O Último Movimento

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O relógio marcava exatamente 2h15 quando Claire recebeu a mensagem. Seu celular vibrou na mesa, e a tela iluminou o quarto escuro, revelando uma notificação com um número desconhecido.

"Ele está vindo", dizia a mensagem. Simples, direta, sem explicações. Uma sentença de morte ou talvez apenas mais um passo no jogo diabólico em que Claire estava mergulhada. Ela hesitou, os dedos tremendo ao tocar a tela. Não havia dúvida de quem era. O Caçador. Estava mais próximo do que nunca.

Ela levantou-se da cama, olhou pela janela da sala de estar. As ruas estavam silenciosas, as luzes das casas ao longe piscando, ignorantes sobre o que se passava na mente do serial killer que a observava. Claire havia aprendido a viver com a tensão, mas não havia escapado do medo. Não havia como. Ele estava em sua mente, dominando seus pensamentos, orquestrando cada movimento.

Quando a polícia começou a investigar o caso, haviam concluído que o Caçador estava sempre um passo à frente. Mas Claire sabia que ele não estava apenas sendo inteligente. Ele estava estudando cada movimento dela, antecipando suas respostas, guiando-a por um caminho de erros e acertos.

Ela respirou fundo e olhou para o quadro de fotos na parede. As evidências estavam começando a se juntar, mas nada parecia fazer sentido. Nenhuma pista parecia se encaixar completamente. Mas havia algo sobre aquele número, sobre as mensagens que ele enviava. Tudo estava conectando de uma forma tortuosa, como uma teia de aranha, e ela era o inseto esperando para ser consumido.

Aquela mensagem... Ele estava vindo. Mas onde estava ele? Claire olhou novamente para o celular. Mais uma mensagem.

"Eu sei onde você está. E sei o que você vai fazer. Não adianta tentar escapar, Claire. Não adianta correr."

A letra estava fria, precisa, calculada. O Caçador estava se divertindo. Mas ele não entendia que Claire já não estava mais no controle da situação. Ela se virou para a mesa, pegou as fotos espalhadas, e suas mãos começaram a se mover de forma instintiva, como se fosse um puzzle que ela precisava resolver antes que fosse tarde demais.

A cada imagem que ela pegava, mais ela se convencia de que o Caçador estava tentando criar uma narrativa. Ele estava escrevendo uma história onde Claire era a protagonista, mas não sabia qual era o final. Ela tinha que descobrir, tinha que entender os passos do assassino antes que fosse consumida por ele.

Uma foto chamou sua atenção. Era a imagem de um prédio, um local que ela reconheceu de imediato. A foto fora tirada da rua, a partir de um ângulo onde só alguém muito próximo poderia estar. O local? Um hospital. O hospital onde ela trabalhara por anos como psicóloga.

Claire congelou. Algo não estava certo. Ele a estava observando. Ele sabia tudo sobre ela. E sabia exatamente o que faria.

Ela se levantou, pegou seu casaco e saiu para a rua. O silêncio da noite parecia ameaçador, como se o universo estivesse esperando algo acontecer. O vento cortante acariciava sua pele, mas ela não sentia frio. Estava com o coração acelerado, mas o instinto a levava para aquele hospital. Algo ali tinha mudado tudo.

Quando chegou, a atmosfera era pesada. O hospital estava vazio, exceto pelas luzes apagadas nos corredores. Claire entrou pela porta lateral, sentindo que estava sendo observada a cada passo que dava. O som de seus próprios pés ecoava nas paredes vazias, mas ela não se importava mais com isso. O que ela sentia era uma crescente sensação de que estava sendo puxada para um destino inevitável.

Ela andou pelos corredores escuros, lembrando-se de todos os cantos que conhecia tão bem. Então, ela ouviu um som. Algo pesado, arrastando-se pelo chão. Claire parou, segurando a respiração. O som se aproximava, e ela percebeu que não estava sozinha.

"Você finalmente chegou", disse uma voz, baixa e inconfundível.

Claire se virou rapidamente. O Caçador estava ali, parado à sua frente, a luz fraca iluminando seu rosto. Ela não conseguia ver seus olhos, mas sabia que ele estava sorrindo, sentindo o prazer da caça prestes a ser concluída. Ela estava frente a frente com o monstro, mas não iria ceder.

"Você me encontrou", disse ela, a voz firme, mas sem esconder a adrenalina que subia por suas veias. "Mas não me deixe confundir, Caçador. Não sou apenas uma vítima em sua história. Eu estou escrevendo o final agora."

Ele deu um passo à frente, os passos ecoando pelo corredor. Claire recuou, mas seu olhar estava fixo no assassino. Ele sabia que ela estava tentando entender sua mente. E talvez, só talvez, ele estivesse pronto para deixar que ela soubesse tudo.

"Você acha que pode me derrotar? Você realmente acredita nisso?" A voz do Caçador soava quase curiosa, como se estivesse ponderando sobre o valor do jogo que Claire estava tentando jogar.

"Eu não estou tentando derrotá-lo", ela respondeu, a tensão crescendo. "Eu só quero saber quem você é. O que te trouxe até aqui? Quem te fez acreditar que isso era um jogo?"

O Caçador ficou em silêncio por um momento. Seus olhos se estreitaram, e o ambiente se tornou mais pesado. Claire sentiu o calor da raiva emanando dele. Ele estava prestes a agir. Ela sabia que precisava correr, fugir, mas algo a impedia de sair. Algo nela sabia que, para parar tudo isso, ela precisava entender. Precisava saber o que ele queria.

"O que você quer de mim?" Claire perguntou, a voz tremendo levemente.

Ele sorriu, e a resposta veio em um sussurro: "Você é a peça final, Claire. Sem você, o jogo nunca estará completo."

Ela não sabia o que ele queria dizer, mas algo dentro de si sabia que o Caçador estava perto de revelar a verdade. E esse segredo, quando finalmente fosse revelado, mudaria tudo.

Mas, naquele momento, o relógio se aproximava de sua última rodada. O Caçador havia movido sua peça final.

Agora, só restava o último movimento.

A Trilha do CaçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora