conexão profunda

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O corredor sombrio do castelo se alongava diante de Agatha e Rio. A arquitetura retorcida e os sussurros distantes ecoavam como um convite sinistro, como se o próprio castelo estivesse testando sua determinação.

Agatha avançava, os passos pesados de cansaço, mas com o olhar firme, sem deixar transparecer o esgotamento. Rio seguia logo atrás, observando cada movimento dela com um leve sorriso enigmático.

“Não parece muito confortável com o ambiente, Agatha,” Rio comentou, a voz quase um sussurro provocante.

“E você? Como consegue parecer tão confortável num lugar onde até as paredes conspiram contra nós?” respondeu Agatha, com um tom ácido.

Rio deu de ombros, um brilho divertido no olhar. “Eu sou a Morte. Este lugar, para mim, é como uma reunião familiar. Mas para você... bem, me pergunto quanto tempo vai aguentar.”

As duas seguiam em silêncio pelo corredor longo e estreito, cercadas por uma penumbra inquietante que parecia pairar nas paredes antigas. Agatha mantinha a postura firme, mas o cansaço lhe pesava nos ombros e Rio percebia. A tensão entre as duas permanecia presente, como um fio invisível que puxava seus passos, ligando-as numa cumplicidade não declarada, embora ainda velada pela desconfiança mútua.

De repente, uma névoa densa começou a se formar ao redor delas, preenchendo o ar com um perfume agridoce, algo que evocava lembranças antigas e esquecidas. Agatha sentiu seu peito apertar; havia algo na atmosfera que lhe causava uma sensação incômoda de antecipação.

Antes que pudesse reagir, o ambiente ao redor se transformou. Estavam agora num espaço diferente, rodeadas de figuras familiares, mas perturbadoras. A névoa pareceu se condensar, tomando forma em torno delas, até que Agatha se viu em frente a uma cena dolorosamente conhecida: o ritual que levou à morte de sua mãe, a traição, o poder drenado do coven, e todos os rostos das bruxas que já havia enfrentado e derrotado.

Rio observava, seu olhar silencioso, enquanto as imagens se desenrolavam como memórias vivas. Era como uma exposição nua e crua das dores de Agatha, cada perda, cada sacrifício. Cada som, cada visão pareciam trazer de volta a culpa e a dor que ela pensava ter enterrado com sua frieza e ambição.

Agatha tentou dar um passo para trás, mas era como se estivesse presa no lugar, obrigada a confrontar cada cena. Sua mãe, estendida no chão, os olhos inertes e vazios, a imagem de uma figura forte que se tornara frágil em seus últimos momentos. As bruxas que caíram em suas mãos, e cujos poderes ela consumiu sem hesitar. Era tudo tão real que sentia as emoções se espalhando dentro de si como um veneno lento.

A voz sussurrante surgiu então, ecoando em sua mente, invocando suas ambições, tentando convencê-la de que cada morte fora um passo necessário para sua própria glória. Mas desta vez, as palavras da voz não a fortaleciam. Em vez disso, trouxeram à tona a culpa e o remorso que ela se esforçara tanto para reprimir. Sentiu-se vulnerável, quebradiça, como se as barreiras que construíra tivessem se despedaçado naquele instante.

Rio observava tudo com uma expressão impenetrável, mas sua postura era outra. O habitual sarcasmo se desfez, e o que restou foi uma atenção quase cuidadosa, embora distante. Ela estava diante de uma Agatha que nunca vira antes: frágil, atormentada, uma versão dela que, por um instante, parecia tão humana quanto qualquer outra mortal.

O olhar de Rio se suavizou, mas ela manteve a postura. Sabia que esse era o teste que o castelo impunha a Agatha, uma prova que apenas ela poderia superar sozinha. Mesmo assim, uma centelha de dúvida a tocou, e por um momento ela questionou sua própria decisão de permitir que Agatha enfrentasse aquilo sem interferir.

Agatha segurava a cabeça com as mãos, os olhos arregalados. Cada imagem, cada grito daquelas memórias pareciam esculpir feridas profundas em sua alma. Estava de volta ao ponto onde tudo havia começado, confrontando as decisões que a levaram até ali. E, à medida que as lágrimas surgiam em seus olhos, ela percebeu que todo o poder que havia acumulado, todo o orgulho e ambição, não eram suficientes para afastar o peso da culpa que retornava, avassaladora, como uma tempestade.

Agatha: O Abraço da Morte.Onde histórias criam vida. Descubra agora