Confronto

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Michel

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Michel.

No dia seguinte, lá estava eu novamente, parado em frente àquela cafeteria como se algo me puxasse para dentro. Aquela voz do sonho ainda ecoava na minha cabeça, e, de alguma forma, aquele lugar parecia o único que poderia silenciar meus pensamentos. Entrei e imediatamente a vi, ocupada atrás do balcão. Aquela garota.

Ela me notou assim que entrei e deu um sorriso discreto, como se estivesse esperando por mim. Quando me aproximei do balcão, ela veio, trazendo uma tranquilidade em cada movimento. Eu tentava não demonstrar, mas algo na forma como ela me olhava me deixava desconcertado.

“Bom dia! Que bom que você veio,” ela disse, com um sorriso sincero.

“Pois é… voltei,” respondi, tentando manter o tom casual. “Um café, como sempre.”

Ela começou a preparar a bebida, e eu a observei de canto de olho, sem saber o que esperar. Quando voltou com a xícara, colocou-a na minha frente, mas hesitou um instante antes de falar.

“Se precisar de alguém para conversar, estou aqui,” ela disse, com uma gentileza que parecia desarmar qualquer resistência minha.

Eu ri, um riso seco, tentando manter a aparência indiferente. “É isso, então? Garota de igreja, atrás do balcão, achando que pode me ajudar só porque estou aqui?”

Ela ficou em silêncio, mas me olhou com uma expressão que era tudo menos julgadora, o que me deixou ainda mais irritado. Quem ela pensava que era para tentar entender o que eu passava?

“O que é, você quer ser minha ‘amiga’?” acrescentei, uma ponta de sarcasmo na voz. “Ou vai dizer que quer que eu vá para sua casa depois do trabalho? Que você é diferente das outras?”

Ela piscou, surpresa com minha grosseria, mas o olhar dela permaneceu firme, e seu rosto refletia algo que eu não esperava: uma calma imperturbável.

“Não,” ela disse, num tom gentil, mas firme. “Eu só queria ajudar. Não preciso de nada em troca.”

Revirei os olhos, como se estivesse cansado daquele discurso. “Por favor. Todo mundo é igual. Você só quer se fazer de santa, mas no fundo você é igual a todo mundo.”

Ela respirou fundo, a mágoa aparecendo por um breve instante, mas logo sumindo, como se ela tivesse decidido não me dar o poder de atingi-la. “Eu sinto muito que você pense assim,” murmurou, mas algo na voz dela indicava que não estava ofendida, apenas triste.

Foi então que, em meio ao silêncio, ela estendeu a mão, um gesto inesperado. “Eu sou Kiara.”

Aquilo me pegou de surpresa, e por um instante fiquei sem reação, observando a mão dela estendida. Aquele gesto, simples e honesto, parecia anular qualquer defesa que eu tentava levantar.

Hesitante, apertei a mão dela, mais para acabar com aquela sensação de desconforto do que qualquer outra coisa. “Michel.”

Ela sorriu, um sorriso gentil, e puxou a mão de volta.

Eu queria falar algo, talvez uma provocação, mas as palavras morreram antes que eu pudesse falar. Ela se afastou com calma, voltando ao trabalho, como se já soubesse que eu precisaria de espaço.

Terminei o café em silêncio, ainda irritado comigo mesmo por ter deixado escapar aquela última provocação, mas algo no olhar dela, na calma que não abalava, continuava comigo. Quando saí da cafeteria, a lembrança daquele sorriso insistia em voltar à minha mente, me deixando inquieto.

Enquanto me afastava, percebi que, mesmo sem querer, aquela garota tinha plantado uma dúvida em mim. E por mais que eu tentasse fugir, sabia que essa sensação não ia desaparecer tão facilmente.

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Nossa Kiara é blindada 🙅🏻‍♀️

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