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Michel.
Três dias. Três dias desde que me afastei da cafeteria, da luz que parecia brilhar mais forte a cada vez que Kiara me atendia. A verdade era que eu estava fugindo. Fugindo dela, da conexão que parecia se formar entre nós, e, acima de tudo, fugindo de mim mesmo. Era mais fácil mergulhar na rotina de festas e solidão do que encarar a possibilidade de um futuro diferente.
Minhas noites continuavam repletas de risadas falsas e copos cheios, mas durante o dia, tudo o que eu fazia era me perder em pensamentos. Acordava tarde, ainda sob o efeito do álcool, e passava as horas seguintes em um estado de negação. Eu andava pela casa, deixava a televisão ligada, e mal prestava atenção ao que assistia. Era como se a vida estivesse passando diante de mim em um borrão, e eu não conseguisse captar nada.
Eu não tinha certeza se era a falta de Kiara ou se simplesmente a ausência de qualquer propósito que me deixava tão apático. Um dia, quando estava com um amigo em um bar, ele mencionou que iria à faculdade buscar uma colega. A faculdade onde Kiara estudava. O nome dela ecoou em minha mente, e meu estômago se revirou.
Decidi acompanhá-lo, mesmo sabendo que era uma ideia estúpida. A última coisa que eu queria era encará-la. Mas, de alguma forma, precisava ver como ela estava. Precisava entender se ela realmente tinha me afetado daquela forma ou se era apenas mais uma ilusão, mais um feitiço que eu não sabia como quebrar.
Quando chegamos, meu amigo foi se encontrar com a garota, e eu fiquei encostado em uma parede, observando os alunos saindo. Cada riso, cada conversa parecia tão distante de mim. Eu me sentia como um espectador em um filme, sem o poder de interagir com os personagens. E então, ela apareceu.
Kiara saiu de um dos prédios, seus cabelos longos e castanhos brilhando sob a luz do sol. O coração disparou em meu peito. Aquela sensação que eu tentei ignorar nos últimos dias voltou com força total. Ela estava com um grupo de amigos, e a alegria em seu rosto era inconfundível. Um sorriso iluminou sua expressão ao encontrar alguém que estava à sua espera. A maneira como ela se movia, a leveza dela, era como se tudo ao seu redor se tornasse mais bonito.
Eu me perguntei o que ela veria em mim. E, ao mesmo tempo, uma sensação de urgência tomou conta de mim. O impulso de ir até ela, de ouvir sua voz, de sentir aquela conexão que parecia ser mais forte a cada dia. Mas eu hesitei. Permaneci ali, observando, até que, de repente, nossos olhares se cruzaram.
O mundo ao nosso redor parecia desaparecer. O riso dos outros se dissipou e, por um momento, só existimos nós dois. O sorriso dela se desfez por um instante, e pude ver uma mistura de surpresa e confusão. Eu sentia meu estômago apertar enquanto ela começou a se afastar do grupo, caminhando em minha direção.
“Michel?” Sua voz era suave, e um frio percorreu minha espinha. “O que você está fazendo aqui?”
Aquelas palavras, aquele tom de surpresa, me atingiram de forma intensa. Era como se ela realmente se importasse, como se aquele encontro significasse algo. Eu queria responder, mas as palavras falharam. A verdade é que não sabia o que dizer. Não sabia nem se tinha o direito de me aproximar dela depois do que fiz com minha vida.
“Eu… estava com um amigo,” eu murmurei, tentando parecer despreocupado, mas minha voz traiu minha hesitação.
Ela me observou por um momento, como se estivesse procurando algo em meu olhar. “Eu não te vi na cafeteria nos últimos dias. Estava preocupado?”
A sinceridade em sua pergunta me pegou de surpresa. “Não… só… precisava de um tempo.” Não queria admitir que a única coisa que realmente me afastou dela fui eu mesmo.
Ela assentiu lentamente, um olhar compreensivo nos olhos verdes. “Se você precisar de alguém para conversar, estou por aqui.” As palavras dela eram um convite, mas também um lembrete de tudo o que eu estava tentando evitar.
Nesse momento, a campainha da faculdade tocou, sinalizando que as aulas haviam terminado. Os alunos começaram a sair apressados, e a atmosfera descontraída me fez querer sumir. Mas antes que eu pudesse me afastar, ela estendeu a mão, segurando meu braço levemente.
“Vamos tomar um café. Eu adoraria saber mais sobre você,” disse Kiara, e meu coração deu um salto.
Eu hesitei, mas sabia que não poderia recusar. Com um misto de medo e esperança, concordei, e pela primeira vez em dias, senti que talvez essa fosse uma chance de reencontrar a luz que parecia tão distante.
Enquanto caminhávamos em direção à cafeteria, uma nova sensação me invadia: talvez houvesse mais em mim do que eu acreditava. Talvez a presença dela, a possibilidade de abrir meu coração, fosse o caminho que eu precisava seguir.