Capítulo 9

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Assim que me levantei, fui direto à mesa de reunião do quarto andar para tomar café da manhã. No caminho fiquei pensando se eu deveria mesmo tomar café lá. Talvez eu deva ir ao refeitório?
Chegando à sala, Tohru já estava sentado na ponta da mesa, também vi Nick, Breezy e outros caçadores de primeira classe e classe especial. A mesa é linda e feita de madeira envernizada, deve ter uns seis metros de comprimento e tem vinte e quatro cadeiras em sua volta. Sempre sobra algumas cadeiras vazias pois nem todos tomam café ao mesmo horário, também porque somos doze caçadores de primeira classe, nove de classe especial além de Tohru. Somando assim vinte e dois de nós.
Puxei uma cadeira na outra ponta da mesa, o mais longe que eu pude ficar de Tohru. Sem perceber fiquei longe de Breezy também, senti ela olhando para mim, mas evitei olhar para ela.
O clima ali estava péssimo, e eu tenho certeza de que os outros caçadores sabiam que Tohru havia brigado comigo. Percebi que eles estavam cochichando entre eles até eu me sentar. Um silêncio irritante tomou conta do ambiente assim que me sentei.
Me servi de um pedaço de torta de chocolate e uma xícara de café com leite. Comecei a comer, sem tirar os olhos do meu prato, não queria olhar para ninguém. Tinha a impressão de que todos estavam olhando para mim, e aquele silêncio na mesa já estava me deixando maluca.
Nick se espreguiçou na cadeira e bocejou, quebrando o silêncio.
— Lindo dia! Não é, pessoal?! — disse Nick, sorrindo e olhando para todos os lados, esperando que alguém respondesse.
Eu movi os olhos em direção a ele, sem levantar meu rosto e sorri, mas logo voltei meus olhos para o prato e continuei comendo.
— Que idiota — murmurou Amy.
Amy é uma caçadora de classe especial e é assistente de Tohru. Ela está sempre auxiliando ele em quase tudo, inclusive no laboratório. Se Tohru estiver ausente, é ela quem assume a liderança até ele retornar. Amy tem longos cabelos pretos, olhos azuis como o céu e seus lábios são vermelhos e carnudos. Ela aparenta ser muito reservada pois não é de falar nada além do necessário, a não ser que seja conveniente para ela. Sempre tive a impressão de que ela não vai com minha cara. Mas por quê? Pode ser porque eu sou uma híbrida, e ela não confia em mim. Mesmo assim, tento me dar bem com ela, mesmo ela me ignorando todas as vezes que tentei falar com ela.
— O que há com vocês? Eu hein! — disse Nick, enquanto pegava uma xícara de café.

