Ecos do Passado

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A chuva cessou. A cidade de Edimburgo, que antes parecia um campo de batalha entre os elementos, agora se mostrava calma e fria, como um imenso palco onde a tragédia estava prestes a acontecer. Mas, dentro da mente de Claire MacMillan, o caos ainda estava em pleno andamento. Ela caminhava pelas ruas silenciosas, o peso das últimas descobertas pressionando seus ombros, e um único pensamento martelando sua mente: Quem era o Caçador?

A ligação misteriosa, o pedaço de papel deixado ao lado do corpo da jovem mulher, a ameaça de que o tempo estava se esgotando... Tudo parecia uma provocação de alguém que jogava um jogo psicológico. Mas por que ela? Por que Claire?

Fraser ainda não havia dito uma palavra desde o último crime, mas seus olhos refletiam a mesma dúvida. Eles estavam sendo testados, isso era óbvio. E cada pista, cada passo dado, parecia apenas afastá-los da verdade. Claire sabia que o Caçador estava se aproximando cada vez mais, e a tensão era palpável. Ele tinha algo em mente, e ele estava se divertindo com a perseguição.

Ela parou diante do portão de ferro enferrujado de uma casa antiga, situada na periferia da cidade. O endereço que o investigador havia encontrado no arquivo do último crime parecia pertencer a um local abandonado. Uma casa que há anos estava sem moradores. Mas algo a atraía ali, como uma força invisível.

Fraser parou ao seu lado, observando a casa com cautela. "Você realmente acha que ele está aqui?", perguntou ele, a voz baixa, como se temesse perturbar algo que estava fora de seu alcance.

Claire assentiu com um leve movimento da cabeça. "Eu não sei, mas algo me diz que o Caçador está nos guiando para cá. Ele está nos fazendo seguir um caminho. Só precisamos descobrir por quê."

Eles entraram pela portão enferrujado, o som das dobradiças rangendo no silêncio da noite. Claire sentia o medo crescer em sua garganta, mas não podia recuar. Não agora. Eles tinham que seguir até o fim.

A casa estava imersa na escuridão, a luz da lanterna de Claire iluminando apenas partes da grande sala, onde móveis antigos estavam cobertos por lençóis de pó. O cheiro de mofo e umidade invadia as narinas deles enquanto exploravam cada cômodo com cautela. Tudo parecia abandonado há anos, mas algo não estava certo. O lugar estava demasiado... limpo. Como se tivesse sido arrumado para uma visita.

De repente, no canto da sala, um estalo. Claire virou-se abruptamente, apontando sua lanterna em direção ao som. Algo havia se movido, algo além das sombras.

"Fraser...", sussurrou Claire, sentindo seu coração acelerar. Ele avançou à frente, sua própria lanterna iluminando uma porta entreaberta na parede de tijolos. Eles estavam prestes a entrar na sala quando a porta se abriu com um estrondo.

E então, Claire viu.

Uma mesa estava posicionada no centro da sala, coberta por velas acesas. Na mesa, livros antigos e papéis amassados estavam dispostos de maneira meticulosa. Mas o que mais se destacava era uma série de fotos dispostas ao redor da mesa. Fotos de vítimas anteriores. Mas não eram apenas fotos comuns — eram fotos pessoais, com recortes de partes de corpos, pedaços de pele. Algo que não estava em nenhum relatório oficial. Algo que o Caçador só poderia saber se estivesse observando.

O símbolo celta, agora desenhado em cada foto com a tinta vermelha, parecia vibrar com uma energia sombria. Claire estremeceu. Não era apenas um serial killer. Não era apenas uma mente doentia. Havia algo mais. Uma obsessão. Um padrão.

Ela se abaixou, pegando um dos papéis ao lado da mesa. "O que é isso?" perguntou Claire, sua voz tensa enquanto examinava o texto escrito à mão.

Fraser olhou rapidamente para o papel, e seus olhos se alargaram. "Parece uma... uma lista. Mas o que está escrito não faz sentido."

Claire leu em voz baixa, com a mente acelerada:

"O Caçador da Meia-Noite deve ser liberado. Só ele pode dar à cidade a punição que ela merece. Sua jornada está apenas começando. Não há fim. Há apenas o começo."

Aquelas palavras ecoaram na mente de Claire como um trovão. O Caçador... "Liberado"? O que isso significava? Ele acreditava que estava cumprindo algum tipo de missão? E o que queria dizer com não há fim, há apenas o começo?

Ela levantou os olhos para Fraser, que parecia tão confuso quanto ela. "Ele acha que o que está fazendo é justificado", disse Claire, suas palavras mais um sussurro, como se estivesse tentando entender em voz alta. "Ele acredita que há algo de errado com a cidade, algo que precisa ser corrigido."

"Você acha que ele vai parar?", perguntou Fraser, com uma expressão de ceticismo.

Claire permaneceu em silêncio por um momento, contemplando o cenário diante de si. As respostas estavam lá, mas ainda não eram claras o suficiente. Ela sabia que o Caçador estava mais perto do que nunca, e isso a fazia sentir um frio imenso em sua espinha. Mas também sabia que ele estava se divertindo com o jogo, e que ele queria que ela o seguisse.

"Eles estão mortos", Claire murmurou, com uma voz carregada de pesar, referindo-se às vítimas. "Mas o que ele quer... isso é algo diferente."

Enquanto ela se afastava da mesa, seus olhos caíram em outra foto, uma que parecia diferente das outras. Era uma foto de uma criança. O rosto era distorcido, coberto por sombras, mas a sensação de familiaridade atingiu Claire como um soco no estômago. Ela pegou a foto, e o choque a atingiu com força. Ela conhecia aquela criança. Ela... era sua irmã.

O tempo congelou. O peso da realidade despencou sobre Claire. Ela olhou novamente para a foto, e uma sensação de terror percorreu sua espinha. Como isso era possível? Como o Caçador sabia disso?

Ela virou-se para Fraser, seu olhar desesperado. "Ele não está apenas se vingando... ele está me vingando."

Fraser deu um passo para trás, o horror estampado em seu rosto. "Claire... isso é... pessoal."

Claire olhou para o símbolo celta que havia sido gravado em todos os corpos das vítimas. O Caçador não estava apenas atrás de justiça. Ele estava atrás de algo mais... algo que ligava o passado dela a tudo o que acontecia agora.

E nesse momento, Claire soubera: o jogo havia mudado. Não era mais apenas uma investigação. Era uma batalha pessoal, e o Caçador havia começado a caçar alguém muito mais próximo do que ela jamais imaginou.

A Trilha do CaçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora