Capítulo 4 - consigo unir

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Seo-Yeon (서연)

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Enquanto coloco a água para ferver, sinto um leve zumbido na cabeça, como se algo estivesse tentando emergir das profundezas da minha mente

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Enquanto coloco a água para ferver, sinto um leve zumbido na cabeça, como se algo estivesse tentando emergir das profundezas da minha mente. Jin-ho está sentado à mesa, e embora eu saiba que ele está ali, por um momento, sua presença parece distante, como se estivesse em um sonho. Tento me concentrar no café, mas minha mente começa a divagar, e então, como um relâmpago...

Um fragmento de uma discussão acalorada, um flash de luz, e de repente estou de volta ao escritório, meses atrás. Jin-ho está na minha frente, a expressão séria. Seu rosto está meio sombreado pela luz do teto, mas seus olhos, fixos em mim, são impossíveis de ignorar.

- Seo-Yeon, você não pode continuar ignorando isso! - ele diz, e há uma urgência em sua voz que nunca percebi antes. - Eu entendo que é difícil, mas precisamos lidar com isso agora.

- Eu não estou ignorando nada! - minha própria voz soa estranha, como se viesse de outra pessoa. - Eu só... preciso de mais tempo. Isso é grande demais, Jin-ho!

- Não podemos continuar fingindo que tudo está bem quando claramente não está. - ele responde, a firmeza em sua voz é quase desesperada, como se estivesse lutando contra algo que eu não conseguia ver na época.

A memória me atinge como uma onda, e de repente estou de volta à cozinha, a realidade e a lembrança se misturando. O som da chaleira me faz pular, e antes que eu perceba, a xícara escorrega dos meus dedos trêmulos, caindo no chão com um estilhaçar que me puxa de volta ao presente.

- Seo-Yeon! - a voz de Jin-ho chega até mim, mas soa como se estivesse distante, abafada pela memória que ainda reverbera na minha cabeça. Ele se aproxima rapidamente, a preocupação evidente em seu rosto, enquanto eu me ajoelho automaticamente para catar os cacos da xícara.

- Eu... desculpa - murmuro, sentindo um pânico inexplicável tomar conta de mim. As palavras da lembrança ainda ecoam na minha mente, misturando-se com a confusão do momento. A sensação de que algo importante, algo que perdi, está tentando voltar, me faz tremer.

Jin-ho se ajoelha ao meu lado, seu olhar preocupado, mas com uma suavidade que me faz querer chorar. Ele começa a recolher os cacos, mas tudo o que consigo fazer é ficar ali, imóvel, tentando entender o que está acontecendo na minha cabeça.

- Está tudo bem - ele diz suavemente, como se nada tivesse acontecido.

Aquelas palavras, "Está tudo bem", parecem tão fora de contexto, mas ao mesmo tempo, exatamente o que eu precisava ouvir. Sinto um peso sair dos meus ombros, mas ao mesmo tempo, a memória permanece ali, persistente. O que era aquela discussão? Por que parece tão importante agora, como se estivesse tentando me avisar de algo?

Jin-ho continua a pegar os cacos enquanto eu tento acalmar minha respiração. Finalmente, ele se levanta, trazendo-me de volta ao momento presente. Mas eu sei que algo aconteceu, algo grande, e mesmo que minha mente ainda esteja tentando juntar as peças, a sensação de que minha memória está voltando, de que algo crucial está à espreita, não me deixa.

Assinto lentamente, sentindo uma estranha mistura de medo e alívio. Algo está se movendo dentro de mim, uma verdade que talvez tenha sido esquecida, mas que agora começa a emergir, e de alguma forma, sei que Jin-ho está no centro disso tudo.

- Acho que foi uma vertigem, provavelmente meu corpo ainda está fraco - omito o que realmente aconteceu.

Com as pernas ainda um pouco bambas e o coração acelerado, me aproximo novamente do balcão. Pego outra xícara e começo a preparar o café, adicionando a água quente e o café solúvel. O aroma forte e amargo da bebida me traz um pequeno alívio, uma calma momentânea que me ajuda a recolocar os pensamentos em ordem.

- Posso ver seu celular? - pergunto, um pouco hesitante. - Minha mãe ainda não me entregou o meu, e preciso pesquisar algo.

Bebo um gole e aprecio a acidez característica do café, uma sensação que se espalha refrescantemente pelo meu paladar. É quase como se, ao me envolver com a bebida, eu pudesse afastar a tensão.

Jin-ho hesita por um momento, mas logo se recompõe e me entrega o celular. O gesto é aparentemente casual, mas consigo notar uma ligeira inquietação em seu comportamento. Sinto que há algo importante a ser encontrado.

Pego o celular e digito "Kim Seo-Yeon" na barra de pesquisa. Em segundos, uma enxurrada de informações sobre minha vida aparece na tela. Meu irmão havia me alertado que a quantidade de informações poderia ser esmagadora e até confusa, considerando que sou uma figura pública e que há muitas notícias falsas. No entanto, sinto uma necessidade quase desesperada de entender mais, de conectar as peças da minha vida atual.

Clico na primeira manchete que aparece: "Para salvar o império familiar, herdeira aceita casamento arranjado com rival nos negócios". O título me faz parar por um instante, o coração batendo mais rápido. Sinto um nó se formando na garganta. Com o celular nas mãos e o café agora esfriando, minha sensação de controle sobre a situação parece se esvair, substituída por um turbilhão de dúvidas e preocupações. Preciso descobrir mais, entender completamente o que está em jogo.

- Temos uma reunião de família na sexta-feira, amanhã - digo, tentando trazer a conversa de volta ao que parecia um tema mais neutro. - Meu irmão me explicou sobre isso - continuo, enquanto observo Jin-ho preparar-se para tomar um gole de café também.

- Você terá que assinar alguns documentos. Não sei se ainda se lembra da sua assinatura - ele diz, o tom mais grave agora, talvez consciente da importância do que está sendo discutido.

- O Dr. Lee me explicou que meu corpo e mente ainda estão se ajustando à nova rotina, aos gostos e manias. Portanto, provavelmente minha assinatura será algo natural. Não se preocupe - respondo, tentando transmitir confiança.

Jin-ho continua observando, e eu noto que seu olhar parece pesar mais do que o normal. Ele está considerando as implicações dos documentos que vou assinar - documentos que são parte crucial do nosso acordo de casamento e da fusão das empresas. Há uma tensão palpável no ar, como se o peso dessas palavras estivesse sobre nós, pronto para desabar a qualquer momento.

Enquanto isso, a sensação de estar em silêncio prolongado começa a se tornar quase insuportável. A mente se enche de um barulho interno, uma cacofonia de pensamentos e sentimentos que parecem estar gritando por atenção, mas cujos sons são indistintos e confusos. É como se uma estação de rádio estivesse sintonizada em uma frequência errada, emitindo apenas ruídos desconexos e fragmentos de palavras que não consigo entender. Essa confusão me deixa nervosa, agoniada, e a vontade de chorar é quase irresistível.

No entanto, sei que a tristeza e a confusão não são luxos que pessoas na minha posição podem permitir a si mesmas. Desde jovem, minha principal meta foi ter voz e ser ouvida, e agora que finalmente consegui, há uma sensação de que, ao mesmo tempo, também perdi algo essencial. Meus pensamentos giram em torno do fato de que, mesmo com a voz que conquistei, parte de mim ainda está perdida nas sombras do passado, especialmente em relação às minhas memórias.

A pesquisa sobre mim mesma revela mais do que eu esperava, e essa nova percepção sobre minha vida, misturada com a complexidade dos documentos e o acordo que está para ser selado, só aumenta o meu desconforto. O peso da responsabilidade e o sentido de desamparo se fundem, e o desejo de compreender completamente minha situação se torna quase esmagador.

Olho para Jin-ho, que ainda está ao meu lado, tentando ajudar. Sinto a frustração crescer, uma consciência dolorosa de que a clareza que eu busco parece estar sempre fora de alcance, como uma miragem. E enquanto me esforço para manter a compostura, a verdade é que me sinto mais perdida do que nunca. As memórias, a voz, a identidade - tudo parece fragmentado e distante, uma colcha de retalhos que mal consigo unir.

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