Capítulo 2

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— Qual é!!! Eu estou pirando com esse suspense. Fale de uma vez, Nanon. — pediu ao erguer as mãos para o alto. Sempre foram bons em se comunicar e estranhava o fato de não estarem conseguindo agora, era torturante.

Era enlouquecedor e o deixava eufórico.

Realmente não deveria hesitar. Amigo que é amigo não abandona, independente das dificuldades ou situações adversas. Eles estão ali, a ferro e fogo. Para tudo e qualquer coisa. Eram anos, não eram meses ou dias. Mesmo que isso envolvesse o amor, nada deveria ser tão complexo ou tão assustador.

Estalou a língua no céu da boca e soltou a voz, talvez rápido demais. — Eu acho que sou gay.

Sabe aquela sensação que dá quando você tira um peso de 200kg dos ombros. Como se você se libertasse de algo que te sufocava a muito tempo.
Talvez a mesma coisa que tomar um picolé gelado em um dia quente para aliviar o calor. Se sentia mais ou menos assim naquele instante.

Mesmo de olhos baixos. Encarar Ohm era com certeza um problema. Tinha receio de sua reação ou que simplesmente levasse aquilo como uma brincadeira.

Não obteve uma resposta imediata e por isso esperou pacientemente por longos minutos. Brincava com os dedos sobre o colo, movendo-os de forma nervosa, mas ainda assim, a resposta não veio.

Decidiu por olhar Ohm e o rosto que deu de cara o surpreendeu. Ele tinha os olhos arregalados e a boca aberta em completa surpresa. As mãos que ele havia levado ao ar, pareciam moles sobre seu colo. Perplexo. Era assim que ele estava. A confusão era visível em seu olhar.

O maior precisou de alguns segundos a mais para processar toda aquela informação. Era demais para ser absorvida tão rapidamente. Estava imóvel e só conseguiu reagir quando notou a língua secar pelo tempo que a boca havia ficado aberta. Piscou algumas vezes e sem jeito, se recompôs.

— Desde quando? — perguntou ao levar a mão à nuca para afagar a si mesmo. — Quero dizer. Tudo bem, isso não faz diferença, só estou surpreso. Surpreso demais, eu acho. Será que você não foi influenciado pelas gravações? — admitiu com um sorriso travado, constrangido.

A brecha já havia sido feita. Não havia mais motivos para hesitar. Não havia nada mais que mudasse o real motivo de suas intenções com aquilo tudo. Estava seguro. Para ele tudo bem, certo? Óbvio que seria estranho, mas ele conseguiria se acostumar. Era Ohm, afinal.

Como um touro que enfrenta toda a manada, Nanon completou. — E eu acho que gosto de você. Do tipo... mais que um amigo. — Desta vez Nanon riu, frouxo e desengonçado. Aquilo não poderia ficar mais estranho do que já estava. E as feições de Ohm naquele dia mereciam com certeza o Oscar de ouro.

Para piorar, Ohm cobriu a face com uma almofada. Ele sempre se escondia quando estava tímido com algo ou surpreendido demais para encarar a realidade. Uma maneira que ele encontrou para evitar situações desnecessárias ou pesadas demais em sua vida. E era uma das coisas que o deixavam extremamente charmoso, diga-se de passagem. — Ohm? — chamou um pouco incerto da própria voz.

O garoto surpreso então pegou a almofada e a arremessou com força na direção do rosto de Nanon que acabou por não conseguir se defender pela rapidez da ação. — Seu filho da mãe! Que merda é essa que está falando?! — As palavras do outro fizeram-nos rir, gargalhar. Aos montes. Parecia que morreria. — Cadê a câmera, só pode ser pegadinha.

Ligeiramente Ohm se levantou do sofá para procurar a tal "câmera" pelo cômodo da casa. Mesmo que a ideia fosse absurda, ele ainda assim, parecia convicto.

