Planos

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Rafa's Pov

Eu e Gizelly descemos até a cozinha em silêncio.
Só eu sei o quanto foi difícil perdir ajuda para ela. Meu orgulho me dizia o tempo todo que não era necessário me rebaixar a tal ponto. Mas eu precisava fazer isso se quisesse provar a ela que eu estou tentando conviver bem.
E outra. Eu realmente não sei fazer lasanha. Para falar a verdade, meu conhecimento na cozinha é bem limitado, afinal eu sempre tive Liz e minha mãe por perto, e as únicas vezes em que me aventurava a cozinhar era quando nenhuma delas estava presente. Como agora.
Eu peguei a massa da lasanha e fiquei olhando para as coisas meio perdida. Gizelly gargalhou.

- Está perdida mesmo em Kalimann. Me dá isso aqui. - Ela tomou a massa da minha mão. - Pega uma travessa para mim, e deixa o resto comigo.

Eu peguei uma das travessa no armário e a alcancei para ela. Peguei a garrafa de vinho que trouxera da casa dos meus pais e perguntei:

- Vinho?

- Tentando me embebedar Kalimann?, se for um plano para me matar, saiba que se alguma coisa acontecer você será a principal suspeita. - Ela falou rindo.

Se eu soubesse que pedir ajuda ia deixá-la de tanto bom humor, eu teria pedido antes. Entrei na brincadeira.

- Não pretendo te matar. Não hoje pelo menos. Mas vou ficar de olho nos ingredientes da lasanha.

Ela gargalhou mais uma vez, e eu descobri que este provavelmente era o meu som favorito no universo. O som de quando Gizelly gargalhava por alguma coisa que eu disse.

- Pode ficar tranquila. Hoje. Só não se acostume.

Servi um pouco de vinho em uma taça e coloquei em cima do balcão, próximo a ela, e depois servi um pouco para mim também.

- Onde conseguiu o vinho? - Ela perguntou tomando um gole de sua taça. - Ele não estava aqui durante o dia, e em um domingo à noite não é exatamente fácil encontrar lugares abertos para comprar um.

- Raptei da casa dos meus pais. - Repondi. - Considere como uma oferta de paz.

Ela me olhou por alguns instantes:

- Por que você se esforçar tanto?
- Perguntou. - Eu juro que não consigo entender.

- Porque eu quero que, se não fomos amigas, como você disse que não seriamos, nós tenhamos pelo menos uma cordialidade uma com a outra.

É óbvio que não é isso que eu quero, mas por hora é o que estou buscando. Para depois seguir para o próximo passo. Conquistá-la como mulher.

Ela colocou a travessa no forno e falou:

- Vai mais uns 20 minutos até ficar pronta.
- Percebi que ela estava tentando mudar de assunto. - Vou ligar para Bia, ainda não dei sinal de vida hoje. Licença.

Eu concordei e ela foi em direção a sala de jogos, com a taça de vinho em uma mão e o celular na outra, já discando o número do telefone.
Eu fiquei ali na cozinha mesmo. Coloquei a mesa para o jantar e depois me sentei com meu celular para verificar meu e-mail e algumas mensagens.
Antes de se completarem os vinte minutos ela estava de volta, e sem falar nada tirou a travessa do forno e a colocou na mesa. Ela se sentou à minha frente e eu larguei o celular para podermos come.

- Você me explicou o motivo do vinho, mas não o da lasanha. - Ela falou.

Eu expliquei:

- Era só um jeito de te deixar de bom humor para você me responder como foi a sua conversa com a Tais.

Nós duas nos servimos e ela começou a falar:

- Sinceramente, eu acho que a Tais gosta da Ma, mas ela mesma ainda não descobriu isso.

- Por quê? O que ela te disse?

- Quando eu falei no nome da Marcella ela quase começou a chorar. Disse que a Marcella se afastou dela sem motivo aparente e que não quer conversar com ela sobre o assunto. Se você visse como só a possibilidade da Marcella se afastar completamente dela a deixou, você perceberia o que estou tentando dizer. Acho que nós não vamos ter tanto trabalho para juntar aquelas duas.

- Assim espero. Não gosto de ver minha irmã sofrendo. Nem a Tais. - Falei.

- Eu também não.

- Você não chegou a conversar com a Tais sobre o fato de ela gostar de garotas, não é? Porque nós precisamos saber disso antes de começarmos... o que quer que formos fazer para juntar essas duas.

- Claro que não, Rafaella. - Ela bufou. - Seria uma conversa bem interessante. "Então, Tais, já que nós estamos conversando sobre a sua amiga, me conta, você já pensou em ficar com garotos"?

- É, não seria muito legal. - Concordei.

- É claro que não. Nós temos que ir com calma, para não assustar a garota.

- Mas então o que podemos fazer? - Perguntei.

- Eu posso tentar sondar alguma coisa com ela durante a semana. Talvez possa chamar ela para almoçar, algo do tipo.

- Seria ótimo.

Nós terminamos de comer e enquanto eu lavava nossa louça ela terminava de limpar a mesa. Eu ainda pensava em como ajudar a Marcella então falei para ela:

- O que eu precisava mesmo era ver mais de perto como está a relação deles. Para então decidir o que podemos fazer.

Ela encostou no balcão me olhando.

- Que tal uma noite de garotas? - Ela sugeriu. - Nós podíamos convidá-las para vir dormir aqui, assistir um filme, tipo uma festa do pijama.

- Seria uma ótima. - Concordei. - Pode ser no próximo sábado? No domingo elas não tem aula e nós não precisamos trabalhar.

- Por mim tudo bem. Você convida?

- Falo com elas durante a semana.

- Tudo bem.

Terminei de guardar a louça e olhei para ela:

- Bom, vou tomar um banho e dormir. Boa noite e obrigada pela companhia.

Ela pareceu espantada com o que eu disse, mas respondeu:

- Boa noite Rafaella.

Eu subi para o meu quarto e antes de entrar no chuveiro ouvi a porta do seu quarto se fechar também.
Após o banho, deitei na minha cama e repassei os acontecimentos do dia. Nós sobrevivemos ao primeiro dia. O que já é muito mais do que nossa família e amigos mais próximos poderiam imaginar.

Eu posso não ter muita certeza sobre o que fazer para ajudar a minha irmã, mas o meu plano para conquistar Gizelly já está sendo colocado em prática.
Pensando nisso adormeci.

The Few Things  (GIRAFA-VERSION) Onde histórias criam vida. Descubra agora