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MARIANA

Chegamos à cidade no meio da tarde. O burburinho das pessoas, o som das carroças passando e os vendedores gritando suas mercadorias eram um contraste gritante com o silêncio constante e a paz do campo ao redor da casa de Augusto.

— Madame Angelique é a melhor modista da cidade. — disse Rute enquanto caminhávamos pela calçada estreita de pedras. — Ela a deixará esplêndida.

Eu apenas murmurei em resposta, sem muita vontade de me envolver naquele assunto. Toda essa ideia de casamento era algo que eu estava tentando processar lentamente. E ter Rute ali era maravilhoso, pois ela cuidaria de tudo, e eu apenas diria sim para qualquer coisa que ela escolhesse.

Quando finalmente chegamos à loja da tal Madame Angelique, uma placa dourada com o nome dela brilhava na entrada.

Rute abriu a porta com confiança, e entramos no lugar perfumado. Senti o perfume intenso e adocicado do ambiente, misturado ao aroma de tecidos novos e rendas.

O interior da loja era quase uma overdose de cor e brilho: manequins com vestidos exuberantes, espelhos em molduras douradas e armários de madeira escura exibindo tecidos finos, jóias e adornos.
vestidos extravagantes.

Uma mulher loira e muito bonita, veio nos receber quase que imediatamente.

Com certeza devia ser a modista!

Ela era uma mulher de meia-idade, vestida de maneira tão exagerada quanto a decoração de sua loja, com joias em todos os dedos e um penteado alto e perfeitamente arrumado.

— Rute! Há quanto tempo não a recebo aqui, querida! — Ela exclamou. — O que traz você e essa bela jovem aqui, hum?

O que Rute vinha fazer aqui?

— Viemos escolher alguns vestidos. — disse Rute, sorrindo. — E também... um vestido de noiva.

O rosto de Madame Angelique mudou instantaneamente. Seus olhos se arregalaram e ela segurou o fôlego por um momento, pousando a mão no peito, como se aquilo fosse a melhor notícia que ela havia ouvido em semanas.

— Um vestido de noiva? Não poderia haver honra maior! — Ela disse, quase incrédula. — E quem seria o cavalheiro afortunado?

— O senhor Valente. — respondeu Rute, apontando para mim com o queixo. — Ele vai se casar com a jovem Mariana.

No instante em que ouviu o nome, a mulher engoliu em seco e, por um momento, seu olhar mudou, ficando um pouco mais sério.

Primeiro ela me olhou com algo parecido pena e pude ouvir um "pobrezinha", saindo meio que sussurrado dos lábios dela.

Olhei para a tal madame dos pés à cabeça, pronta para perguntar o que ela queria dizer com aquilo, porém, logo em seguida, ela suavizou a expressão, mantendo o entusiasmo exagerado.

— Monsieur Valente! Claro! Ele é conhecido por  ser um homem muito importante. Muito importante, sim. — Eu podia ver os cifrões brilhando nos olhos da mulher. — Bem, será um casamento esplêndido! O vestido deve ser uma obra de arte, de verdade.

Ou seja, caro. Muito caro.

Eu me segurei para não revirar os olhos.

Olhei para Rute, que me devolveu um olhar divertido, e então nós duas rimos discretamente da forma espalhafatosa com que Madame Angelique conduzia a conversa, sempre abanando o rosto com um leque.

— Não dará tempo. — avisou Rute. — O casamento acontecerá em uma semana.

Madame Angelique arqueou as sobrancelhas e me olhou com uma curiosidade afiada.

— Em uma semana? — Ela repetiu lentamente, seus olhos estreitando-se. — Há alguma razão para tanta pressa, mademoiselle? —  Vi seu olhar desviando por um instante até minha barriga, insinuando de maneira óbvia que eu poderia estar grávida.

Aquela suposição era tão absurda, mas ao mesmo tempo, eu sabia que era exatamente o tipo de fofoca que correria por aquela cidade pequena assim que o casamento fosse anunciado.

