19 capítulo

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Mar é o lar

Cheguei em casa e não queria saber de mais nada, apenas me trancar no meu quarto. Como eu pude ser tão insultada assim? Nunca me senti tão humilhada. A tristeza era tão profunda que eu não conseguia imaginar algo pior do que aquilo.

Violet ficou comigo por um tempo, mas logo saiu, deixando-me um pouco sozinha. Eu me enrolei debaixo das cobertas, assistindo a alguns filmes enquanto comia sorvete de pistache. Era o que eu costumava fazer quando estava triste, afogando minhas mágoas na doçura gelada.

— Tem alguém aí? — ouvi a voz do meu pai, do lado de fora. — Filha, o que aconteceu?

— Não é nada, só quero ficar sozinha — respondi, abafada pela coberta.

— Deixa, Sr. Frank — escutei Vitório intervir. — Eu vou conversar com ela, pode deixar.

— Está bem — ouvi a porta se fechar e senti alguém sentar na cama.

— Loira? — Vitório me chamou, e eu puxei a coberta de cima do meu rosto.

— Eu não quero conversar — disse, mas ele ignorou minhas palavras, passando a mão pelo meu rosto e limpando um pouco do sorvete que devia estar ali.

— O que acha de darmos um mergulho? — ele sugeriu, com aquele jeito de quem sempre sabia o que fazer para me animar. — Prometo não fazer nenhuma piada, só vamos relaxar.

— A água deve estar gelada — murmurei, ainda desanimada.

— Vai ser divertido, a Violet também vai. — Ele sorriu. — Depois a gente termina esse sorvete rindo da Violet.

— Só se você me pagar um mega hambúrguer com... — comecei, mas ele me interrompeu.

— Com milkshake de Oreo, claro — ele completou, rindo.

— Tudo bem — falei, levantando da cama. — Deixa eu só colocar um biquíni.

Ele me abraçou antes de sair do quarto. — Obrigada — disse, sentindo o conforto da presença dele.

— Você vai ficar bem. Nós estamos aqui com você — ele sorriu, passando a mão pelo meu cabelo. — Saiba que você é incrível, e nem eu nem a Violet vamos te deixar sozinha.

— Obrigada, Vitório — falei, desfazendo o abraço. — Me espera lá embaixo.

Depois de me trocar, saímos os três, parando na beira da praia. A brisa do mar acariciava meu rosto, e naquele momento me senti em casa, como se todo o peso nas minhas costas estivesse desaparecendo.

— No três? — Violet perguntou, animada. — Um...

— Dois! — Vitório completou, olhando para mim com um sorriso encorajador. Respirei fundo, sentindo o olhar deles sobre mim, e segurei suas mãos.

— Só nós três — ele disse, olhando para Violet.

— Como nos velhos tempos — ela sorriu, e eu fechei os olhos, lembrando de quando éramos crianças.

— TRÊS! — gritei, e corremos juntos em direção à água.

O mergulho na água fria foi revigorante. Cada gota parecia levar embora um pouco da minha dor, como se o oceano estivesse me purificando. A lua brilhava no céu, refletindo nas ondas suaves, e senti a paz me invadindo. A tristeza foi sendo substituída por uma leveza, uma alegria silenciosa.

O oceano...

{...}

Mais tarde, eu estava sentada na areia, enrolada em uma toalha, observando o mar. Violet e Vitório já haviam ido embora, mas eu fiquei, apreciando a tranquilidade da praia à noite. Mesmo sozinha, sentia que estava sendo observada, protegida por eles de alguma forma.

Fechei os olhos, e a lembrança do dia em que cheguei aqui pela primeira vez surgiu na minha mente. Naquele dia, eu estava tão preocupada e decidida, mas em apenas um mês tudo havia mudado. Coisas inesperadas aconteceram, e eu acabei me apaixonando por alguém que nunca imaginei conhecer.

— Posso? — ouvi a voz de Sam ao meu lado, pedindo permissão para se sentar.

Ele se acomodou ao meu lado, e voltamos a olhar o oceano. Eu sentia seus olhos sobre mim antes de se fixarem novamente no mar. Ele suspirou, parecendo aliviado, e eu sorri, sabendo que ele estava preocupado comigo.

— Estou bem — disse, sem olhar para ele. — Sempre fico.

— Eu fiquei tão preocupado — ele murmurou, baixando a cabeça, forçando um sorriso.

— Eu sei. — Respondi e, de repente, ele me envolveu em um abraço apertado.

— Desculpa, Hanna! — ele choramingou, sua voz embargada.

— Não foi sua culpa — sorri, tentando tranquilizá-lo. — Eu entendo o lado do David, não guardo rancor dele.

— Mas ele foi tão cruel com você, anjo — Sam disse, afastando-se um pouco, sua mão pousando delicadamente em meu rosto.

— Eu sei. Mas eu não o culpo — sorri novamente. — Às vezes, fazemos coisas sem pensar nas consequências ou nas pessoas que podemos machucar. Mas isso não nos torna pessoas horríveis. Conheço o David, e sei que ele falou tudo aquilo com raiva.

Sam me olhou, admirado, e perguntou:

— Como alguém pode ter feito tanto mal a você?

— Infelizmente, esse é o gênio de alguns seres humanos — suspirei. — Nossa humanidade está se tornando cada vez mais cruel e desprovida de empatia. Mas devemos responder à maldade com bondade, não com mais amargura. — Disse, e antes que pudesse dizer mais, ele me beijou.

Foi um beijo doce, suave e necessário. Um beijo que trazia conforto, sem pressa, sem medo. Tinha o gosto de lar.

Continua...

𝑵૦𝘚𝘚օ 𝞔𝚃Ꮢ𝞔Ꮢ𝑵૦ 𝚅𝞔Ꮢ𝔸̃օOnde histórias criam vida. Descubra agora