O maior então começou a olhar por sobre os móveis, debaixo do sofá, nos cantos perto da cortina e até mesmo atrás da TV. Era impossível não achar engraçado sobre o quão sério ele parecia estar. Tão pouco resistir à sua carinha de inconformado.

Levantou-se do seu lugar e o seguiu atravessando o cômodo até que se colocasse atrás de seu corpo musculoso. A cabeça apoiada sobre o ombro estreito ao ponto de conseguir lhe sussurrar ao pé do ouvido. — Não é uma pegadinha. 

A voz séria arrancou do outro um arrepio que pôde ser sentido mesmo naquela posição. Nanon ainda tentou abraçá-lo, mas Ohm acabou sendo bem mais ágil ao se virar de frente para ele lhe apontando a primeira coisa pontuda que viu pela frente, uma tesoura, abandonada sobre o rack da sala, por algum motivo.

— Se você ousar se aproximar mais do que isso, eu juro que corto isso que você tem aí entre as pernas. — Estava sério o suficiente para que Nanon acreditasse em suas ameaças. Seus olhos correram direto para a cara do amigo, que sequer mudou o semblante. Não era de se admirar.

Nanon bufou quase irônico e com um passo adiante, alcançou o braço de Ohm erguendo-o para o alto enquanto dobrava seu pulso o suficiente para que o objeto pontiagudo caísse no chão ao lado de seus corpos. A perplexidade estampada na face assustada e aquecida do garoto maior era fabulosa, quase charmosa.

Não demorou muito mais para que Nanon puxasse a mesma mão para a própria cintura, obrigando os corpos a se aproximarem ali no meio da sala. — Você acha que se eu quisesse fazer algo com você, eu já não teria feito? — Ele arqueou a sobrancelha quase ironicamente. — Não quero assustar você. Eu quero conquistar você. — completou diminuindo a distância entre os rostos.

Era óbvio que Nanon não estava realmente brincando, ele também era astuto. Ele sempre estava um passo adiante no quesito surpreendê-lo. Sempre foi assim, desde que se conheceram.

Como esperado, a reação de Ohm não havia deixado a desejar. O garoto imediatamente se soltou e empurrou-o pelos ombros, chegando a desequilibrá-lo pela força usada no momento. — Vai sonhando seu merda. Nem ferrando que eu vou me apaixonar por você! Você está confundindo as coisas e eu vou simplesmente fingir que isso não aconteceu. — As palavras ríspidas naquele tom grave, ao invés de intimidá-lo, deixavam-no ainda mais atraído.

Se havia uma coisa que não lhe deixava dúvidas, era que gostava de Ohm. Ele não era um cara perfeito, era cheio de manias, marras, teimoso, além de ser difícil de lidar. Bem difícil. Mas isso também era o motivo de quere-lo.

Por trás de toda a carapaça rígida que ele criava para se defender, havia um cara bom, compreensivo, divertido, cuidadoso, charmoso e um ótimo amigo. Era por esse cara que havia se apaixonado. Era por esse cara cheio de defeitos que havia se apegado e era por esse cara complicado e de cara engraçada que ele agora lutava.

Dois segundos foram necessários para que Nanon novamente agisse, tentando prender o garoto maior entre seu corpo e a estante da sala ao qual ele acidentalmente ficou encurralado.

Seu olhar estreito era intenso, assim como o movimento lento e profundo de seus pulmões ao secarem os lábios bem contornados de seu amigo. — Isso é o que vamos ver, Ohm. Você tem ideia do quanto eu tenho pensado nisso? Do quão corajoso eu precisei ser para te expor tudo isso? — soltou convicto.

Se era para ser amor, uma hora seria. Estar diante daquela situação, por mais complexa que parecesse, o deixava cheio de esperança. Agarraria o seu 1% de chance com unhas e dentes.

Ninguém poderia amá-lo mais ou amá-lo por inteiro como ele amaria. Estava assustado, isso era fato mas, não desistiria. Agarraria sua confiança e lutaria, até sem forças.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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Angels like you (Ohmnanon)Onde histórias criam vida. Descubra agora