A Teia do Caçador

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A névoa se espessava em Edimburgo, como uma camada espessa que cobria os olhos e o pensamento. Claire MacMillan e Fraser Hunter estavam em silêncio enquanto se aproximavam da origem do grito que cortara a escuridão. Seus passos apressados ecoavam entre as lápides, misturados com o som do vento, que parecia sussurrar segredos perdidos.

O cemitério de Greyfriars, com seus túmulos antigos e sombras ameaçadoras, se tornara o cenário de um jogo mortal. Cada esquina, cada escuro recanto parecia esconder uma pista, uma armadilha que o Caçador havia deixado para trás. Claire não sabia o que ele queria, mas sabia que a resposta estava ali, naquele lugar frio e silencioso. O Caçador não agia sem motivo. Tudo fazia parte de um plano maior, algo que ela ainda não compreendia completamente, mas que estava começando a se desenrolar diante dela.

Quando chegaram ao ponto onde o grito havia sido ouvido, a cena os paralisou por um momento. O corpo de uma mulher, já sem vida, estava estirado no chão, sua cabeça inclinada em uma posição impossível. O rosto, uma máscara de terror congelada no tempo, os olhos vidrados e a boca aberta em um grito mudo.

Fraser se aproximou cautelosamente. "Mais uma vítima..." Ele não terminou a frase, o peso da situação abafando suas palavras. A mulher não tinha sido apenas morta, ela havia sido preparada. O mesmo símbolo celta estava marcado na testa dela, como se fosse uma assinatura.

Claire agachou-se perto do corpo, observando os detalhes com um olhar clínico. "Ele não a matou como as outras. Olhe, Fraser," ela apontou para o pescoço da mulher, onde havia um pequeno corte, quase imperceptível. "Foi como se ele estivesse querendo garantir que ela estivesse... viva para o que viria a seguir."

Fraser engoliu em seco. "Viva? Você está dizendo que ele a torturou?"

Claire não respondeu de imediato. Ela estava analisando o cenário, tentando conectar as peças. As vítimas anteriores tinham sido deixadas em lugares públicos, visíveis, como se o Caçador quisesse que a cidade soubesse do seu poder. Mas agora, algo estava diferente. Esta vítima estava em um local isolado, em um cemitério, no meio da noite. E o fato de ele ter a deixado viva por um momento... isso indicava um grau de crueldade que eles ainda não haviam visto.

"Ele a estava observando," disse Claire finalmente. "O Caçador gosta de controlar, de manipular. Ela foi parte do espetáculo, uma peça em sua teia."

Fraser olhou para ela, incrédulo. "Você acha que ele nos está guiando? De novo?"

"Não tenho dúvidas," Claire respondeu, o tom de sua voz grave, como se ela mesma estivesse tentando entender a complexidade do jogo. "E ele está fazendo isso de forma mais cuidadosa. Ele não quer apenas matar. Ele quer nos testar. Nos fazer sentir a pressão, o medo... E agora, ele quer que saibamos que estamos nos aproximando."

Eles estavam sendo puxados para dentro da mente do assassino, como se ele estivesse sentado confortavelmente, observando cada movimento deles. Claire não sabia até onde isso iria. A cada nova pista, a cada nova morte, ela sentia que algo mais sombrio estava sendo revelado, algo muito maior do que eles poderiam imaginar.

"Temos que encontrar a próxima pista," Claire disse, levantando-se e olhando ao redor. O cemitério parecia imenso àquela hora da noite, suas sombras se estendendo como braços de um monstro invisível. "O Caçador não vai parar. E nós não podemos deixar que ele ganhe vantagem."

Eles continuaram a andar pela neblina, cada passo os levando mais fundo no terreno desconhecido. Claire sabia que estava em um labirinto, uma armadilha da qual não havia saída. O Caçador não queria que eles escapassem. Ele queria que eles caíssem, que fossem parte de sua história macabra.

Foi então que ela o viu. No meio da escuridão, iluminado apenas pela luz fraca das lanternas de rua, uma figura encapuzada estava em pé, de costas, perto de um antigo túmulo. Ele estava parado como uma estátua, sua postura tensa, aguardando.

"Claire!" Fraser chamou em um sussurro urgente. "Isso não pode ser..."

Mas Claire já estava em movimento. Ela sabia que o Caçador estava ali, esperando. Ele os havia atraído até aquele ponto, mais uma vez.

A figura encapuzada se virou lentamente. O rosto estava oculto nas sombras, mas Claire sentiu o frio na espinha ao perceber que ele a observava. Era como se ele soubesse tudo sobre ela, como se estivesse lendo sua mente.

Ela parou alguns passos à frente, sua mão já pronta para alcançar a arma, mas o Caçador não fez um movimento. Ele apenas ficou ali, imóvel, esperando.

"Você chegou até aqui," a voz baixa e suave do Caçador cortou o silêncio. "Mas está mais perto do fim do que imagina."

Claire olhou fixamente para ele, sem desviar os olhos. "Você não vai me assustar. Não vai me parar."

O Caçador deu uma pequena risada, uma risada baixa, quase imperceptível. "Você não está jogando o jogo, Claire. Você está sendo jogada. Como todos os outros antes de você."

"Eu vou te pegar," Claire disse, com uma certeza que ela mesma mal podia acreditar.

"Você já me pegou." O Caçador sorriu de forma irônica. "Agora, só falta entender o final."

E, como se estivesse fazendo um sinal, ele deu meia-volta e desapareceu na escuridão, deixando Claire e Fraser sozinhos, imersos na tensão crescente.

"Ele... ele estava nos observando o tempo todo," Fraser sussurrou, ainda atônito.

"Ele sempre esteve," Claire respondeu, o peso da verdade começando a se instalar. "E agora, estamos na última parte do jogo."

A sensação de desespero se infiltrava no coração de Claire, mas ela sabia que não podia parar. O Caçador estava mais perto do que nunca. Eles estavam cada vez mais próximos do fim — ou do começo, dependendo de como a história se desenrolasse.

E, no fundo, ela temia que, quando tudo chegasse ao fim, ela já não fosse mais quem ela pensava ser.

A Trilha do CaçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora