𝚅𝙸𝙸

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𝒮𝓊𝓇𝓎𝒶

A areia escaldante se estendia até onde meus olhos podiam alcançar, uma vastidão dourada que parecia zombar da minha falta de direção. Cada passo fazia minhas botas afundarem no chão traiçoeiro, tornando a caminhada lenta e exaustiva. Cisto estava cansado, estávamos a mais de um dia sem água potável, e os animais não aguentariam por muito tempo.

Olhei para o céu, buscando algum consolo nas nuvens dispersas que mal ofereciam sombra. O suor escorria pelo meu rosto, encharcando as laterais do meu vestido leve, agora sujo de areia e poeira. Minha pele, naturalmente pálida como a luz da lua, parecia quase opaca sob a sujeira que se acumulava. O tecido branco e azul, bordado com detalhes prateados que um dia haviam sido elegantes, agora estava rasgado e gasto, como se o deserto estivesse tentando me consumir pouco a pouco.

O sol, cruel e indiferente, queimava minha nuca, e o ar era seco o suficiente para fazer meus lábios racharem. Nosso pequeno grupo avançava lentamente, uma fileira de silhuetas quebradas contra o horizonte infinito.

À frente, Maxon caminhava com uma determinação feroz, os ombros largos carregando mais peso do que ele precisava. Ao seu lado, Sael mantinha o mesmo ritmo constante, os músculos das costas contraídos sob a carga pesada que levava, como se se recusasse a deixar Maxon superá-lo. Mikel e Taius seguiam logo atrás, em silêncio absoluto, suas sombras longas e os movimentos sincronizados como se fossem uma extensão um do outro. A retaguarda era ocupada por Alwing.

Meu coiote gigante caminhava ao meu lado, as patas dele se movendo suavemente pela areia quente, apesar do cansaço evidente. Sua língua pendia, e eu sentia o peso da preocupação aumentando a cada passo. Água. A palavra girava na minha mente como um feitiço quebrado, e eu sabia que ele precisava tanto quanto eu — talvez até mais.

Parei de observar o grupo e me aproximei de Alwing. Seus olhos experientes pareciam sempre atentos, como se enxergassem além das dunas, além do próprio deserto. Ele segurava uma lança improvisada em uma mão e a guia do cavalo na outra, mas sua postura permanecia relaxada, quase casual, mesmo no calor insuportável.

— Alwing — chamei, a voz rouca de sede. Ele virou levemente a cabeça na minha direção, um sinal de que estava ouvindo. — Para onde estamos realmente indo? Não me diga que ainda estamos vagando sem rumo. Estou cansada disso.

Ele riu baixo, um som grave que parecia carregado de areia, como o próprio deserto.

— Ah, princesa — respondeu, o tom meio zombeteiro — Nós nunca vagamos sem rumo. Você não confia nos planos de Maxon?

— Confio — retruquei rapidamente, mas ele arqueou uma sobrancelha, claramente duvidando. Suspirei, exausta demais para manter a compostura. — Só não gosto de andar sem saber o destino. E você sabe que ele não gosta de responder perguntas.

Alwing parou, olhando por um momento para Maxon, que estava longe demais para ouvir. Depois, soltou um suspiro, como se estivesse prestes a revelar algo que guardava para si havia muito tempo.

— Há uma lenda — começou ele, os olhos fixos em algo no horizonte. — Um conto que poucos conhecem. Dizem que, em algum lugar deste deserto, há um portal. Uma passagem para outro mundo.

Fiquei quieta, franzindo a testa, mas ele continuou, como se estivesse contando uma história para uma criança.

— Esse mundo não é como o nosso. Dizem que é uma terra de luzes que dançam no céu, de cidades que se erguem tão alto que parecem tocar as estrelas. Onde as pessoas vivem cercadas por tecnologia, não magia. Onde as ruas nunca dormem e os céus são cruzados por máquinas voadoras.

Corte de Sangue e Estrelas - Livro 2 - Fanfic ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora