Corte de Sangue e Estrelas - Livro 2 - Fanfic ACOTAR

𝚅𝙸𝙸𝙸

𝓛𝔂𝓪𝓷𝓪

A noite no deserto era um contraste cruel. O calor abrasador do dia dera lugar a um frio que cortava até os ossos, o tipo de frio que fazia até o ar parecer rígido, congelado no tempo. Eu me enrolei mais na capa pesada de veludo escuro, o tecido grosso ainda insuficiente para afastar o vento que sibilava ao nosso redor. A fogueira entre nós era pequena, a chama tímida, incapaz de oferecer mais do que uma luz tênue e uma promessa fraca de calor. Os únicos confortáveis ali pareciam ser Lucien e Eris, que carregavam fogo nas veias.

Estávamos dispostos em um círculo ao redor da fogueira, um grupo improvável de sobreviventes e aliados relutantes. Surya estava sentada perto de Lucien, o que não era nenhuma surpresa. Ela segurava a mão dele com firmeza, como se o contato físico fosse sua âncora. Os olhos dourados dela brilhavam com o reflexo das chamas, mas algo em seu semblante parecia distraído, como se estivesse presa em seus próprios pensamentos.

Lucien, por outro lado, estava em um estado de alerta silencioso, os olhos bicolores varrendo o horizonte. Ele parecia sempre preparado para o pior, como se já esperasse a próxima ameaça a surgir das sombras. Eris estava ao meu lado, seu rosto quase indiferente ao frio, o manto carmesim que ele usava envolvendo-o como uma declaração de poder, mesmo naquelas condições adversas. Ele me observava de canto de olho, sua proximidade tanto uma fonte de conforto quanto uma lembrança constante de nossas incertezas.

Os outros se espalhavam pelo círculo, cada um carregando sua própria sombra. Tive uma pequena apresentação de cada um deles, apenas a exclusividade de conhecer seus nomes. Mas eu era ótima com nomes.

Maxon estava mais afastado, sentado em uma rocha baixa. Ele parecia um rei em exílio, a postura orgulhosa mesmo em um cenário tão desolador. Taius e Sael estavam juntos, conversando em voz baixa, enquanto Mikel afiava sua espada com movimentos metódicos e precisos. Alwing estava próximo, o mais jovem do grupo, mas com uma intensidade que desmentia sua pouca idade. Ele parecia atento a cada movimento, a cada mudança no ambiente, como se pudesse prever um ataque iminente.

Meus olhos varreram o grupo novamente, enquanto eu me permitia um momento de análise. Eles eram uma mistura estranha de lealdade e segredos, e eu sabia que cada um deles carregava algo que não queria compartilhar. Tentei estender minha mente, como se pudesse penetrar nas camadas de pensamentos que eles guardavam, mas encontrei um vazio. Algo no ar aqui era diferente, como se bloqueasse minha magia, e isso me deixou inquieta.

Foi Maxon quem quebrou o silêncio, sua voz profunda cortando o som do vento.

— Você não consegue, não é? — Ele disse, olhando diretamente para mim. — Nem mesmo com seus dons amaldiçoados. Vhaerak.

Meu corpo ficou tenso, mas eu mantive minha expressão neutra. Ele havia falado em sarenaric, a língua dos Sarendari, e enquanto eu não compreendia tudo, a palavra que usara era clara.

 — O que isso significa exatamente? — Eris perguntou, virando-se para Maxon com as sobrancelhas arqueadas, seu tom carregado de curiosidade.

Antes que Maxon pudesse responder, foi Alwing quem tomou a palavra, com um olhar fixo e um tom que era tanto reverente quanto carregado de desconfiança.

— Demônio da mente. — Disse ele, os olhos escuros cravados em mim. — É isso o que eles chamam de feéricos como você, daemati. Vocês violam o que deve ser protegido.

Houve um silêncio pesado após suas palavras, quebrado apenas pelo som da lâmina de Mikel deslizando contra a pedra de afiar. Olhei para Alwing, avaliando-o, mas ele não desviou o olhar.

— Vocês têm medo do que não entendem. — Respondi calmamente, mas havia uma ponta afiada em minha voz. — Porque acham que controle sobre a mente significa que não há limites para o que podemos fazer.