertante. Não havia apenas ameaça em seu olhar, havia desejo. Um desejo bruto e inegável.

— Por que eu? — Alice conseguiu perguntar, sua voz mais fraca do que gostaria. A pergunta saiu como um sussurro, mas a tensão entre eles fez com que as palavras soassem mais altas do que o esperado.

Ele inclinou a cabeça, observando-a com uma intensidade que fez seu corpo estremecer. — Porque você é minha, Alice. Sempre foi.

Aquelas palavras a atingiram com força, como se carregassem um significado que ela não conseguia entender completamente. Algo sobre elas parecia familiar, como se ressoassem em um lugar profundo dentro dela que ela havia esquecido. Ou que estava escondido. Alice tentou desviar o olhar, mas não conseguia. Dante a prendia, não só fisicamente, mas mentalmente, emocionalmente. Havia algo naquele homem que a puxava para ele, mesmo quando tudo dentro dela gritava para correr.

Ela sentiu seu corpo começar a ceder, o medo e a adrenalina lentamente se transformando em outra coisa. A proximidade dele, o calor que emanava de seu corpo, a maneira como ele a dominava com apenas um toque — tudo isso a deixava vulnerável, mas também estranhamente atraída. Dante a observava, seus olhos analisando cada reação, cada respiração acelerada que ela tentava controlar.

— Eu não sou sua — ela disse, tentando soar firme, mesmo que sua voz traísse o conflito interno que sentia.

Dante sorriu mais uma vez, e dessa vez o sorriso chegou aos olhos. Ele se aproximou ainda mais, sua respiração tocando o rosto dela, a distância entre eles quase inexistente.

— Você pode acreditar nisso agora — ele sussurrou, sua voz baixa e rouca, — mas eventualmente, você verá a verdade.

Antes que ela pudesse reagir, ele a soltou abruptamente, como se tivesse decidido deixá-la livre por enquanto. Alice cambaleou para trás, ofegante, seus olhos ainda fixos nele, confusa pela súbita mudança. Dante a observou por um longo momento, sua expressão calma, controlada, mas algo no fundo de seus olhos revelava que aquele jogo estava apenas começando.

— Eu vou te encontrar de novo, Alice. — A promessa na voz dele fez seu corpo inteiro se arrepiar.

E, com isso, ele se virou e desapareceu na escuridão do beco, deixando-a sozinha, tremendo — não de frio, mas de algo muito mais intenso, algo que ela ainda não sabia nomear.

Alice ficou ali, tentando recuperar o fôlego, sentindo que, de alguma forma, sua vida acabara de mudar para sempre.

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