Claire sabia que não poderia mais fugir. O jogo do Caçador havia se estendido por semanas, mas agora parecia que o fim estava mais perto do que ela poderia imaginar. Tudo ao seu redor parecia distorcido, como se ela estivesse presa em uma realidade paralela onde nada fazia sentido. O Caçador não era mais uma sombra distante. Ele estava em sua cabeça, nos seus pesadelos, em cada esquina de sua vida.
O enigma que ela tentara desvendar se transformara em uma terrível obsessão. Ela não conseguia mais confiar em ninguém, nem mesmo em si mesma. A verdade que o Caçador havia mencionado parecia se desdobrar, revelando fragmentos de algo ainda mais assustador — algo que ela não estava pronta para enfrentar.
Era noite, e a cidade estava silenciosa, como se também sentisse o peso do que estava por vir. Claire andava pelas ruas desertas, os passos ecoando enquanto sua mente se lançava para o passado, tentando juntar as peças do quebra-cabeça. Algo estava faltando. Algo que ela deveria ter notado antes.
De repente, seu telefone vibrou. Um número desconhecido, mas ela sabia que era ele. O Caçador. Ela respirou fundo, tentando não ceder ao pânico. Atendeu, e a voz do outro lado foi fria, inconfundível.
— Você não entende, Claire. Está em você. Sempre esteve. Eu não sou apenas o Caçador. Sou o reflexo do seu próprio medo, daquilo que você escolheu ignorar. — Ele riu, um som que a fez estremecer. — Você sempre foi parte disso. Sempre.
Claire não sabia o que responder. Suas mãos tremiam enquanto ela tentava processar o que ele estava dizendo. Ele estava falando de algo mais profundo, algo que a conectava diretamente a ele de uma maneira aterradora. Ela precisaria descobrir o que ele queria antes que fosse tarde demais.
Ela interrompeu o silêncio, tentando recuperar alguma sensação de controle. — O que você quer de mim? O que você quer realmente, Caçador?
A voz dele soou mais baixa, mais próxima. Claire olhou ao redor, mas não havia ninguém. A rua estava vazia, mas ela sentia a presença dele, como se estivesse ali, observando.
— Eu sou você, Claire. A única coisa que falta agora é você aceitar isso. Você me criou. Eu sou a consequência dos seus próprios segredos. Os mesmos segredos que você esconde desde criança. Lembre-se... lembre-se de tudo o que você tentou esquecer.
Claire sentiu o chão desmoronar sob seus pés. Ele estava certo. Havia algo no fundo de sua memória, algo que ela havia enterrado com tanto cuidado, mas agora estava vindo à tona, fragmentos de um passado sombrio que ela nunca ousou explorar. Ela se lembrou da foto. A foto da sua infância. Mas havia mais. Muito mais.
Ela correu para sua casa, o coração batendo descontrolado, tentando juntar as peças em sua mente. Ela encontrou a caixa antiga que guardava suas lembranças, as coisas que ela tinha tentado esconder. Dentro da caixa, um caderno, suas anotações de quando era mais nova. Ela folheou até encontrar a página que a fez parar no lugar.
Ele está em mim. Ele é meu reflexo. Eu fui quem o criei. E agora ele me persegue, porque não posso mais fugir da verdade.
A página estava marcada com palavras que ela nunca se lembrava de ter escrito, mas de alguma forma, estavam ali, como se sua própria mente tivesse se distorcido para escondê-las.
Ela caiu de joelhos, as lágrimas começando a escorrer pelo seu rosto. A verdade a havia consumido. Ela havia sido quem criara o Caçador, sem saber. Ele era uma extensão de seus próprios demônios internos, de sua dor reprimida, de tudo o que ela havia tentado esquecer.
Aquele não era apenas um jogo. Era uma sentença. O Caçador não estava apenas atrás dela. Ele sempre estivera dentro dela, e ela não podia escapar.
Ela pegou o telefone novamente. Era tarde demais para se esconder. O Caçador sabia disso. Ele já tinha vencido. Ela estava perdida em sua própria mente, presa no pesadelo que havia criado.
O telefone tocou uma última vez. Era ele.
— Está pronta, Claire? O jogo acabou. — Ele riu novamente, dessa vez de forma sombria, como se estivesse assistindo a ela quebrar em pedaços.
Ela olhou para o espelho. E foi quando ela viu. O reflexo não era mais só seu. Havia algo mais, algo familiar, mas ao mesmo tempo, horrível. O Caçador a observava de volta.
E assim, o jogo chegou ao fim. A última vítima não era ela. Era a própria Claire. Ela havia se tornado o Caçador.
Fim.
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A Trilha do Caçador
Mystery / ThrillerNa fria e sombria cidade de Edimburgo, na Escócia, uma sequência de assassinatos brutais abala a tranquilidade da capital histórica. O serial killer, conhecido pela mídia como O Caçador da Meia-Noite, deixa uma assinatura peculiar: um símbolo celta...