Capitulo 2

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Acordei com a cabeça pesada, a visão turva e um gosto estranho de metal na boca. Aos poucos, comecei a perceber o que estava ao meu redor. Um saco escuro cobria meu rosto, e só consegui ver sombras esparsas quando o puxei para fora. Pisquei várias vezes, tentando ajustar os olhos, mas minha cabeça estava como se tivesse sido triturada e colada de volta.

"Onde estou?", murmurei, e só o silêncio abafado respondeu.

Eu estava sentado em um banco metálico, rígido, desconfortável. O cheiro ao meu redor era um misto de ferrugem e mofo. Meus pensamentos estavam embaralhados, como se eu estivesse sonhando. Tentei me levantar, mas as pernas estavam pesadas, e uma parte de mim, desesperada, queria apenas sumir. Então, ouvi uma voz familiar.

"Liam... você me reconhece?"'

Levantei a cabeça e vi Allan, me observando com uma expressão estranhamente calma. Allan. Era ele mesmo, embora, por um segundo, minha mente me dissesse que eu estava errado, que ele era um estranho. Confuso, balbuciei: "Sim... é você... mas minha cabeça está confusa."

Allan se aproximou, e havia algo de frio naqueles olhos. "Você teve um ataque, Liam. Um ataque de pânico", ele disse, como quem avisa algo trivial. "Você machucou alguém... e está aqui para se recompor."

As palavras dele pareciam escoar pela minha mente sem sentido. Ataque? Eu nunca... machucar alguém? Eu... olhei para minhas mãos e percebi o que ele queria dizer. Minhas mãos estavam cobertas de sangue seco, traços vermelhos escurecidos, encrustados nos sulcos da pele. Apertei os olhos, tentando afastar aquela imagem, como se ela fosse sumir se eu não olhasse.

"Você... você machucou o enfermeiro, Liam. Ele não sobreviveu." A voz de Allan soava distante, como se ele falasse de dentro de um túnel, e eu estava preso do lado de fora.

Meus lábios tremeram, mas as palavras não saíam. Não faz sentido... eu não sou assim... não faria isso. Mas as imagens me atacaram, eu segurava algo afiado... um bisturi, e meu reflexo no metal era sombrio, um rosto estranho me encarava, olhos fixos em mim como se esperassem um comando.

"Tudo bem, Liam? Precisa de algo?" Allan ainda estava ali, mas eu não sabia mais se conseguia responder. Apertei minhas têmporas, tentando expelir os pensamentos da minha cabeça. As palavras dele ecoavam, mas o que ele dizia não era possível. Eu nunca faria isso. Não eu. Eu estava treinado para o controle, a precisão. Nada era feito sem cálculo.

Fechei os olhos, e flashes vinham: um homem de branco, alguém tentando se aproximar com uma agulha enorme. Meus músculos se contraíram. Eu lembro da necessidade de afastar aquilo. O bisturi estava lá, frio, esperando. Mas não podia ser eu. Eu não faria isso.

"Você está machucando as pessoas, Liam." Allan me interrompeu, como se tivesse visto o que passava na minha mente. Ele se inclinou, me encarando. Havia uma seriedade sombria em seu olhar que me desarmava. "E isso vai destruir tudo. A sua equipe está em pânico. Eles já tinham dificuldades com você, mas agora... você entende o que fez?"

Minha garganta parecia um deserto, como se as palavras estivessem bloqueadas por um nó invisível. Eu queria falar, mas minha voz sumiu. De repente, senti o calor subindo pelo rosto, um pânico lento e torturante que me lembrou o passado.

"Eu..." balbuciei. Mas o que havia para dizer? Que eu não me lembrava? Que tudo parecia um borrão?

"Escuta, Liam." A voz de Allan foi se tornando mais suave, um tom quase compassivo, que nunca esperei dele. "Sei que você não entende. Mas eu preciso que entenda isso: estamos te dando uma chance. Algo que a maioria não teria. Mas isso não pode continuar." Ele hesitou, e percebi que algo ainda mais importante vinha a seguir. "Esse comportamento... isso é perigoso, Liam. Mais perigoso do que imagina."

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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