•𝟗• 𝐓𝐇𝐄 𝐏𝐎𝐈𝐒𝐎𝐍 𝐎𝐅 𝐑𝐄𝐉𝐄𝐂𝐓𝐈𝐎𝐍

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•𝐄𝐥𝐢𝐬𝐚/𝐌𝐚𝐞𝐯𝐞'𝐬 𝐏𝐎𝐕•

Acordei com os raios do sol atravessando as cortinas entreabertas do meu quarto, aquecendo meu rosto de leve. O mundo lá fora parecia indiferente ao caos que vivi, como se insistisse em me lembrar de que a vida continuava, não importava o quanto minha mente estivesse presa na noite passada. Pisquei lentamente, ainda tentando afastar o sono que insistia em pesar nas minhas pálpebras. Por um momento, fiquei ali deitada, em silêncio, com o coração pulsando no ritmo irregular de quem tenta decifrar a realidade.

As lembranças começaram a se formar na minha mente como fragmentos dispersos, cada uma trazendo uma pontada de emoção. O sequestro... As cartas da minha mãe, que revelaram segredos enterrados por anos... E Jinx. Ela parecia tão surreal que, por um instante, pensei que tudo poderia ser uma invenção da minha mente. Algo que criei para me proteger ou talvez para fugir da realidade sombria que me cercava.

Tentei me levantar, mas assim que meu peso caiu sobre meu pé, uma dor aguda me atingiu, arrancando um pequeno gemido. Olhei para baixo e vi a faixa enrolada com cuidado. A lembrança de Jinx cuidando de mim veio à tona, tão clara que quase pude ouvir a voz dela de novo. Não era um sonho. Foi real. Tudo foi real.

Com cuidado, mancando, fui até minha penteadeira. A luz ainda estava acesa, jogando sombras suaves pelo quarto. Desliguei-a com um clique breve e ergui o olhar para o espelho. Meu reflexo me encarava, mas eu mal me reconhecia.

Meu rosto estava pálido, os olhos carregados de cansaço e emoção. Mas o que realmente chamou minha atenção foi a marca no meu pescoço. A pele estava machucada, com manchas arroxeadas começando a se formar. Aquelas marcas eram como um lembrete cruel do que eu tinha enfrentado.

Instintivamente, minha mão foi até o pescoço. Meus dedos roçaram de leve os hematomas, e meu corpo inteiro pareceu congelar. A lembrança daquele homem veio com uma força que me tirou o ar: suas mãos grossas apertando minha garganta, o desespero de tentar puxar o ar que não vinha, o som do meu coração martelando nos meus ouvidos. Era como se eu estivesse de volta naquele instante, vivendo tudo de novo.

Fechei os olhos com força, tentando afastar as memórias. Mas não era tão simples. Meu peito se apertou, e uma lágrima solitária escorreu, traçando um caminho quente pela minha bochecha antes de cair no mármore frio da penteadeira.

Ali, sozinha, encarando o espelho, vi algo diferente em mim. Não era apenas o rosto cansado ou os ferimentos que carregava. Era como se algo dentro de mim tivesse mudado. Não sabia exatamente o que era, mas sentia que uma parte de mim havia se quebrado - ou talvez se fortalecido. Eu ainda estava viva, mas não era mais a mesma garota que saiu desse quarto na noite anterior.

Uma batida na porta me tirou abruptamente do meu turbilhão de pensamentos. Meu coração quase saltou do peito, e, instintivamente, limpei as lágrimas que ainda escorriam pelo meu rosto. Mancando apressadamente, voltei para a cama, tentando ignorar a dor latejante no pé.

-Maninha? Tá acordada? - A voz do meu irmão Kristian soou do outro lado da porta. Apesar do tom familiar, senti um misto de alívio e pânico me invadindo.

-Sim! - respondi, tentando soar natural, mas a pressa na minha voz me traiu.

-Tá tudo bem? Posso entrar? - ele perguntou, e só de ouvir seu tom, percebi que algo na minha resposta tinha levantado suspeitas. Kristian sempre foi perceptivo, notava até as coisas que eu tentava esconder a todo custo.

Comecei a me desesperar. As marcas no meu pescoço, meu pé enfaixado, os arranhões... Se ele visse qualquer coisa, eu sabia que ele não me deixaria em paz. Sem pensar muito, soltei o coque que ainda segurava meus longos cabelos e os deixei cair sobre os ombros. Rápida, enrolei os fios ao redor do pescoço para esconder os hematomas, enquanto puxava o cobertor para cobrir as pernas e o pé.

MAEVE - ( 𝙹𝚒𝚗𝚡 ) Onde histórias criam vida. Descubra agora