[7] A Maldição da Memória

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O som do rádio ecoa nos tetos abobadados do hotel dos trouxas.

— O debate público continua a se enfurecer sobre a Maldição da Memória que ainda está se espalhando firmemente pela população bruxa. Aqui na Open Line, continuaremos a fornecer uma plataforma onde o cidadão comum pode dar sua opinião.

— Uma crítica social tão cintilante — Draco diz, e ele pode estar um pouco bêbado. Seu regime de autocuidado pós-Potter envolveu uma quantidade substancial de vinho caro. — Você tem uma opinião? Nenhuma credencial? Sem problemas! Cada opinião é tão válida quanto a outra. — É uma pena, Draco pensa, que não haja ninguém no quarto de hotel vazio para compartilhar seu sarcasmo.

— Nosso próximo chamador é Chaz. Chaz, bem-vindo ao show.

— Sim, Chaz! — Draco grita. — Nos ilumine com suas valiosas percepções! — O vinho espirra em sua taça, pingando sobre a borda do cristal. Sua mãe ficaria escandalizada, mas Draco já passou da boa fase, e ele não está pensando nisso.

— Eu sei o que algumas pessoas estão dizendo. Mas nem tudo é ruim — diz Chaz.

— Espero que seja um pseudônimo, Chaz. Que nome ridículo — Draco diz para sua taça de vinho. Ela não responde.

— Minha mãe ficou destruída depois da guerra. Simplesmente devastada, sabe? Ela tinha esses terrores noturnos...

Há uma pausa e Draco anda de um lado para o outro no piso de madeira em frente a um enorme sofá verde. Era um hotel muito caro.

— Ela acordava gritando, duas, três vezes por noite. Ela sentia falta do meu pai. Sentia muita falta dele.

A estática estala.

Eles o torturaram na frente dela. Ela teve que observá-lo... sim. Ele era um nascido trouxa.

— Bem, isso tudo é muito... trágico. — Draco está falando arrastado, só um pouco.

— Nós não fugimos. Era difícil saber o que fazer, naquela época. Difícil dizer o quão ruim as coisas ficariam. Mamãe se recusou, categoricamente. 'É a nossa casa', ela disse. 'Não podemos deixar que nos expulsem de casa.'

Memórias giram com o vinho e Draco pensa na mansão. Nos pavões e nas rosas brancas de sua mãe.

— Eu também não teria ido embora — ele diz, e vira o resto de sua taça de um só gole. É tudo muito indigno.

— Eles vieram no meio do dia. — Chaz ri daquele jeito vazio que não tem absolutamente nenhum humor. — Você não deve fazer maldades em uma tarde ensolarada. Eu sempre pensei que seria no meio da noite. Eu pensei que eles usariam máscaras.

Draco não quer ouvir isso.

— Mamãe implorou para que a levassem. Para machucá-la em vez disso. Eu não vi nada. Eles me empurraram para o armário embaixo da pia. Eu tinha doze anos, mas era pequena o suficiente. Eu a ouvi enquanto eles-

— Você não precisa dizer mais nada se não quiser — interrompe o apresentador.

— É. — Há uma pausa na linha. — Eles- uh- eles o mataram eventualmente. E eles simplesmente deixaram a mãe para trás. Com sua vida e... bem, com suas memórias.

— Sinto muito pela sua perda — diz o anfitrião, e Draco se maravilha com o quão vazia essa gentileza social se tornou; houve perdas demais.

— Foi tudo um pouco bagunçado, por um tempo. Sentindo que deveríamos ser gratos, que Harry Potter acabou com a guerra e que não morremos. Que sobrevivemos. Mas mamãe – ela nunca superou isso. Ela ainda estava tendo pesadelos até algumas semanas atrás.

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