•𝐌𝐚𝐫𝐲𝐚𝐧𝐧𝐞'𝐬 𝐏𝐎𝐕•A noite envolvia a cidade baixa em um manto de silêncio. As ruas estreitas e sujas, que durante o dia ecoavam os gritos e as correrias, agora mergulhadas na penumbra e nas sombras de lanternas trêmulas nas paredes. Eu me abaixei ao lado de um beco, inspirando o cheiro de ferrugem e de suor. Uma brisa gelada cortava a pele, mas a sensação fria que me atravessava vinha de outro lugar. Hoje, eu vou ver minha menina. Não importava o custo.
Apertei o cabo da faca que agora estava preso ao meu cinto, a mesma que um dia fiz questão de despreocupar junto com o uniforme. Era pesado, mas encaixava-se bem na minha mão, quase como um pedaço de mim mesma. Nas cidades altas, essa faca seria um pecado, uma ameaça. Aqui, nas cidades baixas, era apenas parte da sobrevivência. E se tivesse que usá-la para abrir caminho, eu o faria sem pensar duas vezes.
Olhei para o céu, onde as luzes artificiais das torres das cidades altas ofuscavam as estrelas. Minha menina estava lá em cima, envolta nas paredes que a protegiam do mundo. Me doía pensar que talvez ela não lembrasse mais do cheiro das ruas daqui, dos barulhos das noites, do calor das risadas nossas abafadas enquanto nos escondíamos das patrulhas. Mas eu estava decidida: iria vê-la, abraçá-la, nem que fosse pela última vez.
Durante todo o dia eu estive criando um plano para entrar em Piltover sem ter minha presença notada pelos defensores que constantemente pratulhavam o local. E ali estava eu, diante da enorme ponte que cruzava nossos diferentes lares.
A respiração vinha curta, silenciosa, ajustada ao ritmo dos meus passos. A escuridão da madrugada era minha aliada, e a brisa gelada da ponte entre Zaun e Piltover corria pelos meus dedos, afiada como as lâminas que trazia comigo. Piltover parecia um colosso de aço e vidro, cintilando sobre mim. Atravessar esse território sem despertar atenção seria o maior desafio desde que deixei para trás a vida de assassinato, mas, por minha filha, eu enfrentaria qualquer risco.
Com a precisão de quem conhecia cada canto de Zaun, posicionei meus pés sobre as vigas e segurei firme nas estruturas metálicas enferrujadas sob a ponte, avançando um passo de cada vez, mantendo o corpo rente à sombra. Conhecia a trajetória até Piltover, mas me lembro do que sempre ensinavam: nunca se confie na luz de um farol ou na ausência de passos. Os defensores de Piltover patrulhavam a ponte com rigor, embora fossem previsíveis. Eu sabia exatamente quando um deles se afastava para o próximo posto e quanto tempo teria para atravessar.
O ferro gelado se prendia à minha pele, e meus sentidos estavam alertas, cada músculo preparado para reagir ao menor sinal de perigo. A tensão, o controle, a habilidade que eu pensei ter perdido... Tudo voltou a mim enquanto avançava pelo espaço vazio, contido pelo silêncio e pela disciplina que um dia me causou infame.
Minha filha, minha pequena, estava do outro lado, sob o teto opulento que Piltover oferece, distante do caos que a viu nascer. Pensar na hipótese de que ela talvez um dia não se lembre mais de mim era um pensamento que me rasgava por dentro. Mas eu não estava ali para chorar o passado. O que quer que estivesse entre mim e ela, fosse muro, fosse guarda, ou a própria cidade, eu atravessaria.
Estava na metade da travessia, as vigas sob meus pés rangiam a cada passo, mas eu já não escutava nada além do pulsar constante do meu coração. O frio era intenso, cortava até os ossos, mas a adrenalina mantinha cada célula do meu corpo desperta. Piltover se erguia adiante, um brilho de riqueza e soberba, enquanto Zaun já se dissolvia nas sombras abaixo de mim. Eu estava perto... só mais um pouco.
Foi então que ouvi os passos. Quase imperceptíveis, o som abafado de botas descendo a passarela de metal da ponte. Defensores. "Droga" murmurei baixinho. Parei, o corpo inteiro imóvel. Os vultos surgiram entre as colunas e iluminaram a passagem com lanternas ofuscantes, o brilho refletido na névoa fina que rondava a ponte. Cada fibra do meu ser gritava para que eu me jogasse para longe, para as sombras. Mas controle era tudo; os anos de experiência me ensinaram a resistir até o último segundo.
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𝐌𝐀𝐄𝐕𝐄 - (𝐉𝐢𝐧𝐱 𝐗 𝐅𝐞𝐦!𝐑𝐞𝐚𝐝𝐞𝐫)
Fanfic"𝐄𝐥𝐢𝐬𝐚"... 𝐮𝐦 𝐟𝐚𝐥𝐬𝐨 𝐧𝐨𝐦𝐞, 𝐨𝐧𝐝𝐞 𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐚𝐨 𝐬𝐞𝐮 𝐫𝐞𝐝𝐨𝐫 𝐞𝐫𝐚 𝐟𝐚𝐥𝐬𝐨 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐮𝐦 𝐬𝐨𝐫𝐫𝐢𝐬𝐨 𝐝𝐞 𝐬𝐮𝐚 𝐦𝐚𝐝𝐫𝐚𝐬𝐭𝐚 𝐚 𝐯𝐨𝐜𝐞̂. 𝐂𝐚𝐧𝐬𝐚𝐝𝐚 𝐝𝐨 𝐝𝐞𝐬𝐩𝐫𝐞𝐳𝐨 𝐝𝐚𝐪𝐮𝐞𝐥𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐜𝐡𝐚𝐦𝐚𝐯𝐚...