Happy Birthday

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Os dias que se seguiram foram um emaranhado de azar e estresse, com minha mãe me enchendo sobre a distância de Vincent e como "meus óvulos estavam atrofiando dentro de mim" palavras inteiramente de dona Valerie, toda aquela conversa de filhos reviravam não apenas meus olhos, mas meu estomago me fazendo rejeitar os ovos mexidos. Hoje era o tão esperado dia do meu aniversário, a casa estava um caos, o balcão da cozinha cheio de flores com cartões de pessoas que eu mal fazia ideia de como sabiam meu endereço, acordei com um áudio extremamente romântico e meloso de Vincent que se desculpou um total de 10x e eu não estou brincando por não estar no meu aniversário, não respondi e não iria, era uma afronta me mandar um áudio deste sabendo que meu maior desejo era o ter por perto, mas nesta altura do campeonato eu preferia-o longe. Coloquei a mão no rosto e respirei fundo, meus pulmões foram preenchidos por aquele perfume amadeirado que tinha como dona os olhos azuis turquesa, olhei assustada ao redor da cozinha, procurando-a. Larga de ser burra Victoria esperava o que? Ela parada na sua cozinha desejando um feliz aniversário, ela deveria estar enrolada nos cabelos loiros e sedosos de Katherine, fiz uma careta com o meu pensamento. Argh que manhã de aniversário péssima!
Subi para meu quarto e preparei um banho relaxante, eu precisava curtir o meu aniversário, entrei na banheiro, coloquei minha melhor playlist, tomei um gole do chá que havia pedido para Meg minha empregada preparar, meus pensamentos hora ou outra entornavam naqueles malditos olhos, céus eu desejaria jamais ter esbarrado com ela. Estava quase cochilando quando o furacão vermelho entrou varrendo tudo:
- HAPPY BIRTHDAY MY FRIEND – Anne entrou com a maior animação do mundo e em sua mão estava o meu bolo preferido de frutas e uma escrita que era bem do feitio de Anne "29 anos sendo a maior doutora gostosa"
- Amiga – olhei com os olhos marejados – eu te amo tanto – disse saindo da banheira e alcançando o roupão
- Eu amo seios peitos – riu travessa – olha isso, com 29 anos é raro, conta a verdade você fez algo ai – disse me apertando, revirei os olhos – também te amo sua ranzinza.
Logo comecei a chorar, sentada na mesa de café na varanda enfrente ao meu bolo preferido, um choro embargado que saia do fundo do peito e transbordava sobre as frutas caramelizada:
- Meu Deus, isso é um aniversário ou um velório? – Anne se sentou e segurou minhas mãos – Eu juro por Deus que se eu te perguntar o motivo do choro e você abrir a boca pra pronunciar a letra V de Vincent, você vai passar seus 29 anos de olho roxo e sem dente porque vou te dar um murro – disse sem freio e me olhando séria
- N-não – soltei entre soluços e um riso – não é o Vincent, ou minha mãe, ou qualquer outra merda – respirei fundo e limpei as lagrimas - antes fosse algum desses motivos
- Ual, é algo muito importante então – me olhou – vamos lá querida eu não sou a turma do Scooby-Doo não, fala o que está acontecendo para a conselheira espiritual Anne te ajudar
- Você é muito tonta – eu ri, era bom ter Anne aqui, sem ela eu estaria em completo surto – é Gianna – soltei sem ao menos pensar.
Pela primeira vez em 29 anos Anne parou, abismada, seus grandes olhos verdes me olhando, a boca entre aberta, abriu e fechou várias vezes:
- Gente... – foi tudo o que o cérebro conseguiu raciocinar
- Meus Deus Anne, pela primeira vez na vida eu vou te pedir pra falar alguma coisa – disse nervosa
- Amiga... – buscou palavras – ela transa bem?
- Sério isso? – me joguei no encosto da poltrona e ri – transa, esse é um dos motivos do colapso – coloquei a mão na cara
- Você está apaixonada por ela – me olhou tensa – se ela for igual ao irmão, é... – fez uma pausa dramática – você tem todos os motivos para chorar
- Você não está ajudando – olhei brava
- Ai amiga, você quer que eu faça o que? – respirou fundo – olha eu sei que é complicada a situação, eu não sei o que aconteceu entre vocês mas foi nítido a conexão desde o primeiro dia, sei que você é uma figura pública e percebi que ela não correspondeu da forma que você esperava, mas hoje é seu dia, então pelo amor de Deus hoje é o dia que você nasceu e não o dia que morreu, então tira essa cara de enterro e vamos pro salão, você tem que estar deslumbrante para sair em todas as revistas e ela ver a doutora mais gostosa de todos os tempos, vai botar esses peitos pra jogo – eu soltei um sorriso e a olhei – eu sei, também me amo – disse e saiu saltitando

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Anne estava em cima da hora, como sempre, arrastando Victoria para o salão, uma das últimas escapadas que ela ainda conseguia ter em meio a tanto caos. No caminho até o carro, Anne estava radiante, como se fosse o aniversário dela, e mais uma vez a amiga não poupava comentários irônicos sobre os "peitos rejuvenescidos" de Victoria e seu "futuro de musa das revistas". Victoria a deixava falar, sem vontade de argumentar. Ela sabia que era o único momento do dia em que ela poderia tentar escapar da pressão que pairava sobre ela.
O salão estava com um cheiro de laqueado e esmalte fresco, o som de secadores de cabelo e risadinhas abafadas de outras mulheres se misturava com a música suave de fundo. Anne imediatamente se apoderou de uma cadeira, jogando os pés para cima e pedindo a manicure que cuidasse dos seus dedos com uma excentricidade bem sua. Victoria, por sua vez, se sentou, ainda pensativa, observando sua imagem no espelho. Ela sabia que Anne queria que ela fosse a estrela da festa, uma versão mais exuberante de si mesma. A transformação estava em andamento.
Anne, com seu jeito irreverente, insistiu que Victoria usasse algo mais ousado. Ela estava cansada de ver sua amiga escondendo-se atrás de vestidos sóbrios e sem graça, como se fosse uma médica que precisasse de um uniforme o tempo todo. Então, Victoria, contrariando os conselhos maternos e ignorando os padrões de decência que sua mãe sempre tentou impor, decidiu pegar um vestido mais ousado.
Ela escolheu um modelo vermelho, justo e de um tecido leve que se movia com cada passo, um decote profundo e uma abertura lateral que revelava mais do que costumava mostrar. O vestido deixava à mostra as curvas que ela tanto tentava esconder, e a ousadia do look foi uma forma de protesto silencioso contra a pressão de todos os lados — a pressão de sua mãe, a pressão de Vincent, a pressão para se comportar como uma "doutora respeitável". O vestido provocativo parecia ser a única forma de expressão que Victoria ainda conseguia controlar naquele dia. Quando ela saiu do provador, Anne ficou em êxtase.
– Uau! Isso aqui vai fazer história, amiga. O mundo vai parar! Você está deslumbrante. Se o seu aniversário for metade disso, você já está ganhando. – Anne disse, com aquele sorriso travesso que sempre fazia Victoria rir, mesmo nas situações mais tensas.
Victoria olhou para si mesma no espelho e, pela primeira vez no dia, um sorriso genuíno apareceu. Ela se sentiu poderosa, mas também vulnerável. Ela não tinha certeza do que queria, mas naquele momento, no fundo, ela sabia que estava tentando se reinventar. Ela queria dar o que os outros esperavam dela e, ao mesmo tempo, ir contra tudo o que a limitava.

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⏰ Última atualização: Nov 06 ⏰

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𝐀𝐭𝐫𝐚𝐜𝐚𝐨 𝐅𝐚𝐭𝐚𝐥 (lésbica +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora