𝘊𝘰𝘳𝘥𝘦𝘪𝘳𝘰 𝘐𝘯𝘥𝘦𝘧𝘦𝘴𝘰

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20.02.24

"Você não vai sobreviver muito tempo assim, se continuar agindo como um cordeiro indefeso nesse grande pastoril, garota."


Enid caminhava pelo corredor do presídio feminino com uma expressão que mesclava desdém e cansaço. O aroma da comida do refeitório se misturava ao cheiro de desinfetante, um contraste que fazia seu estômago revirar. As paredes da instituição eram frias e cinzentas, com graffiti de esperanças e desilusões que contavam histórias de vida. Enid forçou um sorriso ao pensar que, se alguma vez um artista estivesse interessado na vida das prisioneiras, o mural ali seria uma obra-prima de desespero e resistência.

Ao entrar no refeitório, percebeu que o ambiente era caótico, repleto de vozes altas e risadas nervosas. Algumas presidiárias a encaravam com um olhar curioso, enquanto outras apenas a ignoravam, absorvidas em suas próprias conversas. Enid se sentiu insegura, como uma estranha em um mundo que não era o seu, mas logo se forçou a alinhar seus ombros e seguir em frente. Ela se posicionou na fila, observando com um misto de nojo e hesitação os pratos que iam sendo depositados à sua frente. A comida era um amontoado de substâncias duvidosas, uma mistura de cores marrons e verdes, que lembrava algo mais apropriado para um zoológico do que para a mesa de um refeitório.

Enquanto aguardava, algumas presas se empurravam com impaciência atrás dela, e uma delas, robusta e com um olhar desafiador, a empurrou levemente. "Desculpe, tô com pressa!" grunhiu, e Enid, sentindo o corpo se encolher, desviou o olhar e se afastou um pouco, tentando manter a calma. Ela não queria problemas. Não agora. Era difícil lidar com a tensão que permeava o ar, e as dinâmicas do presídio eram dolorosamente similares ao colégio, mas duras como aço.

Finalmente, chegou à frente da fila. O cozinheiro, de expressões cansadas, serviu uma porção de algo que parecia ser feijão com macarrão e um pedaço de carne, ou o que ela queria acreditar ser carne. Enid aceitou o prato com um movimento lento, a colher escorregando entre seus dedos como se a comida fosse venenosa. Com uma sensação de repulsa no estômago e uma leve pontada de nervosismo, ela começou a procurar um lugar para se sentar.

As mesas estavam lotadas, e as conversas fluíam como um zumbido ensurdecedor. Enid circulou entre as mesas, tentando evitar olhares curiosos e possíveis confrontos. Sentia-se como uma intrusa entre aquelas mulheres, cada uma presa em suas próprias histórias e combatendo suas batalhas. Assim que pensou em desistir e simplesmente ficar de pé, seu olhar encontrou uma figura familiar. Era Yoko, sentada sozinha em uma mesa, com um olhar acolhedor.

Yoko acenou, e a simples ação fez com que o coração de Enid desse um leve salto de esperança. A mulher tinha um jeito tranquilo e uma energia que parecia gentil, completamente oposta ao ambiente hostil que a cercava. Ao se aproximar, Enid sentiu um alívio, como se finalmente tivesse encontrado um porto seguro em meio à tempestade.

- Oi, você se importaria de eu me juntar a você? - Enid perguntou, tentando esconder a insegurança na sua voz. Yoko sorriu, encorajando-a.

- Claro que não, sente. Estava a espera de companhia. - Respondeu Yoko, enquanto fazia espaço na mesa. Enid se sentou, aliviada, e por um momento, as preocupações começaram a dissipar. Elas começaram a conversar, e Sinclair se sentiu mais leve, como se aquela conexão fosse um pequeno raio de luz em um lugar escuro. Era escondido, mas estava ali. A troca de experiências e risos gradualmente construiu uma ponte entre elas, permitindo que Enid se sentisse um pouco mais em casa, mesmo em um lugar tão inóspito.

Força Obstruída - Wenclair AUOnde histórias criam vida. Descubra agora