Respirei fundo e respondi, tentando manter a compostura:

— Não é nada disso que a senhora está pensando.

Mas a mulher não parecia convencida. Ela me lançou um olhar de desconfiança, embora não tenha insistido no assunto.

— Ora, mas eu não estou pensando nada, querida. Existem certos assuntos que só pertencem a família, e está tudo bem, certo?

Ela começou a puxar vestidos de um armário enorme, expondo camadas de tecido branco e bordados elaborados, como se quisesse me impressionar a qualquer custo.

— Ah, ma chèrie, mas você parece um anjo descido do céu! — exclamou, aproximando-se de mim com aquele olhar quase apaixonado. — Olhe só para essa pele, ela brilha como o próprio sol! Oui! Tenho alguns vestidos que a deixarão belíssima.

Eu me senti desconcertada, mas ao mesmo tempo não pude evitar um pequeno sorriso diante do entusiasmo dela.

Ela me entregou um tecido pesado e brilhante.

— Querida, eu sei exatamente o que vamos fazer! Tenho sedas importadas da França, rendas finas… Nada menos do que o melhor, oui? — continuou ela, com um leve aceno de cabeça.— Veja só, ma chèrie, esses são os mais finos! Feitos de seda pura, bordados à mão. Ficará deslumbrante neste aqui!

Eu o segurei por alguns segundos, sentindo o peso e a riqueza do tecido, mas imediatamente soube que não era o que eu queria.

— Eu prefiro algo mais... simples. — disse, tentando não ofendê-la.

Ela fez uma careta evidente, quase como se eu tivesse insultado sua arte. Com um gesto dramático, ela empurrou o vestido de volta para o armário.

— Simples? Com um noivo como o senhor Valente, você deveria aproveitar a oportunidade! Comprar o melhor, o mais bonito, o mais luxuoso. Quem sabe quantos outros vestidos você poderia levar? — Sua empolgação era evidente, e ela parecia determinada a me convencer a gastar uma pequena fortuna ali.

— Não, realmente só quero algo simples. — insisti.

Mas antes que ela pudesse começar outra rodada de argumentos, Rute interveio, sempre diplomática.

— Talvez possamos ver algumas opções. — Ela sorriu para a modista, piscando para mim de um jeito que dizia "confie em mim". — Podemos levar alguns vestidos bonitos, também, Mariana deve ter roupas bonitas para usar após o casamento. Tem que ficar ainda mais bonita para o marido.

A mulher deu um pequeno grito de euforia, quase como se tivesse vencido uma batalha. Ela então se virou para mim com um bloco de anotações e uma fita métrica nas mãos.

— Vamos, ma chèrie! Suba nesta plataforma, e eu tirarei as medidas. — Ela me guiou até um pequeno palco em frente ao espelho e começou a me medir, murmurando para si mesma.

Rute assistia a tudo, divertindo-se com a situação, enquanto Madame Angelique murmurava sobre tecidos, cortes e detalhes que eu mal conseguia acompanhar.

— Ah, sim! Agora vamos ajuster o modelito, escolher o cetim certo, as fitas certas... um verdadeiro sonho, não?

— Hum... sim? — Respondi.

Rute, por sua vez, apenas sorria e observava, claramente se divertindo com toda a situação.

Após um longo tempo, a mulher disse:

— Pronto! — Madame Angelique anunciou finalmente, se afastando com um sorriso satisfeito. — Agora vamos ajustar o modelo certo para você. Tenho certeza de que será uma noiva linda.

Desci da plataforma, eu mal tinha processado a ideia de me casar, e ali estava, sendo medida e ajustada como uma boneca de porcelana. Enquanto Madame Angelique fazia anotações, Rute se aproximou de mim e colocou a mão no meu ombro.

— Vai dar tudo certo, Mariana. — ela disse em voz baixa, seus olhos calorosos e reconfortantes. — Às vezes, o futuro guarda surpresas, menina. Talvez o futuro seja mais lindo do que você imagina. Nunca se sabe…

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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