— Vejo que está animado

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— Vejo que está animado. Espero que não se atrase para o seu turno de hoje, em vez de ficar tagarelando pelos corredores — disse Tohru, sem nem levantar os olhos para falar com Nick.
— Eu sei, eu sei! — disse Nick, sorrindo e levando a xícara de café até a boca. Enquanto ele bebia, a xícara escorregou de seus dedos, fazendo o café derramar em suas mãos e em sua camiseta. — Ai, ai, ai! Quente, quente, quente! — gritou ele, todo atrapalhado, enquanto colocava a xícara na mesa, ao mesmo tempo em que chacoalhava sua outra mão, depois conferiu sua camiseta que acabou manchando de café.
Breezy riu baixinho, juntamente com vários caçadores ali. Eu queria rir, mas me contive.
— Você é um idiota! — disse Tohru, erguendo os olhos para Nick.
— Eu sei! — disse Nick, se pondo em pé. — Eu vou me limpar — murmurou ele enquanto saía da sala.
Outros caçadores também saíram ficando apenas eu, Breezy, Tohru e Amy.
Olhei para Breezy e ela estava quase terminando de comer. Queria conversar com ela, mas perto do Tohru eu não me sentia bem para abrir a boca e dizer alguma coisa.
— Eu preciso ir levar o café da manhã para a monstrinha — disse Breezy, se levantando da cadeira.
— Vou com você — falei, enquanto empurrava meu prato na mesa.
— Tudo bem — concordou ela.
Tohru ficou ali com Amy e não disse uma palavra quando me retirei. Pensei que ele iria me lembrar de voltar até a floresta para enfrentar aquele Slayer outra vez. Mas o que não sai da minha cabeça é que se eu não resolver esse problema, serei rebaixada para segunda classe.
Fui até o refeitório com Breezy sem dizer nada no caminho. Chegando lá, ela foi escolher algo para levar de café da manhã para Sheal.
— Breezy! — a chamei, um pouco envergonhada.
— Pode falar — disse ela, enquanto pegava uma bandeja em suas mãos.
— Me desculpa por ontem! Eu estava com a cabeça cheia! Aconteceram tantas coisas de uma vez! Primeiro eu...
— Calma aí, dona Ayumi! — pediu ela, me interrompendo. — Está tudo bem! Não precisa ficar desesperada assim.
— Não estou desesperada — falei, enquanto ajeitava minha franja com minha mão esquerda.
— Tohru discutiu com você de novo, não é?
— Sim — assenti com a cabeça, evitando olhar para os olhos dela.
— Estou feliz de você voltar inteira da floresta — disse ela, enquanto colocava um pão e uma maçã na bandeja. — E eu quero te pedir desculpas também! Eu não devia ter te tratado daquela forma! Me senti mal depois daquilo!
— Está tudo bem! — sorri para ela, e ela me devolveu o sorriso. — Você vai levar apenas isso para Sheal?
— Sim — disse ela, enquanto sorria.
— Por causa disso que ela não te dá nenhuma informação.
— E você queria que eu levasse carne para ela?
— Eu levei ontem à noite, e ela me deu várias informações — falei enquanto olhava para o lado, segurando minha risada.
— O quê?! Você deu carne para ela?! Qual o seu problema?! — ela ficou com o corpo enrijecido.
— Calma! Você não ouviu a parte que eu disse sobre ela ter me dado várias informações?
— O problema é que ela pode recuperar as forças se comer carne.
— Mas que diferença vai fazer se ela recuperar as forças? Dentro da cela não tem como ela usar suas habilidades.
— Continua sendo perigoso! O que você deu para ela?
— Quase dois quilos de carne assada da cozinha, e... um coelho... vivo — sorri envergonhada para ela.
Breezy ficou paralisada por alguns segundos: estava boquiaberta, enquanto me encarava.
— Eu não acredito nisso! Ayumi, você está ficando doida? Onde está sua cabeça?!
— Será que dá para você parar? Não quer saber o que ela me falou?
— Está bem! — ela respirou fundo, e continuou: — Pode falar.
— Ela disse que Darkhand não possui um esconderijo fixo; ele está migrando a todo momento para lugares diferentes.
— E você acredita nela?
— Sim! Ela pareceu muito sincera.
— Mais alguma coisa?
— Darkhand provavelmente pensa que ela está morta, do contrário, ele já teria atacado a Muralha para resgatá-la, mas ela falou que ele pode atacar novamente há qualquer momento com um exército ainda mais forte do que antes.
— Legal! Agora você me deixou com medo!
— Não é minha culpa! — arqueei minha sobrancelha.
Ela me deu um olhar engraçado de desdém.
— Idiota! — xingou ela.
Revirei meus olhos, então perguntei:
— Você já ouviu falar sobre a forma humana que os Slayers possuem?
— Não! — respondeu ela, franzindo suas sobrancelhas, e me encarando com um olhar confuso. — O que é?
— É uma forma que alguns Slayers possuem, e podem se transformar de uma forma que os deixam parecidos com humanos. Sheal disse que Darkhand possui essa forma.
— Sério?! E isso é perigoso?
— Talvez! Acho que o perigo real é não conseguir identificá-lo como um Slayer, e acreditar que seja apenas um humano.
— Você descobriu muita coisa. Acho que eu preciso dar carne para Sheal. Talvez assim ela me dê mais informações — disse ela, enquanto sorria.
— Não era você quem estava com medo de fazer isso? — a encarei.
— Eu só estou brincando! Vamos logo, levar o café da manhã para ela!
— Um pãozinho e uma maçã? Sério?
— Você está com pena dela? — indagou Breezy, me encarando.
— Talvez! Eu penso que se fosse eu... não iria querer apenas isso.
— Você não é igual a ela. Você não merece estar presa. Ela sim. Tem muita diferença entre vocês.
— É! Talvez você esteja certa — desviei o olhar para o lado.
— Vamos então?
— Pode ir, eu não quero vê-la. Apenas vim junto porque queria conversar com você.
— Está bem! A gente se vê depois?
— Sim — acenei com a cabeça para ela. — Até depois!
— Até! — disse ela, saindo pela porta.
Pensei em ir para meu quarto, mas lembrei das palavras de Tohru. Preciso resolver aquele problema, ou serei rebaixada para segunda classe. Lembrei também do sonho que tive com ele. Aquilo foi perturbador! Não parecia ser ele.
Saí da Muralha e fui em direção à floresta. Corri até chegar perto do rio. Fiquei pensando o caminho inteiro do porquê de eu ter que fazer isso. Por que Tohru está sendo assim tão intolerante? Ele poderia mandar alguém para me ajudar. Ou ele mesmo poderia conferir a força do Slayer. Mas ele quer que eu venha sozinha. Não entendo o motivo! Se ele disse que sempre esteve pronto para me matar, então talvez ele não se importe comigo caso eu seja morta!
Perto do rio tem algumas montanhas com uma bela vista para a floresta e para o próprio rio. Atrás dela tem um enorme deserto de rochas e pequenas montanhas. Subi na parte mais alta da montanha e me sentei no chão. Me encolhi com o queixo apoiado entre meus joelhos e abracei minhas pernas, enquanto olhava para a paisagem. Eu queria chorar! Queria ficar sozinha, pensando sobre tudo! Será que eu deveria ir embora? Afinal... para Tohru não há diferença se eu estiver viva ou morta! Ele não se importa! Talvez eu seja apenas uma aberração! Talvez eu... deveria estar morta desde aquele dia! Uma lagrima escapou de um dos meus olhos enquanto eu olhava para a paisagem. Eu odiava me sentir assim! Não queria ter que ficar chorando o tempo todo...
— Oi! Você por aqui? — uma voz falou atrás de mim.
Virei meu rosto sem me desfazer da posição que eu estava para olhar quem era. Tinha que ser logo ele: o Slayer que me derrotou duas vezes.
Voltei minha cabeça para apoiar meu queixo em meu joelho, e continuei olhando para as árvores. Limpei minhas lágrimas e respirei fundo.
— O que você quer? — perguntei com a voz baixa.
— Achei que estivesse me procurando mais uma vez.
— Não estou!
— Você está bem? — perguntou ele, enquanto se sentava ao meu lado.
— Você se importa? — questionei, virando o rosto para ele.
Ele ficou em silêncio, então voltei meus olhos para a paisagem.
— Me chamo Tayden! — revelou ele.
Olhei para ele surpresa por finalmente saber seu nome. Ele deu um pequeno sorriso para mim e então virou seus olhos para a paisagem.
— Azuki Ayumi! — falei olhando para o rio.
— É um lindo nome, Azuki!
— Pode ser apenas Ayumi — pedi, olhando para ele.
— Está bem, Ayumi! Por que estava chorando?

