A viagem de Alice durou algumas semanas, mas para Dante, cada dia sem ela parecia uma eternidade. Ele havia se acostumado a compartilhar todos os momentos com ela, e agora, em sua ausência, o silêncio parecia pesar de forma insuportável. Ele se entregava ao trabalho com mais intensidade, tentando preencher o vazio, mas não conseguia ignorar a saudade que crescia a cada dia.
Durante sua viagem, Alice mergulhou de cabeça em sua arte, explorando novas formas de se expressar e aprofundando seu entendimento sobre as emoções que a moviam. Ela visitou museus, galerias, e fez novas conexões com outros artistas que compartilhavam a mesma paixão pela criação. Ela começou a perceber algo novo dentro de si mesma. Talvez o que procurava não fosse apenas uma nova carreira ou um novo projeto, mas uma maneira de redescobrir quem ela realmente era fora da luta, fora dos traumas que haviam marcado seu passado.
O tempo longe de Dante a fez repensar sua vida, seus objetivos e, principalmente, o tipo de futuro que ela queria construir. Alice não estava mais apenas tentando sobreviver; ela queria viver plenamente, experimentar o mundo de uma forma que fosse exclusivamente dela. Mas ela sabia que isso significava mudanças, e talvez até mesmo abrir mão de algumas coisas que a mantinham presa ao passado.
Quando ela retornou, o encontro foi silencioso, mas repleto de uma tensão palpável. Dante a esperava no aeroporto, com o olhar fixo no horizonte, como se também estivesse buscando algo que não conseguia encontrar. Quando ela apareceu, a visão dela o fez parar por um momento. Ela estava diferente. Não no sentido físico, mas no jeito de se portar, como se algo em sua essência tivesse se transformado.
Alice sorriu timidamente ao vê-lo, mas o sorriso parecia carregar um peso invisível. Ela caminhou até ele, e seus olhares se cruzaram, como se ambos estivessem se perguntando se ainda eram as mesmas pessoas que se separaram semanas antes.
— Então, você voltou, — Dante disse, sua voz baixa, quase como se testasse a realidade daquele momento.
Alice assentiu, os olhos brilhando com uma mistura de emoções. — Voltei, mas não sou mais a mesma. E você? Como foi esse tempo sem mim?
Dante hesitou, seu peito apertando. Ele queria dizer algo profundo, mas as palavras não saíam. No fundo, ele sabia que algo havia mudado. Ele também não era mais o mesmo. A jornada que os dois haviam enfrentado os moldara, mas agora era hora de se perguntar o que fariam com essa mudança.
— Eu… — Dante começou, mas sua voz falhou. Ele respirou fundo, tentando se recuperar. — Eu senti sua falta, Alice. Eu sinto que perdi algo, como se tivesse deixado escapar uma parte de mim enquanto você estava fora.
Ela deu um passo mais próximo, tocando suavemente seu braço. — Eu sei. Eu também senti sua falta. Mas o que estou aprendendo é que a falta não é um vazio. Não precisa ser um buraco no qual você se perde. A falta é um espaço para nos reinventarmos.
Dante a observou atentamente, as palavras dela penetrando fundo. Ele sabia o que ela queria dizer, mas naquele momento, ele ainda estava com medo. Medo de que esse "recomeço" fosse mais do que ele podia suportar. A vida que ele conhecia, a vida ao lado de Alice, sempre fora marcada pela luta. A paz, por mais desejada que fosse, parecia quase irreal.
— Eu não sei o que isso significa, — ele admitiu, sua voz rouca. — Não sei o que esperar agora.
Alice sorriu, sua expressão tranquila. — Talvez isso signifique que precisamos parar de esperar. Precisamos viver. Não como soldados em uma guerra, mas como dois seres humanos que merecem experimentar a vida ao máximo, sem medo do que vem depois.
As palavras dela ecoaram em sua mente enquanto eles se afastavam do aeroporto, caminhando em direção ao futuro que ambos sabiam que ainda precisavam construir. Mas, ao contrário de antes, não havia mais pressa. Não havia mais essa urgência de resolver tudo ou encontrar uma resposta imediata. Havia apenas a certeza de que estavam juntos nesse recomeço, cada um com suas próprias perguntas e incertezas, mas também com o compromisso de continuar.
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Nos meses que se seguiram, Dante e Alice fizeram ajustes em suas vidas, mas agora com uma perspectiva diferente. Eles se permitiram ser mais do que aquilo que haviam sido em suas jornadas de sobrevivência. Alice se aprofundou ainda mais na pintura e começou a exibir suas obras em pequenas galerias, sentindo-se cada vez mais conectada ao que estava criando. Sua arte não era apenas uma forma de escapar; ela era uma expressão genuína de quem ela havia se tornado.
Dante, por sua vez, começou a dar palestras para grupos de apoio, mas, em vez de focar apenas na luta e na resistência, ele passou a enfatizar a importância do autocuidado, da paz e do perdão. Ele também se dedicou a ajudar em projetos comunitários, fazendo com que as pessoas pudessem se encontrar e se reconectar com suas próprias vidas.
E, aos poucos, eles encontraram um equilíbrio. A vida que agora compartilhavam era mais simples, mas também mais autêntica. Não havia mais a necessidade de se provar para o mundo ou de lutar contra forças externas. Agora, eles lutavam por algo mais importante: a verdadeira liberdade de viver sem os fantasmas do passado.
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Uma tarde, Alice entrou no escritório de Dante, segurando um envelope com um sorriso que ele ainda não conseguia decifrar completamente.
— O que é isso? — ele perguntou, curioso.
Ela entregou o envelope, e ele o abriu com cautela. Dentro, havia um convite para uma exposição internacional de arte, uma das mais prestigiadas do mundo.
— Você foi convidada para participar, — ele disse, surpreso. — Alice, isso é incrível!
Ela sorriu, mas a expressão dela era pensativa. — Eu sei. Mas não é só isso, Dante. O convite é uma oportunidade, mas também é um sinal. Significa que a jornada que comecei com a arte está me levando para lugares que eu nunca imaginei.
Dante a observou, sentindo uma onda de orgulho e, ao mesmo tempo, uma pontada de insegurança. — E o que isso significa para nós? Para o que estamos construindo?
Alice olhou para ele, seus olhos cheios de clareza. — Significa que, assim como eu, você também precisa seguir o seu próprio caminho. Não como parte de uma missão, mas como um ser humano que precisa ser inteiro. E, se estivermos juntos nesse caminho, será porque queremos, não porque precisamos.
Dante sorriu, agora entendendo. — Então, vamos caminhar juntos. Mas cada um em sua jornada. E, se nossos caminhos se cruzarem, será porque fomos nós que decidimos isso.
Alice assentiu. — Exatamente. O futuro é nosso para construir.
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Com aquele novo entendimento, Dante e Alice se deram permissão para viver plenamente, sem amarras, sem pressa. Eles sabiam que o futuro era incerto, mas, juntos, estavam preparados para seguir em frente, não mais como fugitivos do passado, mas como criadores de um futuro que só pertenciam a eles.
E, ao final, o que importava era que, finalmente, estavam livres para escolher.
ATÉ O PRÓXIMO CAPÍTULO BJSSS 🌹
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Sob o véu da Escuridão
RomanceDescrição: Em Sob o Véu da Escuridão, Alice Moraes sempre soube que havia algo de errado com sua vida, uma sombra constante que ela não conseguia compreender. Criada em um orfanato e agora com 25 anos, ela tenta manter uma vida simples, até que um e...