O Peso do Poder

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Agatha caminhava pela floresta, as folhas secas estalando sob seus pés enquanto a brisa fria da manhã envolvia seu rosto. Em sua mão, segurava o cordão que havia arrancado do pescoço da jovem bruxa — um pequeno amuleto de cristal preso a uma corrente simples, mas que ainda parecia pulsar com uma leve energia, como se algum fragmento da vida da garota tivesse ficado preso ali. Agatha segurou o amuleto por um instante, absorvendo seu peso e o que ele simbolizava.

Atrás dela, os gritos de Eloise e Henry ecoavam pela clareira, angustiados e cheios de horror. Agatha não olhou para trás, seus passos eram firmes e decididos, como se aquela cena terrível não fosse mais do que uma lembrança distante. O casal que a havia acolhido gritou por socorro, mas nada que dissessem ou fizessem poderia mudar o que acabara de acontecer. Agatha se distanciava mais a cada passo, deixando para trás um rastro de escuridão.

Ela sabia que esse era apenas o começo de sua jornada, mas, mesmo assim, sentia uma inquietação crescer dentro de si. Em algum lugar profundo, uma voz insistente a perturbava. Embora houvesse prazer em sua ascensão, uma pequena sombra de dúvida ainda teimava em se esconder em seu peito. Ela sacudiu a cabeça, tentando afastar aquele pensamento indesejável.

Finalmente, quando os gritos do casal não passavam de ecos distantes, Agatha parou. Ela olhou para o amuleto em sua mão, estudando cada detalhe do cristal, que agora parecia levemente opaco, como se a última centelha de vida da jovem tivesse se esvaído com ela. Sentindo-se mais determinada, Agatha colocou o colar em volta de seu próprio pescoço, como um troféu, um símbolo de seu poder recém-descoberto.

Ao continuar pela floresta, Agatha sentiu a energia da terra ao seu redor. As árvores, o vento, as sombras entre as folhas — tudo parecia sussurrar, como se respondessem à sua presença. Ela sabia que estava se tornando algo que jamais imaginara: uma força indomável, alguém cujo poder não tinha limites, mas que também trazia uma escuridão perigosa e envolvente.

Porém, conforme a escuridão a consumia, uma presença inesperada parecia segui-la. Às vezes, ela tinha a sensação de ser observada, um peso invisível em sua consciência, como se alguém ou alguma coisa estivesse à espreita, aguardando o momento certo para se revelar.

Agatha parou novamente, escutando atentamente, mas a floresta estava em silêncio absoluto, quase como se estivesse em luto. Ignorando o desconforto, ela respirou fundo e seguiu em frente, decidida a deixar para trás qualquer fragilidade.

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Ao cair da noite, Agatha chegou a um vilarejo distante, escondido entre montanhas e campos escuros. As luzes das cabanas tremeluziam ao longe, e ela caminhou na direção das casas com a expressão firme e impassível. Sabia que precisaria encontrar um novo abrigo e, talvez, algumas respostas para o que estava começando a se manifestar dentro dela.

Ela entrou em uma pequena estalagem, onde os olhos dos poucos moradores presentes a seguiram com curiosidade e desconfiança. Seus trajes estavam empoeirados, e sua postura exalava um ar de mistério que despertava cautela nas pessoas ao redor. Ao sentar-se em um canto isolado, ela analisou o ambiente, observando cada detalhe, procurando entender a dinâmica daquele novo local.

Enquanto esperava por alguma bebida para afastar o frio, uma figura sentou-se ao seu lado. Era uma mulher idosa, de olhos intensos e semblante austero, que parecia ter algo incomum em sua presença. Agatha ergueu uma sobrancelha, intrigada.

"Você traz um peso em seu espírito," disse a mulher em voz baixa, encarando-a com olhos profundos. "Um peso que não se pode esconder."

Agatha forçou um sorriso. "E o que faz pensar que sabe algo sobre o que carrego?"

A mulher sorriu, sem qualquer receio. "Porque eu vejo além do véu. E vejo em você o toque da morte, o cheiro dela, como um rastro invisível. Tão jovem… mas tão vazia."

Agatha conteve a surpresa, disfarçando-a em um olhar impassível. Era como se aquela mulher pudesse ver através dela, além das aparências, para o coração de trevas que agora pulsava em seu interior. Mas ela não daria àquela estranha o prazer de mostrar qualquer fraqueza.