                             Tayden
— Eu não estava chorando! — desviei o olhar
— Não precisa ter vergonha de falar sobre isso

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                             Tayden

— Eu não estava chorando! — desviei o olhar
— Não precisa ter vergonha de falar sobre isso.
— Eu não quero conversar sobre isso!
— Está bem! Quer conversar sobre o que?
— Você quer mesmo conversar comigo?
— Eu sei que não é fácil confiar em um Slayer, mas eu sinto que você também não é humana.
— Por quê? — fiquei surpresa.
— Seus olhos são violetas, você manipula água, e creio que isso não seja uma habilidade humana por ser uma habilidade elemental. E você transformou suas unhas em garras quando arranhou o rosto da Hyara. Um humano não transforma unhas em garras, não possui habilidades de elementos da natureza, e humanos não possuem olhos violetas como os seus.
Fiquei boquiaberta ao ouvir ele dizer tudo isso. Ele analisou muito bem minhas habilidades e características. Não que seja difícil de notá-las. Na verdade, sempre fui muito chamativa por causa de minha aparência.
— Sou uma mestiça. Meu pai era um humano e minha mãe uma Slayer — falei olhando para baixo.
— E por que é membro dos caçadores?
— Meus pais foram mortos quando eu era criança. O líder dos caçadores me salvou e me levou para a Muralha. Cresci ali, por isso me tornei uma caçadora.
— Entendo! Deve ser muito legal ser uma mestiça!
— Você não acha que sou uma aberração?
— Claro que não! Por que eu acharia isso?
— Por nada, esquece!
— Claro!
Um silencio tomou conta do lugar por alguns minutos; o vento soprou, assoviando pelo lugar, e eu respirei bem fundo, aproveitando aquele clima.
Estava me sentindo um pouco melhor, então resolvi contar para ele o que havia acontecido.
— Eu briguei com o líder dos caçadores, o mesmo que me salvou — falei, olhando para ele. — Por isso eu estava daquele jeito.
— É o mesmo que mandou você me matar? — perguntou ele.
Desviei o olhar por um momento e então respondi:
— Sim! Esse foi o motivo da briga. Eu não consegui completar a missão que ele me deu. Posso até ser rebaixada por causa disso.
— Então quer dizer que é minha culpa?
— Não! Claro que não! Eu não posso te derrotar, então não vou me arriscar mais uma vez. Se ele quiser me rebaixar... então que seja!
— Então quer dizer que agora acredita em mim?
— Talvez! — murmurei baixinho. — Você não parece ser alguém ruim.
Só espero que eu não esteja enganada.
— Nem eu, nem Hyara somos ruins.
— Ela me atacou!
— Ela te atacou porque você me atacou. Hyara é muito protetora.
— Sério?! Que fofa! Conseguiu uma namorada que cuida de você.
— Ela não é minha namorada! — disse ele, desviando o olhar.
Tive a impressão de que ele ficou envergonhado.
Nesse momento, Tayden e eu vimos Hyara correndo pelo deserto de rochas em nossa direção. Assim que ela se aproximou, Hyara tentou falar algo, mas sua voz não saiu, pois ela estava muito cansada.
— Tenta acalmar sua namorada — falei olhando para Tayden.
— Ei! Já falei que ela não é minha namorada! — disse ele, com uma expressão de vergonha, mas logo voltou para sua expressão fria, tentando disfarçar. — É apenas uma amiga.
— Entendi! — falei olhando para ela. — Você está bem? — perguntei.
— Gente! — disse ela, enquanto recuperava o folego. — Tem um exército de Slayers vindo naquela direção! — ela apontou o dedo para o lado do deserto de rochas.
— O quê?! — Tayden e eu nos expressamos ao mesmo tempo.

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