Encontro Sombrio

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A floresta estava mergulhada em uma escuridão quase total, o silêncio pesado cortado apenas pelos passos determinados de Agatha. Ela sentia-se cada vez mais próxima de seu objetivo, mas uma inquietação a invadia, como se algo a estivesse observando, aguardando o momento certo para se revelar. Ao fundo, o vento sussurrava estranhos murmúrios, e a bruxa, pela primeira vez em muito tempo, sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

De repente, uma figura surgiu no meio do caminho, como se tivesse se materializado da própria escuridão. Ela usava um manto escuro, mas seu rosto tinha uma beleza hipnotizante e perigosa, com olhos profundos que pareciam ver através de Agatha. Era a mesma figura do sonho que Agatha tivera dias antes, o mesmo rosto que aparecera nos recônditos de sua mente, envolvendo-a em uma sensação de poder e mistério.

“Finalmente nos encontramos, Agatha,” disse a figura, num tom que era ao mesmo tempo sedutor e ameaçador. Havia um brilho sarcástico em seu olhar, como se estivesse se divertindo com a surpresa de Agatha. “Sonhou comigo, não foi? Posso ver isso em seus olhos.”

Agatha ergueu o queixo, tentando recuperar sua postura. “A morte em pessoa se apresentando no meio de uma floresta escura. Sabe, não é o que eu chamaria de boas-vindas, mas devo dizer que você é... impressionante.”

A mulher — a própria Morte, ao que tudo indicava — sorriu de canto, com uma diversão fria. “Impressionante? Eu diria o mesmo de você,” disse ela, com um brilho malicioso. “É raro ver uma bruxa tão determinada e… atraente.” Rio examinou Agatha de cima a baixo, com um olhar que, por um instante, fez o coração da bruxa bater mais forte.

Agatha revirou os olhos, tentando disfarçar o leve desconforto que sentia. Não vou cair nesse jogo, pensou. “Muito me lisonjeia, mas vamos direto ao ponto. O que você quer, Morte? Estou em busca de algo que é bem importante pra mim.”

Rio cruzou os braços e deu um passo à frente, bloqueando o caminho. “Você está em busca do cetro, o mesmo que protege o equilíbrio entre vida e morte,” disse ela, o tom agora mais sério. “Esse objeto não é apenas uma fonte de poder. Ele representa um perigo para a ordem natural que eu tanto me esforço para manter. E você, Agatha... se continuar, estará me forçando a agir.”

Agatha riu, inclinando a cabeça com sarcasmo. “Oh, a ordem natural! Que comovente. Mas, francamente, o que me impede de simplesmente continuar o meu caminho? Ou... tomar um pouco do seu poder para a minha jornada?”

Rio aproximou-se dela, tão perto que Agatha pôde sentir um frio sobrenatural emanar de seu corpo. “Tome meu poder, e será o seu último ato,” disse Rio, com um sorriso afiado. “Eu sou a própria morte. Absorver minha essência não te daria nada além de um encontro imediato comigo... do outro lado. E, para o seu azar, matar você diretamente não me é permitido.”

“Conveniente,” respondeu Agatha, cruzando os braços. “Parece que temos um empate.”

Rio inclinou-se, como se apreciasse cada palavra. “Não exatamente. Eu posso tornar sua vida... extremamente complicada, a ponto de desistir desse cetro. Cada passo seu será atormentado por lembranças, sussurros, ilusões. Até perceber que a obsessão pelo poder vai te levar a perder algo muito maior.”

Agatha arqueou a sobrancelha, um sorriso provocativo surgindo em seu rosto. “Se isso for uma tentativa de me assustar, minha querida Morte, devo dizer que está falhando miseravelmente. Eu tenho o que preciso para enfrentar esses espíritos guardiões, e vou conseguir o cetro, quer você goste ou não.”

Por um momento, o olhar de Rio suavizou, como se ela realmente enxergasse o que restava de vulnerabilidade em Agatha. “Eu estarei lá quando isso acontecer. E, acredite, Agatha, o que você perderá não será apenas o cetro. Esse desejo cego pelo poder vai cobrar um preço que nem mesmo você está disposta a pagar.”

Agatha sentiu a ameaça latente nas palavras, mas recusou-se a demonstrar medo. Apenas retribuiu o olhar de Rio com um sorriso desafiador.

“Veremos,” disse Agatha, antes de passar ao lado de Rio e continuar seu caminho, deixando para trás a figura sombria que a observava desaparecer entre as árvores.

Mas, mesmo depois de afastar-se, a presença de Rio permaneceu em sua mente, como uma sombra inescapável.

Agatha continuou a caminhar, mas a presença de Rio logo atrás dela era inconfundível. A cada passo, podia sentir o olhar afiado da Morte, como uma sombra inescapável. Parou de repente e se virou, encarando Rio com um olhar desafiador.

“Está realmente me seguindo?” perguntou Agatha, cruzando os braços. “Vai mesmo arriscar se meter no meu caminho, Morte?”

Rio apenas deu de ombros, exibindo um sorriso enigmático. “Considerando que o ‘meu caminho’ envolve manter o equilíbrio entre vida e morte, eu diria que sim, estou exatamente onde deveria estar.”

Agatha estreitou os olhos. “Então é isso? Você acha que pode me impedir de encontrar o cetro porque... atrapalha o seu ‘trabalho’?”

“Exato,” respondeu Rio, o tom tão frio quanto sua presença. “O cetro é uma ameaça. Ele mexe com a linha da vida e da morte, distorce o fluxo natural, e isso... complica o meu trabalho. Você o encontrando só piora as coisas.”

“Entendo,” Agatha disse, aproximando-se com um sorriso cínico. “Mas, se é tão perigoso, você não deveria estar protegendo o cetro e me deixando para trás?”

“Se as coisas fossem tão simples, talvez eu fizesse isso,” Rio replicou. “Mas, com você, Agatha, não funciona assim. Preciso estar por perto para ver exatamente o que pretende fazer... e impedi-la, se necessário.”

Agatha riu, despreocupada. “Impedir-me? Adoraria ver você tentar. Afinal, o que pode fazer, além de falar e me seguir como uma sombra?”

Rio cruzou os braços, sem perder a compostura. “Subestime-me o quanto quiser, mas vou fazer o que for preciso para que esse cetro não caia nas mãos de uma bruxa obcecada. Não estou aqui para te proteger ou fazer concessões; estou aqui para evitar que o equilíbrio da própria morte se rompa. Você mexe com algo muito maior do que sua ambição consegue alcançar.”

Agatha sentiu uma onda de raiva, mas logo controlou a expressão, deixando um sorriso debochado surgir em seu rosto. “Então, temos um problema... porque minha ambição só está começando.”

Rio estreitou o olhar, mas não respondeu. Em vez disso, caminhou até ficar ao lado de Agatha, seus passos firmes e imponentes. O recado estava claro: a Morte não recuaria, e a cada passo que Agatha desse, ela estaria presente, pronta para intervir.

As duas continuaram pela escuridão da floresta, como duas forças inevitáveis prestes a colidir. O confronto era inevitável, e ambas sabiam disso.

Agatha: O Abraço da Morte.Onde histórias criam vida. Descubra agora