[12] Um bolso cheio de pedras

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A cabeça de Draco parece inchada, uma ferida infectada cheia de vasos sanguíneos. Intumescida, pronta para estourar – como se houvesse mais sangue em suas veias, como se ele fosse maior por dentro. É doloroso. É pesado.

Há um som suave por baixo de tudo, o som de um toca-discos girando em uma trilha em branco. Um arranhão suave de uma agulha passando sobre um vinil vazio, crepitando, como se estivesse tentando agarrar algo e não houvesse nada para encontrar.

O peso diminui por alguns instantes, e às vezes Draco consegue ouvir pessoas paradas acima dele, consegue sentir a pressão engomada de lençóis baratos limpos com alvejante.

— Quando ele vai acordar? — pergunta uma voz feminina.

Granger, Draco pensa. O que Hermione Granger está fazendo aqui?

— Eles-eles não sabem. — Uma voz masculina. Uma que ele deveria saber, mas não sabe. Ele deveria-deveria-

— Mas nós encontramos Creevey. Nós o faremos desfazer isso — Granger diz. — Ele vai se lembrar de você, Harry. Eu sei que ele vai.

Harry? Harry quem?

.

Pula.

.

Para cima e para baixo, para cima e para baixo. O disco gira e gira, estalando enquanto se arrasta sobre o nada. Não há nada em que se segurar. Nenhum sulco para fazer um som.

O homem estranho está sempre lá, quando ele surge novamente. Ele é um punctum de homem, Draco pensa, olhando para a rigidez de seu cabelo preto, o verde de seus olhos que exigiam sua atenção. O acidente que me pica.

— Você está — A voz do homem se arrasta pelo cascalho. É baixa. Rouca. — Você está acordado?

Draco olha para cima. Ele é impossível, Draco pensa e se pergunta como ele o conhece, o que ele está fazendo ao lado de uma cama de hospital.

Tecido cicatricial branco esculpe uma borda irregular na testa do homem, cutucando a ponta de sua sobrancelha direita. Um rosto que me machuca, é pungente para mim. Os braços de Draco são o peso de postes de luz, mas ele tenta alcançar de qualquer maneira.

— Que cicatriz estranha — diz Draco, e então ele vê o rosto do estranho se despedaçar, pedaços lindos e estranhos, antes que o homem deixe cair aquele rosto honesto em suas mãos e comece a tremer.

.

Houve arestas dentro dele uma vez. Mas algo as tornou suaves, lixou arestas que deveriam arrastar, puxar e machucar. Talvez seja um disco sem uma faixa ou talvez seja uma pedra no lago, que apenas pula e pula e pula.

— Mas ele vai se lembrar de mim, não vai? — diz Pansy, e Draco a ouve, quer se livrar do peso, forçar seu crânio encharcado a explodir, só para chegar até ela.

— Pans? — ele diz, com a voz suja de ferrugem e desuso.

— Draco! — ela grita, jogando os braços em volta do pescoço dele, beijando seu rosto, sua testa, suas pálpebras. — Seu idiota de merda.

Ele não tem ideia do que fez dessa vez, apenas afunda de volta na ondulação, mas é mais fácil dessa vez, porque os braços de Pansy estão ao redor dele e ela está aqui. Depois de tudo, ela ainda está aqui.

.

Draco conhece magia de memória. Sabe que algo dentro dele foi danificado.

Draco se lembra da voz de Creevey. É a última coisa de que ele se lembra antes do colchão minúsculo e do cheiro de lençóis engomados. "Eu não vou te matar, garoto. Eu vou pegar o que você ama."

A Pocket Full of Stones | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora