Capítulo 6: No Caminho das Sombras

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A manhã começava a despontar enquanto Narciso e Oliver avançavam pela floresta, o mapa da fada amarela guiando seus passos. A paisagem ao redor deles mudava gradualmente; a luz do sol que filtrava pelas árvores tornava-se mais pálida, e as folhas verdes pareciam escurecer, assumindo tons quase acinzentados. O ar carregava uma sensação pesada, como se uma presença invisível observasse cada movimento deles.

— Essa floresta parece diferente do que lembro — comentou Oliver, seus olhos atentos a cada detalhe ao redor.

Narciso olhou para o mapa, tentando decifrar o caminho. O papel era antigo, com marcas de tempos passados, e as instruções pareciam se transformar diante de seus olhos, como se o próprio mapa estivesse vivo.

— Acredito que estamos chegando perto do desfiladeiro que a fada mencionou — disse Narciso. — É o último ponto antes de entrarmos no Círculo das Sombras.

Conforme avançavam, Narciso começou a perceber formas distorcidas entre as sombras das árvores. Eram pequenas criaturas, talvez espíritos da floresta, que os observavam com olhos brilhantes. Algumas tinham formas definidas, lembrando animais, enquanto outras pareciam apenas feixes de luz cintilante. Narciso e Oliver seguiam em frente, mesmo sentindo o peso dos olhares curiosos e, talvez, ameaçadores.

Finalmente, chegaram ao desfiladeiro. A passagem era estreita e escura, cercada por paredões de pedra cobertos de musgo negro. No meio do caminho, uma figura misteriosa os aguardava. Era um ser alto e esguio, com pele cinza e olhos brilhantes como brasas, e uma expressão que misturava mistério e desdém. Ele segurava um cajado retorcido, que parecia pulsar com uma energia própria.

— Quem se atreve a cruzar o caminho das sombras? — perguntou a criatura, sua voz ecoando com uma vibração sombria.

Narciso deu um passo à frente, tentando manter a postura confiante.

— Sou Narciso, príncipe de Smeron, e este é meu amigo Oliver. Viemos em busca do Círculo das Sombras para enfrentar a fada violeta.

A criatura inclinou a cabeça, analisando-os de cima a baixo com olhos penetrantes.

— Todos aqueles que buscam o Círculo devem primeiro passar por mim — disse o guardião, sua voz ganhando um tom ameaçador. — Vocês terão que resolver um enigma. Falhem, e a passagem lhes será negada para sempre.

Oliver trocou um olhar de preocupação com Narciso, mas o príncipe assentiu, aceitando o desafio.

— Estamos prontos — disse Narciso, sua voz firme.

O guardião ergueu seu cajado, e uma luz espectral brilhou ao seu redor enquanto ele entoava o enigma:

    "Em um mundo de reflexos, eu sou a verdade que foge de ti.
No brilho da luz, revelo o que não se vê, mas nunca o que está ali.
Para libertar o teu caminho, diz-me quem sou eu."

Narciso refletiu sobre as palavras, sentindo uma familiaridade incômoda. Era como se o enigma falasse diretamente com ele, testando sua compreensão de si mesmo e da maldição que carregava.

Após alguns instantes de silêncio, Narciso olhou para Oliver, seus olhos refletindo uma súbita compreensão.

— A resposta... é a sombra — disse Narciso finalmente, sua voz carregada de certeza. — A sombra é o reflexo que revela o que não vemos diretamente, mas sempre está presente.

O guardião observou Narciso por um momento antes de sorrir levemente.

— Muito bem, príncipe de Smeron — disse ele, dando um passo para o lado e permitindo que os dois jovens passassem. — A sombra é sua aliada e sua maior inimiga. Lembre-se disso quando estiver dentro do Círculo das Sombras.

NarcisoOnde histórias criam vida. Descubra agora