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Vivian Barbosa
São Paulo

Meu interfone tocou logo cedo, me obrigando a sair da cama. Precisei descer na portaria pra pegar um encomenda e eu nem me lembrava o que era.

Devo ter tido um surto numa madrugada e feito um estrago na shein.

Fui de pijama, cara amassada e mal humorada.

Eu só virava gente depois de um café.

Meu olhos quase saíram de suas órbitas quando dei de cara com um buquê gigantesco de tulipas rosas.

Eu sabia exatamente quem tinha mandado e o caminho de volta pra casa foi comigo sorrindo olhando para aquela lindeza.

Tinha um quadro na minha sala com tulipas rosas, e até isso ele prestou atenção.

Pousei o buquê com cuidado em cima do aparador e tirei o cartão.

Sempre pensando em você.

R.G

Eu sabia que ele não ia me responder esse horário mas mesmo assim mandei uma mensagem.

Faziam quase uma semana que não o via, os treinos eram intensos, viagem pra jogar fora e mais treinos. E a saudade que eu sentia dele me assustava um pouco.

Assustava porque queria dizer que eu estava me envolvendo, e rápido, rápido demais.

Procurei por um vaso que eu pudesse por as flores e enchi com água. Deixei no canto mais bonito da sala.

Toda vez que eu passava por elas ou eu sorria, ou eu as cheirava, ou dava uns pulinhos feito uma adolescente.

Meu celular apitou e eu corri pra ver.

Te vejo mais tarde?

Coração acelerado era uma coisa recorrente quando se tratava do Garro. Já estava quase me acostumando.

O dia se arrastou como se nunca mais fosse acabar, e quando finalmente anoiteceu eu tive uma péssima notícia.

Ele não ia vir.

Felipe estava com febre e precisaria ir ao médico.

Claro que eu entendia, mas mesmo assim. Fiquei chateada.

Eu estava preparando pipoca de microondas quando minha campanhia tocou, um sorriso largo se abriu no meu rosto. Será que o bebê tinha melhorado e ele resolveu passar aqui?

Mas o sorriso morreu quando vi que não era Garro, e sim Yuri Alberto.

-Como você subiu? - Perguntei pronta pra expulsa-lo dali.

-O porteiro me liberou. - Ele deu de ombros, abri a boca pra revidar mas ele não deixou. - Eu não vim brigar. - Ele deu um longo suspiro. - Eu precisava de alguém e... só pensei em você.

Só aí notei, os olhos estavam fundos, parecia ter chorado o dia todo. Estranho.

Dei passagem pra ele entrar.

-Senta. Tô fazendo pipoca. - Fui até a cozinha e servi pipoca, coloquei no meio de nós e dei play em um filme que eu já tinha escolhido.

-O que houve? - Perguntei genuinamente preocupada. Nunca tinha visto ele tão calado assim.

Mas minha principal dúvida era: por que tinha vindo me procurar?

-Podemos não falar sobre isso, por enquanto...- A última frase saiu baixinho.

Seus olhos pousaram nas tulipas no canto da sala.

-Estou atrapalhando alguma coisa? - Não tinha ironia, ou implicância. Era uma dúvida genuina.

-Não. - Neguei estendendo a pipoca pra ele.

Ficamos longos minutos em silêncio, vendo filme e comendo pipoca.

-Não queria que as coisas entre nós tivesses sido da maneira que foi. - Ele falou, me virei um pouco pra ele. - Desculpa.

-Eu também tive culpa Yuri. - Respondi.

-Você não sabia que eu tinha uma namorada.

-Quando te chamei pra vir aqui, eu sabia.
O que está acontecendo? Sua namorada desconfiou de alguma coisa?

-Não. - Falou. - E mesmo que desconfiasse, não acho que ligaria.

-Como assim? Que mulher não ligaria pra isso? - Ele deu uma risada sem humor nenhum.

-Ela liga pra uma coisa. - Me olhou de canto. -Status. Se ela desconfiasse, eu compraria uma bolsa de uma grife de merda e ela se daria por satisfeita. - Estalei a língua no céu da boca.

-E por que está com ela? - Perguntei.

-Eu não sei. - Falou sincero. - Nossas famílias se gostam, aprovam o relacionamento, todos esperam um grande casamento. É complicado.

-Não pode viver uma coisa só porque os outros esperam que viva Yuri.

-Essa é minha vida Vivi. - Ele pareceu cansado. - Viver em função do que os outros esperam de mim. - Houve uma pausa. - Esperavam que eu jogasse futebol, esperavam que eu tivesse um futuro brilhante, esperavam que fosse um grande jogador. É cansativo...cansativo sustentar um sorriso quando tudo que eu mais quero e sumir. - Eu não sei bem ao certo quando ele as lágrimas desceram pelo rosto dele.

Já tinha visto Yuri nu na minha frente, mas ver ele daquela forma, desarmado só um menino cansado era um pouco chocante.

O puxei pra mim sentindo seu rosto molhar minha blusa, mas eu não me importava.

-Por que me procurou? - Sussurrei. - Tudo que temos feito até então, são joguinhos e implicâncias.

-Sinto que essas implicâncias são as únicas coisas verdadeiras na minha vida. - Ele sussurrou de volta. - Vivo cercado de gente, mas estou sozinho o tempo todo.

Aquilo me cortou o coração.

Me mantive em silêncio, sua cabeça ainda recostada no meu peito, mas não havia segundas intenções ali. Era... diferente.

-Estraguei sua noite né? - Ele sorriu amarelo se separando de mim. -Acho que vou nessa.

-Não precisa ir se não quiser. - Falei. - Podemos só...continuar o filme. Eu tenho sorvete. - Ele gargalhou, aquela risada gostosa que ele tem.

-Eu sou um atleta vivi, não posso comer porcaria.

-Ah vai, uma porcariazinha não mata ninguém. - O empurrei de leve.

Já se passavam das três da manhã quando ele se foi.

Assistimos uns três filmes e acabamos com um pote de sorvete.

Yuri se despediu de mim com beijo na testa e um abraço que transbordava gratidão.

E eu fiquei feliz por ter conhecido essa parte vulnerável dele. Feliz por ele ter a confiado a mim.

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Depois do Corinthians amassar o Palmeiras eu até animei vir postar capítulo novo hahahah.

Eu sempre deixo capítulos escritos e vou soltando aos poucos, quanto mais votarem e comentarem mais me animam soltar mais rápido.

Pras leitoras de Reminder (história com o Memphis) acaba de ler aqui e corre pra lá, vou soltar capítulo lá também!

TENTATION - YURI ALBERTO I RODRIGO GARROOnde histórias criam vida. Descubra agora