A passagem se estreitava a cada passo, como se as próprias sombras estivessem se fechando ao redor de Narciso e Oliver. O silêncio era absoluto, interrompido apenas pelo eco de suas respirações e o som suave de seus passos na terra escura. Narciso sentia o peso de algo invisível sobre ele, uma presença que parecia espreitá-lo a cada movimento.
Ao redor, a paisagem era distorcida e perturbadora; reflexos disformes surgiam em fragmentos de espelho quebrado que se erguiam do chão, mostrando imagens confusas e fragmentadas. Em algumas dessas imagens, Narciso via seu próprio rosto se desvanecendo, como se estivesse sendo consumido pela escuridão. Em outras, ele via sombras do passado — lembranças de momentos em que sua beleza havia sido sua prisão.
— Narciso... você sente isso? — sussurrou Oliver, o rosto tenso enquanto olhava ao redor, tentando entender o que estava acontecendo.
Narciso assentiu, a mão segurando o braço do amigo em um gesto de segurança.
— É como se... algo nos chamasse — disse ele, sua voz baixa. — Acho que estamos perto. Perto dela.
A sensação de ameaça crescia a cada passo, uma energia pulsante que parecia atrair Narciso e, ao mesmo tempo, repelir Oliver, como se apenas ele fosse destinado a confrontar o que havia à frente.
Após o que pareceram horas de caminhada em meio à escuridão e aos reflexos fragmentados, eles finalmente chegaram a uma caverna. No centro, uma luz violeta emanava, banhando as paredes com um brilho fantasmagórico que fazia o ambiente parecer ainda mais sobrenatural. Narciso e Oliver se aproximaram com cautela, seus corações acelerados pela expectativa e pelo medo do que estava por vir.
Então, uma figura começou a emergir da escuridão. Ela parecia flutuar no ar, envolta em um manto que ondulava como fumaça. Seu rosto era ao mesmo tempo belo e ameaçador, com traços delicados, mas frios. Seus olhos, de um violeta intenso, encararam Narciso com uma expressão de indiferença e desprezo.
— Então, finalmente você chegou até mim, príncipe Narciso — disse a fada violeta, sua voz ecoando pela caverna com uma suavidade cruel. — Eu esperei tanto tempo por este encontro.
Narciso manteve o olhar firme, tentando não demonstrar o medo que sentia.
— Estou aqui para enfrentar o que você me impôs — disse ele, a voz decidida. — Estou aqui para quebrar essa maldição.
A fada sorriu, um sorriso que não trazia alegria, apenas frieza.
— Tão bravo... tão ingênuo — murmurou ela, seu tom gotejando desprezo. — Você acha que pode simplesmente desfazer o que eu lancei sobre você? Acha que a beleza e o amor vão libertá-lo tão facilmente?
Oliver, percebendo o tom provocativo da fada, deu um passo à frente, mas Narciso ergueu a mão para impedi-lo. Este era um confronto que ele precisava enfrentar sozinho.
— Você não pode me intimidar — afirmou Narciso, tentando manter a confiança. — Eu enfrentei minhas sombras, e sei que posso ser mais do que a beleza que me aprisiona.
A fada deu uma risada suave, mas havia um toque de tristeza em seus olhos.
— Sabe, Narciso, você e eu não somos tão diferentes — disse ela, seu tom agora mais frio, mas com uma ponta de amargura. — Eu também fui julgada. Tive minha própria beleza, mas ela nunca foi aceita. Para alguns, eu era apenas uma aberração. Tanto no mundo mágico quanto no mundo humano, eu era sempre... diferente.
Narciso e Oliver trocaram um olhar, surpresos com a revelação. Mas a fada não demonstrou compaixão em seu discurso; ela continuava a encará-los com um olhar que oscilava entre o desdém e a mágoa.
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Narciso
Fantasía"Às vezes, é no reflexo de nossas escolhas que encontramos quem realmente somos, e não no espelho que nos encara." No reino de Smeron, um príncipe nasce sob uma beleza deslumbrante - e uma maldição fatal. Condenado a nunca se ver, Narciso vive em um...