flashbacks em itálico!
- Se eu passar mais um segundo nesse carro eu vou vomitar, me deixa sair.
Sinto Malu rapidamente tirando seu cinto e correndo o mais rápido possível para bem longe do carro. A carta do vômito sempre funcionava, só que dessa vez era real. Meu enjoo começou quando passamos perto de um restaurante asiático e algum cheiro não agradou meu nariz. Só que fazem 30 minutos e eu sinto meu estômago querendo expulsar meu café da manhã e luto fortemente contra isso.
Saio do carro me concentrando no cheiro das árvores, da brisa gostosa no rosto, do calor de Pernambuco que me fez estar com protetor solar até dentro do ouvido. Eu odeio vomitar.
Lembro do quanto senti falta dessa calmaria, olho para a árvore onde cravei meu nome aos treze anos de idade, relembrando cada momento da última vez que pus os pés aqui. Principalmente o motivo de ter demorado tanto tempo a voltar. Ouço um burburinho, provavelmente todo o pessoal se cumprimentando mas me mantenho no barulho dos pássaros, na risada de alguma criança não identificada e de repente, sem querer, no cheiro amadeirado que adentra meu sistema do mais completo nada.
Mais de 10 anos com o mesmo perfume.
Tenho medo de me virar mas não adianta adiar o inevitável. Eu estou na casa dele, estranho seria se ele que não estivesse aqui. Meu estômago embrulha mais uma vez, só que agora por pura ansiedade.
Sabe, nunca me considerei uma pessoa hipócrita, de fato, mas voltar para esta casa foi contra muita coisa que eu já disse.
- Não tem mas, Tófani. Ontem foi a melhor noite da minha vida, você sabe o quão importante foi pra mim.
- Eu nunca me senti tão completo e realizado como ontem, João, acredita em mim. Eu só te peço um pouco de paciência.
- Paciência? Só Deus sabe as noites que eu passei chorando com medo de te perder, que essa merda que rola entre a gente acabasse. Agora você conseguiu estragar minha cidade favorita.
- Não fala desse jeito, por favor. Todo mundo aqui te ama, vão suspeitar se você parar de v..
- É com isso que você tá preocupado?
- Não, pelo amor de deus, não quis dizer isso.
- A porra dessa cidade grita teu nome! Não tem mais nada pra mim aqui.
Abro os olhos no susto e vejo em minha frente uma figura de um metro e oitenta com uma camisa no ombro, uma bermuda preta, junto a um copo Stanley e um óculos de sol pendurado numa correntinha.
- Oi, João.
Consigo o perceber sem saber como agir, encarando sua mão estirada, como se quisesse fazer um cumprimento com ela, mas ao mesmo tempo se inclinando pra frente como quem quer abraçar. Em anos, essa distância é a mais perto que chegamos um do outro.
E, num segundo de loucura ou coragem, faço o que tinha que ser feito, marcando mais um item na minha lista de hipocrisia.
Seu peito nu se contrai com o contato repentino mas logo relaxa, sua cabeça encontra a curvatura do meu ombro e se faz por ali, calmamente. Sinto seus braços em minha cintura num aperto tímido que é recíproco. Sinto meu ombro molhado e não questiono.
Neste momento não cabe palavras, talvez nem depois. Em minha cabeça, daqui a pouco, vai ser apenas outra lembrança que compartilhamos. Espero que a última significativa o bastante.
- Oi, Pedro.
*
And baby, I get mystified by how this city screams your name
And baby, I'm so terrified of if you ever walk away
I'd never walk Cornelia Street again-Taylor Swift.
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in different galaxies.
Hayran Kurguninguém sai ileso da deliciosa fase da adolescência, muito menos dois garotos se descobrindo no mundo. as diferenças que crianças não perceberiam começam a ganhar mais destaque mas há apenas tanto sofrimento que alguém consegue aguentar. joão volta...