Claire sentiu um arrepio profundo ao ouvir as palavras do Caçador. Ele estava mais perto do que nunca. Seus olhos observavam cada movimento dela, como se soubesse o que ela ia fazer antes mesmo de ela tomar a decisão. Ele havia se tornado a sombra que pairava sobre sua vida, e agora, no silêncio do hospital vazio, parecia que ela finalmente havia chegado à linha de chegada de um jogo que ela nunca quis jogar.
Ela recuou ainda mais, mas o corredor parecia cada vez mais estreito. As paredes, agora visíveis em sua plena opressão, estavam marcadas com sangue, mas não era o sangue de suas vítimas. Não. Era o sangue do Caçador, um sinal de que ele havia se ferido, mas continuava caçando, perseguindo, como uma fera incansável. Talvez o sofrimento fosse a única coisa que o mantivesse vivo.
"Você não pode escapar, Claire. Está em minhas mãos agora", a voz dele se arrastava, fria como o vento que cortava o corredor. Ele estava se aproximando, e a única opção era enfrentar o que estava por vir.
Claire apertou a mandíbula. Ela sabia que não tinha mais escolhas. A última jogada, a última chance de escapar ou, quem sabe, de entender o que motivava aquele monstro. Não importava o que ele dissesse, não importava o quão perdido ele estivesse em seu próprio jogo. Ela não seria a peça final dele. Ela seria a chave para resolver o enigma. Mesmo que isso significasse dar a ele exatamente o que ele queria.
"Quem é você?" Claire perguntou, sua voz tremendo, mas firme. "Quem é o verdadeiro Caçador?"
Ele parou por um momento, e, por um segundo, a sala pareceu encolher. O Caçador a observava, seus olhos penetrantes tentando decifrar sua alma. Claire não sabia por que ele estava tão fascinado por ela, mas naquele momento ela compreendeu algo fundamental: ele estava tão perdido quanto ela. Ele também era uma vítima de sua própria criação. Talvez esse fosse o segredo que ela precisava.
"Eu sou apenas um reflexo do que você não quer ver, Claire", ele sussurrou, com um sorriso que não chegou a tocar seus olhos. "Você me procurou o tempo todo, mas não sabia o que estava buscando. Até agora."
Claire sentiu um impulso de raiva, mas a controlou. Ele estava falando em enigmas, tentando jogar com a mente dela, como sempre fazia. Mas agora ela entendia a verdade: o Caçador não era alguém que ela deveria temer. Ele era alguém que temia o que ela poderia descobrir.
"Você quer que eu me torne como você. Você quer me fazer jogar o jogo que você criou", ela disse, a voz mais confiante. "Mas você está errado. Eu sou a jogadora, e você é a peça. Você só não percebeu ainda."
Os olhos do Caçador brilharam por um momento, e então ele avançou, rápido como um predador. Claire não teve tempo de reagir. Ele a empurrou contra a parede com uma força surpreendente, a dor explodindo por seu corpo, mas ela não gritou. Ela sabia que gritar não ajudaria.
"Você pensa que entende tudo, Claire? Que tem o controle?", ele cuspiu. "Eu sou o que você teme. Eu sou a personificação do seu medo."
Claire levantou a cabeça, com os olhos fixos nos dele, tentando se concentrar. "Você não é nada. Você é só uma sombra, alguém que se esconde atrás de sua própria insanidade."
Ela sentiu o toque frio do metal em sua mão. Ele estava segurando algo. Olhou para baixo. Uma faca, ainda com vestígios de sangue. Ela não tinha percebido quando ele a pegou, mas agora a lâmina estava perto do seu pescoço, quase tocando a pele. Era o momento final. O momento em que o jogo chegava ao seu auge.
Mas Claire não recuou. Ao contrário, ela fez o que nunca imaginou fazer. Ela riu. Riu alto, uma risada cheia de raiva e desprezo. O Caçador a observou, confuso. Ele estava começando a perder o controle, como sempre fazia quando as coisas não aconteciam de acordo com seu plano.
"Você acha que me assustou, não é?" Claire disse, ainda rindo. "Mas você está errado. Eu nunca te temi."
O Caçador deu um passo para trás, desconcertado. Ele nunca imaginou que ela fosse capaz de reagir assim. Ela não era mais a vítima. Ela havia quebrado o ciclo. Claire não estava mais na defensiva; ela estava controlando o jogo.
Antes que o Caçador pudesse reagir, Claire se jogou para o lado, pegou uma barra de ferro no chão e a usou como um escudo. O golpe foi rápido e certeiro. Ela o atingiu com toda a força que conseguiu reunir, e ele caiu, atordoado, no chão frio. A faca escorregou de sua mão, e Claire a pegou. O som do metal contra o concreto foi como uma assinatura no final de uma música sombria.
O Caçador estava no chão, respirando pesadamente. Mas não era mais ele quem estava no controle. Claire estava.
Ela se ajoelhou ao lado dele, a faca ainda em suas mãos. "Eu sou a última jogada, Caçador. E você perdeu."
Ele tentou se levantar, mas estava fraco. Não era mais uma ameaça. Ele olhou para ela, e pela primeira vez, Claire viu algo diferente em seus olhos: medo. Ele sabia que havia chegado ao fim.
"Você... você nunca deveria ter chegado até aqui", ele murmurou, mas não havia mais o veneno em sua voz. Era uma mera constatação.
Claire olhou para ele, não com raiva, mas com uma estranha sensação de alivio. "Talvez você tenha razão. Talvez eu nunca devesse ter chegado até aqui. Mas agora, Caçador, tudo acabou."
Ela se levantou e deu as costas para o homem caído, deixando-o para trás, onde ele deveria estar. O jogo tinha terminado.
Ela saiu do hospital, sem olhar para trás. O Caçador, que havia sido o pesadelo de tantas vidas, agora era uma memória distante. O suspense que ele criara havia chegado ao fim, e Claire, finalmente, era livre.
Mas ela sabia que o verdadeiro jogo nunca acabava. No fundo, Claire sentia que algo maior ainda a observava, aguardando o próximo movimento. E, enquanto ela caminhava pela rua silenciosa, ela não conseguia evitar a sensação de que talvez o Caçador ainda estivesse em algum lugar, observando, esperando, pronto para começar de novo.
Fim.
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A Trilha do Caçador
Mystery / ThrillerNa fria e sombria cidade de Edimburgo, na Escócia, uma sequência de assassinatos brutais abala a tranquilidade da capital histórica. O serial killer, conhecido pela mídia como O Caçador da Meia-Noite, deixa uma assinatura peculiar: um símbolo celta...