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Kiara.
Era o segundo dia que aquele rapaz misterioso aparecia na cafeteria. Eu o notei assim que ele entrou, carregando aquela mesma expressão fechada de antes, mas algo em seu olhar parecia mais pesado. Ele veio até o balcão e pediu um café, e eu tentei ao máximo manter a serenidade. Havia algo de incomum nele, uma tensão que me deixava intrigada.
Senti que precisava dizer algo, então respirei fundo e resolvi tentar. “Se precisar de alguém para conversar, estou aqui,” ofereci, mantendo o tom o mais gentil possível.
Ele soltou uma risada seca, que me pegou de surpresa. “É isso, então? Garota certinha da igreja, atrás do balcão, achando que pode me ajudar só porque estou aqui?”
O tom dele era frio, mas havia algo além da irritação ali, como se ele estivesse usando as palavras para se proteger de algo que o incomodava profundamente. Eu permaneci calma, sem desviar o olhar.
“O que é, você quer ser minha ‘amiga’?” ele continuou, com uma ponta de sarcasmo na voz. “Ou vai dizer que quer que eu vá para sua casa depois do trabalho? Que você é diferente das outras?”
O comentário doeu, mas não deixei que ele visse. Respirei fundo, deixando que a mágoa passasse. Ele não me conhecia, não sabia o que estava no meu coração, e eu tentava lembrar disso enquanto processava as palavras duras que ele acabara de dizer.
“Não,” respondi, segurando minha voz com firmeza e calma. “Eu só queria ajudar. Não preciso de nada em troca.”
Ele revirou os olhos, como se estivesse cansado do que eu dizia. “Por favor. Todo mundo é igual. Você só quer se fazer de santa, mas no fundo você é igual a todo mundo.”
Seus olhos duros me encararam, mas não houve nada que eu pudesse dizer para mudar a visão que ele tinha. Apenas continuei ali, olhando-o com uma calma que, pelo jeito, o incomodava ainda mais. Ele estava tentando provocar uma reação em mim, mas eu não iria dar essa satisfação.
Com um pequeno gesto, estendi a mão em sua direção. “Eu sou Kiara.”
Ele hesitou, um pouco surpreso com o gesto, e olhou para minha mão antes de apertá-la, como se quisesse acabar logo com aquilo. “Michel,” respondeu, quase sem emoção.
Tentei não mostrar minha decepção e apenas sorri. “Espero que você encontre o que procura, Michel,” disse, antes de voltar para o balcão, dando a ele o espaço que parecia precisar.
Enquanto ele terminava o café em silêncio, eu me pegava pensando em tudo o que acabara de acontecer. Era difícil entender o que ele estava passando, mas mesmo com toda a frieza e o sarcasmo, havia algo nos olhos dele que me fazia acreditar que ele precisava de ajuda, mesmo que ainda não estivesse pronto para admitir.
Depois que ele saiu, senti uma paz estranha, como se, apesar de tudo, estivesse no caminho certo. Talvez ele voltasse, talvez não. Mas naquele instante, senti uma certeza serena em meu coração: eu havia plantado uma semente, e, de alguma forma, sabia que não fora em vão.