Kiara.Era uma tarde fresca de outono. As folhas caíam suavemente das árvores, dançando ao sabor do vento, enquanto o céu começava a se tingir de laranja e dourado. Eu estava com o grupo da igreja, e decidimos aproveitar o fim do dia para espalhar alguns folhetos sobre Jesus. Eram mensagens simples, com palavras de conforto e versículos, coisas que poderiam tocar o coração de alguém no meio da correria cotidiana. Éramos poucos, mas a vontade de compartilhar o que conhecíamos de Cristo era forte, e aquilo sempre me trazia paz.
Estávamos em uma das avenidas mais movimentadas do centro, e cada pessoa que passava parecia trazer sua própria pressa e preocupação. Distribuir esses papéis me lembrava do propósito que havia em cada um de nós, e eu sempre orava baixinho para que, mesmo em meio ao trânsito da vida, uma dessas mensagens pudesse trazer algum conforto, uma luz para alguém.
Me aproximei de uma senhora de cabelo grisalho e sorriso gentil e lhe ofereci um folheto. Ela pegou com gratidão, sorrindo e agradecendo baixinho. Aquele simples “obrigada” aqueceu meu coração. Senti a presença de Deus naquela simplicidade. Muitas vezes era só isso que alguém precisava: uma palavra, um abraço, um sinal de que não estavam sozinhos.
Continuei caminhando, deixando os papéis nas mãos de quem parecia aceitar. Larissa e Louise estavam em outra calçada, conversando com um casal. Eu estava distraída, olhando para elas de longe, quando virei de repente e esbarrei em alguém.
O impacto foi mais forte do que eu esperava. Dei um passo para trás, surpresa e meio atordoada, e antes que pudesse me desculpar, ouvi a voz de um homem.
“Olha por onde anda, tá bom?” Ele disse, o tom irritado.
Levantei o olhar e fiquei meio sem palavras. À minha frente estava um rapaz alto, com os cabelos um pouco bagunçados e uma expressão fechada. Ele me encarava com impaciência, claramente esperando que eu saísse do caminho.
“Ah… desculpa,” murmurei, tentando ser educada.
Ele bufou, cruzando os braços. “As pessoas não sabem mais andar sem esbarrar nos outros, é isso?”
Seu tom ríspido me pegou de surpresa. Normalmente, eu não me incomodaria, mas algo naquele momento parecia diferente. Tentei observar melhor seu rosto, seus olhos, e algo neles chamou minha atenção. Eram olhos profundos, escuros, mas havia algo escondido neles, um peso que eu reconhecia de alguma forma, uma tristeza camuflada sob a postura indiferente.
Por um instante, nossos olhares se cruzaram. Era apenas um segundo, mas foi o suficiente para sentir algo estranho no meu coração, como se uma conexão silenciosa tivesse se formado ali, sem que eu soubesse como ou por quê.
“Foi mal. Realmente não queria esbarrar em você,” disse, tentando desfazer o clima tenso. “A gente só tá distribuindo umas mensagens de fé…”
Ele revirou os olhos. “Mensagens de fé, é?”
Assenti, sem jeito. “Sim, são versículos e palavras de esperança, sabe? Ajudam as pessoas a se sentirem melhor.”
Ele riu, mas era um riso amargo. “Tá bom… então dá aí um desses papéis. Vamos ver se eles fazem algum milagre.” Estendeu a mão, e eu hesitei por um segundo, sem entender se ele falava sério ou só para zombar.
Entreguei um folheto, observando enquanto ele o pegava com desprezo e olhava para ele rapidamente, antes de amassar e colocá-lo no bolso. “Pois é, boa sorte aí, viu? E tenta não esbarrar em mais ninguém.” Ele disse, virando-se para continuar seu caminho.
Fiquei parada por alguns segundos, observando enquanto ele se afastava. Algo em mim queria chamar por ele, tentar falar mais, mas ele desapareceu rápido no meio das pessoas, e eu não quis insistir. Senti uma pontada de frustração, mas ao mesmo tempo, um sentimento diferente, uma espécie de compaixão inesperada. Quem era ele? Por que a atitude rude dele parecia esconder algo mais profundo?
“Kiara!” A voz de Larissa me despertou dos meus pensamentos. Ela e Louise se aproximaram, ambas com sorrisos curiosos. “Tudo bem? A gente viu que você esbarrou em alguém…”
Sorri, tentando disfarçar o quanto aquele momento tinha me afetado. “Foi só um rapaz, nada demais. Ele só ficou meio irritado.”
Larissa arqueou as sobrancelhas, divertida. “Meio irritado? Você ficou parada olhando pra ele como se tivesse visto um fantasma!”
Soltei uma risada leve, meio envergonhada. “Foi só estranho… ele parecia tão… sei lá, triste.”
Louise colocou a mão no meu ombro, com um sorriso compreensivo. “Talvez ele precise do que estamos tentando compartilhar.”
Balancei a cabeça, ainda sentindo o peso daquele olhar que ele me lançou. “Sim… foi isso que pensei também. Acho que vou orar por ele.”
Ficamos um tempo em silêncio, e eu senti uma paz crescer em mim, como se Deus estivesse confirmando algo que meu coração já sabia. Era só um encontro rápido, mas algo me dizia que talvez não fosse a última vez que veria aquele rapaz. Mesmo sem saber o que isso significava, eu sentia que havia algo maior por trás daquele esbarrão.
Respirei fundo e continuei a caminhada com Larissa e Louise, entregando os últimos folhetos. Enquanto fazia isso, uma prece silenciosa começou a crescer em meu coração. Eu sabia que Deus podia fazer algo na vida dele, e talvez — só talvez — Ele quisesse me usar para isso.
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Um pouco grosso noss garoto descontrolado né?
foi isso galera! até a próxima 🙌🏻