O Liminal.

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Dentro da cela distorcida e sempre instável, o grupo trabalhava em silêncio, trocando olhares rápidos enquanto exploravam cada detalhe da estrutura ao seu redor. Hannah, analisando as irregularidades na parede, percebeu um ponto onde as pedras pareciam pulsar, como se houvesse uma rachadura na própria estrutura dimensional que mantinha a cela.

— Olhem aqui. Sussurrou ela, apontando para o local. — Esse ponto parece diferente... está se movendo, quase como se estivesse respirando.

Tony se abaixou ao lado dela, estudando a pequena falha. Era quase invisível, mas, se alguém olhasse com atenção, veria uma vibração fraca e pulsante, uma espécie de janela para algo além das paredes. Ao lado de Tony, Dylan observou a anomalia, sentindo uma mistura de esperança e urgência.

— Se essa rachadura se ampliar só um pouco, acho que podemos passar por ela. Murmurou Dylan, tocando de leve na falha. Ao seu toque, as bordas ondularam como se a realidade estivesse afrouxando a sua rigidez.

Ethan franziu a testa, tentando acompanhar o que os outros estavam vendo.

— Mas como vamos fazer isso? Não temos como saber se vai abrir mais ou se está diminuindo.

— Acho que precisamos esperar. Respondeu Elena. — Essa distorção, como tudo aqui, deve seguir um ciclo. A falha vai abrir e fechar em intervalos, mas precisamos observar e entender o padrão.

Dylan observou a vibração na parede e notou que, ao longo de alguns minutos, ela parecia pulsar mais forte e depois diminuir. Como se seguisse um ritmo, uma sequência quase imperceptível.

— Vamos dar um tempo e observar. Quando o ciclo se abrir o suficiente, vamos tentar passar.

Eles se alinharam junto à parede, cada um estudando a pulsação, o movimento mínimo da fenda. O tempo se arrastava, e a tensão aumentava enquanto eles esperavam pelo momento certo.

Finalmente, a vibração começou a acelerar, e a fenda parecia expandir-se. Cada um deles se posicionou, atentos e prontos.

— Agora! Disse Tony, num sussurro urgente.

Um por um, eles começaram a esgueirar-se pela brecha crescente, cada segundo crucial enquanto atravessavam o espaço distorcido. E, quando o último deles conseguiu passar, a fenda tremeu e se fechou com um baque silencioso atrás deles.

Num piscar de olhos, a realidade deu lugar ao vazio. As luzes que restavam no palácio piscaram em um estalo que ressoou em ecos surdos, e, quando o brilho retornou, cada um deles estava só, transportado para um cenário completamente estranho.

Dylan abriu os olhos e se viu em uma praia. A areia era fria e fina sob seus pés, mas havia uma inquietude indescritível no ar. Guarda-sóis escuros e caídos se estendiam ao longo da costa, como sombras fixas de uma festa que nunca aconteceu. A brisa era densa, pesada, e cada passo o fazia sentir como se algo invisível o seguisse. Virando-se rapidamente para trás, viu apenas uma extensão vazia e sombria, mas o frio na espinha não o deixava.

Hannah despertou em um parque de diversões que parecia saído de um sonho brilhante, impecável, com cores vivas. Roda-gigante, carrossel, e um trem-fantasma giravam e brilhavam como se houvesse centenas de visitantes. Mas tudo estava vazio. Os brinquedos se moviam em ciclos constantes, cada um com um som mecânico que ecoava. Uma sensação crescente de isolamento e perplexidade envolvia Hannah. A ausência de qualquer presença humana, a repetição automática dos brinquedos... tudo parecia montado para observá-la.

Ethan piscou e viu que estava em um parque de diversões também, mas, este era diferente, como uma versão distorcida do cenário de Hannah. Seu parque estava coberto de ferrugem, decadente, e o céu acima parecia tingido de um tom roxo-cinzento. Brinquedos enferrujados rangiam no vento, e sombras passavam por trás deles. Sentia os olhares furtivos, movimentos no canto do olho, mas quando se virava, tudo estava quieto. A atmosfera era densa, cheia de uma expectativa desagradável, como se algo estivesse à espera de seu próximo movimento.

A Sociedade de Verdes PradosOnde histórias criam vida. Descubra agora