Capítulo 28

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NINA

Depois da ceninha de ciúme, Charles ficou todo meloso comigo. Seus toques eram suaves, suas palavras envolventes, mas eu sabia que era fingimento. Só que o coração tem sua própria lógica, e a minha cabeça teima em resistir a isso. Deve ser porque corações não são racionais, não é? Era como se houvesse uma batalha entre que eu sabia e o que eu sentia, e naquele momento, o sentimento estava ganhando.

Após o filme, sentamos em volta da mesa para jogarmos em família. Charles parecia se esforçar para manter uma aparência descontraída, e até que não se importou mal. Ele ria, interagia tentando parecer o homem perfeito que povoava os meus sonhos. No entanto, a atmosfera mudou assim que Richard entrou na sala. Eu quase não o via, mas todas às vezes que isso acontecia, Charles mudava radicalmente. A expressão tornava-se sombria, os trejeitos eram de puro nervosismo.

O que houve de tão grave para que ele odiasse o pai? Eu já consegui entender que fui até ali para provocá-lo, mas isso era o que Charles menos fazia, pois o seu pai nunca aparecia, a não ser na hora das refeições, e mesmo assim pouco falava, parecia cada vez mais debilitado. Isso me preocupava. Se a simples presença do pai abalava tanto o Charles, ela era claro que havia sentimentos mal resolvidos entre eles. Mas por que Charles não o ignorava? Porque, em vez disso, deixava-se consumir por uma raiva gritante?

Enquanto subíamos as escadas depois do jogo, fui tomando coragem para lhe contar a verdade que me levou até a sua casa, mas antes eu tocaria no assunto espinhoso da sua relação com o seu pai.

Assim que chegamos ao quarto e fechamos a porta, respirei fundo e perguntei com todo o cuidado: —

— Você não pretende conversar com o seu pai antes de irmos embora? — minha voz saiu baixa, mas cheia de cautela. — Eu não sei o que ele te fez, mas é nítido que está arrependido. E o pior é que pelo jeito ele não terá muito tempo para se redimir se você não se abrir.

Charles congelou por um segundo, antes de se virar bruscamente para mim. A suavidade que exibirá há poucas horas desapareceu, e sua resposta veio cortante:

— Eu não me lembro de termos combinado intromissões em minha vida pessoal — a frieza em sua voz era de arrepiar, e me atingiu com um soco. Aquele não era o Charles que passou a noite inteira me cercando de carinhos e sussurros apaixonados. A mudança foi tão brusca que me deixou sem palavras.

Ele sabia fingir muito bem. Pena que eu não.

— Também não estava no combinado que você se deitaria comigo — retruquei, tentando manter a postura, embora meus os olhos já estivessem marejados. — Se bem me lembro, combinamos exatamente o contrário.

Afastei-me dele, sentindo um nó na garganta, e caminhei em direção à porta do quarto. O ar parecia pesado, sufocante. Eu queria sair dali quanto antes, queria escapar de toda aquela história. Ainda bem que só faltavam poucos dias para essa farsa acabar. Mal toquei na maçaneta quando senti a mão de Charles agarrar meu pulso, puxando-me de volta para ele. Seu abraço foi forte, desesperado.

— Me desculpa, eu não queria dizer aquilo. — sua voz saiu embargada, e sentiu desespero em seu toque enquanto ele afagava minha cabeça e minhas costas. — Se você soubesse tudo o que ele fez comigo... o que o tive que ouvir dos meus irmãos...

Confesso que ouvir um pedido de desculpas vindo dela foi algo fora do comum. Eu estava chocada. Ver Charles naquele estado, vulnerável, era algo que eu realmente não esperava. O pedido de desculpas me pegou de surpresa, e, por um instante, toda raiva que eu sentia se dissipou, dando lugar a algo mais profundo. Algo que eu mesma não conseguia explicar. Acho que fui tomada pela compaixão naquele exato momento. Talvez toda a dureza do Charles não passasse de um escudo para protegê-lo de futuras tristezas.

Do CEO ao Inferno / no Wattpad até 15/11Onde histórias criam vida. Descubra agora