Doce

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Yasmim Lemos
São Paulo 📍

Era meio estranho aquela cena na minha frente, mas era satisfatório ao mesmo tempo.

Matheus e Henrique jogavam videogame na minha sala, e nem parece que o Matheus tava sendo chantageado horas antes.

Henrique tinha passado o dia comigo, e não quis ir embora, Matheus voltou pra cá depois do treino e depois de algumas alfinetadas os dois se entenderam.

Em partes porque o Matheus voltou com o tênis que o Henrique queria, e eu me assustei ao ver que meu sobrinho, o bebezinho que eu vi nascer já calçava o mesmo número que o Matheus.

Depois que eles selaram a paz tomaram conta do vídeogame e nem lembraram mais que eu existia.

Mas eu estava feliz.

Por algum motivo eu estava feliz.

Eu nunca tinha apresentado homem nenhuma pra minha família e de alguma forma ver os dois assim deixava meu coração quentinho.

Eu e o Matheus nunca falamos sobre relacionamento, mas era óbvio que ali tinha sentimentos. Bom, pelo menos da minha parte.

Mas Matheus demonstrava ciúmes, aquilo queria dizer alguma coisa, certo?

Mas a forma que ele morria de medo do Fagner me colocava em dúvida, se ele quisesse um relacionamento ele já teria tocado no assunto, certo?

Bufei me sentindo meio tonta e triste subitamente.

Uma pontada no pé da barriga me lembrou o porquê de tantas emoções afloradas.

Eu estava pra entrar no meu ciclo.

-Que foi linda? - Matheus perguntou, e Henrique olhou pra mim. -Você tá meio pálida. - Ele pausou o jogo e se inclinou em direção ao sofá tocando minha testa.

-TPM. - Murmurei e ele fez careta.

Henrique olhou pro Matheus esperando alguma reação e quando viu que não ia ter nenhuma ele revirou os olhos e deu um tapa na cabeça dele.

-Vou ter que te ensinar como se trata uma mulher? - O moleque perguntou e eu ri, não aguentei.

-Te enxerga moleque. - Matheus devolveu o tapa. - Tem nem tamanho de gente.

-E você pelo visto você só tem tamanho, porque atitude é zero. - Henrique jogou o controle no tapete e se levantou. - A primeira coisa quando uma mulher diz que está de TPM é dar doce. - Ele falou como se tivesse dando aula. - Sempre alimente o demônio com doce, é tipo uma oferenda.

-Quem te ensinou essas coisas? - Murmurei. -Você é muito novo pra isso Henrique.

-Tenho quase quinze. - Ele respondeu e eu o encarei como se dissesse "grande coisa" -Levanta Zé ruela, vamo arrumar alguma coisa pra ela antes que ela incorpore.

Matheus seguiu o moleque até a cozinha me olhando sem acreditar e eu dei de ombros.

O moleque sabia das coisas, meu garoto.

Escutei os dois discutindo e revirando meu armário pra no final não acharem nada.

-Meu Deus tia, você tá falindo? - Henrique apareceu. - Não tem um Nescau nessa casa.

-Eu não compro essas coisas. - Murmurei com a cara contra o sofá. - Tenho que manter o corpinho. - Ele fez careta.

-Pra que? Pra esse mané aqui ver? - Matheus deu um tapa na cabeça dele.

-Vamo lá em baixo. - Matheus calçou os chinelos. - No mercadinho do condomínio deve ter alguma coisa.

Henrique calçou os chinelos e eu fiquei ouvindo eles brigando enquanto o elevador não chegava.

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