"Talvez o toque da morte esteja apenas de passagem," Agatha retrucou, a voz calma e afiada.

A mulher sorriu novamente, inclinando-se um pouco mais perto. "A morte nunca passa em vão, querida. Ela sempre deixa marcas. E, às vezes, essas marcas nos seguem... até que nos consumam."

Com essas palavras, a mulher levantou-se e saiu da estalagem, deixando Agatha sozinha com um eco inquietante no peito. Aquela noite, enquanto o silêncio pairava sobre o vilarejo, Agatha sentiu o peso do colar em seu pescoço, lembrando-a da jovem bruxa que ela havia drenado. E uma única pergunta, amarga e penetrante, começou a atormentar sua mente:

Será que, ao devorar as forças dos outros, ela também estava perdendo algo de si mesma?

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Sentada sozinha na penumbra da estalagem, Agatha ainda sentia o eco das palavras da velha sobre a morte. Algo naquelas palavras havia despertado nela um incômodo que há tempos não sentia. Aquela figura, sua voz baixa e carregada de mistério, parecia falar direto à escuridão que crescia dentro dela. Ainda assim, Agatha permaneceu impassível, tentando ignorar o desconforto.

Minutos depois, um homem alto e robusto, envolto em um manto pesado, sentou-se ao lado dela. Ele possuía um ar de viajante e parecia saber mais do que qualquer um ali. Com um tom casual, ele começou a falar sem sequer olhar para ela.

"Você me parece alguém que procura respostas," disse ele, com uma voz rouca e cansada. "E se estiver interessada em magia antiga… posso lhe contar uma história."

Agatha franziu a testa, intrigada. "Histórias não me interessam," ela respondeu, tentando soar desinteressada.

"Ah, mas essa é especial," continuou o homem, sorrindo levemente. "Nas profundezas das montanhas da Transilvânia, onde os segredos da magia são mantidos há séculos, há uma lenda sobre o Cetro das Almas. Dizem que ele concede poder absoluto, um poder que transcende a própria vida."

Agatha estreitou os olhos, agora verdadeiramente interessada. "E por que alguém como você me contaria isso?"

"Porque vejo que busca algo além do que essa terra pode oferecer. Talvez você esteja atrás de algo que ninguém mais entende, algo que só os antigos poderiam conceder."

Ele então contou a história:

> "Dizem que o Cetro das Almas foi forjado por uma ordem antiga de bruxas e feiticeiros, nas profundezas das montanhas da Transilvânia, um lugar onde ninguém ousa pisar sem propósito. Esse cetro guarda a energia vital das almas aprisionadas ao longo dos séculos — espíritos poderosos, que se uniram a ele, tornando-o a mais pura fonte de magia. Aqueles que o possuem podem tocar a essência da própria morte, canalizar o poder das almas que já partiram e absorver o poder de qualquer um que ousar enfrentá-los."

A descrição do cetro acendeu uma chama dentro de Agatha. Se possuísse aquele artefato, ela teria um poder além de qualquer limite — um poder que a faria imbatível e permitiria que controlasse a vida e a morte. Ela não precisaria mais depender do poder alheio, sugá-lo com cautela; teria toda a força necessária para criar um novo coven sob sua própria vontade, talvez até moldar o destino da própria magia.

"Por que eu confiaria nessa lenda?" Agatha perguntou, disfarçando o interesse.

O homem apenas sorriu, seus olhos brilhando com um misto de ousadia e mistério. "Porque você sabe que é verdade. Sente isso em seu sangue, na escuridão que carrega. Apenas aqueles destinados a encontrar o cetro conseguem ouvir seu chamado. E eu vejo que ele já sussurra para você."

Sem mais uma palavra, o homem se levantou e foi embora, desaparecendo na noite.

Agatha permaneceu em silêncio, sentindo o peso da revelação. A ideia do cetro, da promessa de poder absoluto, invadia sua mente como uma melodia irresistível. E então, como se algo dentro dela tivesse despertado, Agatha soube que aquele seria seu novo objetivo: encontrar o Cetro das Almas, o artefato que a faria transcender todos os limites que conhecia.

Agatha: O Abraço da Morte.Onde histórias criam vida. Descubra agora