10. dance party

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A música no salão havia mudado para algo mais animado, e o som das conversas misturava-se às risadas que preenchiam o ambiente. Diana ainda estava no canto, observando, tentando organizar os pensamentos que pareciam um emaranhado. Seu olhar, no entanto, não conseguia se desviar de Fátima, que agora estava do outro lado da sala, conversando com um dos vizinhos.

O homem era alto, com um sorriso fácil e gestos exagerados enquanto falava. Ele parecia completamente encantado por Fátima, e o riso dela era frequente, aquele riso que Diana começava a perceber ser único e cativante. O modo como Fátima inclinava a cabeça enquanto ouvia o vizinho falar, o jeito como tocava o próprio cabelo, como quem ajeita distraidamente algo que não está fora do lugar, tudo isso fazia o peito de Diana queimar de uma forma que ela não entendia completamente - ou talvez entendesse e simplesmente não quisesse admitir.

Ela apertou o copo nas mãos, o suco já quente pelo tempo que ficou segurando. Sentia uma mistura de desconforto e irritação crescente. Não sabia o que mais a incomodava: o fato de Fátima estar claramente à vontade com o homem ou o fato de ela mesma não conseguir parar de olhar.

Em um momento, o homem se inclinou um pouco mais para perto de Fátima, dizendo algo que fez ela rir ainda mais. O som era doce, mas para Diana parecia um pequeno punhal girando em seu estômago. Ela desviou o olhar, tentando se concentrar em qualquer outra coisa. Não era da sua conta com quem Fátima conversava, ela repetia para si mesma. Não era.

Mas seus olhos voltaram, quase involuntariamente, para onde Fátima estava. Agora, o homem parecia ainda mais próximo, e Fátima não dava sinais de querer se afastar. Diana sentiu uma pontada de raiva e frustração, uma sensação nova que a pegava desprevenida. Ela sabia que não tinha o direito de sentir aquilo, mas o ciúme era incontrolável.

- Tudo bem por aqui? - perguntou uma vizinha que se aproximou, aparentemente tentando ser simpática.

- Sim, tudo bem - respondeu Diana, com um sorriso forçado, desviando o olhar mais uma vez de Fátima.

Mas assim que a vizinha saiu, Diana não resistiu. Voltou a olhar, e dessa vez encontrou os olhos de Fátima diretamente. Ela havia sentido o peso do olhar de Diana de longe e, ao perceber a intensidade com que era observada, seu sorriso diminuiu levemente.

Por um momento, tudo ao redor pareceu desaparecer de novo. Diana não sabia o que transmitir naquele olhar - ciúme, desejo, confusão? Talvez tudo ao mesmo tempo. Fátima parecia entender, porque seu semblante mudou, ficando mais sério, mais atento. Ela murmurou algo para o vizinho e começou a se afastar em direção a Diana.

Diana sentiu o coração disparar. "O que eu estou fazendo?", pensou, tentando disfarçar sua inquietação. Quando Fátima finalmente chegou até ela, ainda com o eco de seu riso no ar, havia um pequeno sorriso no canto de sua boca.

- Você está bem? - perguntou Fátima, olhando para ela com aquela intensidade de sempre.

Diana desviou o olhar, tentando esconder o que sentia, mas sua voz saiu mais firme do que esperava.

- Você parece estar se divertindo.

Fátima arqueou uma sobrancelha, como se tivesse detectado algo mais por trás da resposta.

- Estou tentando, mas... parece que tem algo te incomodando. Quer me contar o que é?

Diana hesitou, mas o olhar de Fátima não deixava espaço para fugas. As palavras estavam na ponta de sua língua, mas ela sabia que, se falasse, cruzaria uma linha da qual não poderia mais voltar. E, mesmo assim, a ideia de mentir parecia ainda mais insuportável.

- Só acho engraçado como você é popular, só isso - disse Diana, finalmente, em um tom que soava mais ácido do que ela pretendia.

Fátima sorriu de lado, um sorriso que dizia mais do que mil palavras. Ela deu um pequeno passo à frente, reduzindo a distância entre elas.

- É só conversa, Diana. Ou... isso te incomoda?

Diana sentiu o rosto queimar. Não sabia o que responder. O olhar de Fátima era desafiador, mas também havia algo mais ali, algo que parecia testar os limites daquela tensão silenciosa entre elas.

- Claro que não. Por que incomodaria? - rebateu Diana, tentando soar indiferente, mas sua voz traiu um pequeno tremor.

Fátima apenas soltou uma risada distante, deixando a pergunta pairar no ar.

O som da música mudou, e um acorde suave e melódico preencheu o salão, transportando todos para um clima nostálgico. Era uma daquelas baladas românticas dos anos 1990 que parecia trazer à tona memórias e sentimentos enterrados. A iluminação mais baixa do ambiente fazia o momento parecer quase íntimo, mesmo em meio a tantas pessoas.

Diana ainda estava imóvel, tentando processar a conversa, quando sentiu a mão de Fátima tocar a sua. O toque foi leve, mas firme o suficiente para que Diana erguesse os olhos e encontrasse o sorriso de Fátima, agora mais suave, quase desarmante.

- Você precisa relaxar um pouco - disse Fátima, inclinando a cabeça em um convite. - Dança comigo?

Diana abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu. O olhar de Fátima era tão persuasivo que ela não conseguiu resistir. Apenas assentiu, sem confiar em sua voz.

Fátima segurou sua mão e a conduziu para o centro do salão, onde outros casais dançavam, envoltos no ritmo lento e no clima nostálgico da música. Diana sentia o calor da mão de Fátima contra a sua, e, ao mesmo tempo, seu coração batia acelerado como se estivesse prestes a explodir.

Quando pararam, Fátima girou Diana delicadamente até que ficassem frente a frente. Colocou a outra mão suavemente na cintura dela, mantendo uma proximidade respeitosa, mas cheia de significado.

- Eu não sou muito boa nisso - murmurou Diana, nervosa, mas sem conseguir desviar o olhar.

- Eu também não - respondeu Fátima, com um sorriso que parecia querer tranquilizá-la. - Mas ninguém aqui está avaliando nossos passos.

Os primeiros movimentos foram hesitantes, mas logo Diana começou a se soltar, acompanhando o ritmo que Fátima guiava com naturalidade. A proximidade entre elas era intoxicante. Cada pequeno toque, cada troca de olhar, parecia eletrificar o ar ao redor.

- Sabe... - começou Fátima, quebrando o silêncio. - Você realmente não precisava ficar incomodada com o Marcos.

Diana franziu a testa, confusa.

- Marcos?

- O vizinho que estava falando comigo. Você ficou tão séria que achei que ele tivesse feito algo errado.

O tom de Fátima era brincalhão, mas os olhos tinham uma intensidade que não deixava espaço para disfarces. Diana desviou o olhar, sentindo o rubor subir pelo rosto.

- Não fiquei incomodada - respondeu, embora soubesse que a mentira era óbvia.

Fátima apenas riu, baixinho, e, sem aviso, deu um passo mais próximo. Agora, quase não havia espaço entre elas. Diana podia sentir a respiração de Fátima, e seu perfume parecia envolvê-la completamente.

- Tem certeza? - perguntou Fátima, a voz baixa, como se fosse um segredo apenas entre elas.

Diana não respondeu. Não sabia o que dizer, nem o que fazer. Apenas continuou dançando, sentindo o mundo ao redor desaparecer. Seus olhos encontraram os de Fátima novamente, e naquele instante tudo pareceu parar. A música, as pessoas, o tempo. Só existiam elas duas.

Fátima, por um breve segundo, pareceu hesitar. Seus olhos desceram para os lábios de Diana, e o ar entre elas ficou ainda mais carregado. Mas antes que algo mais acontecesse, o som de aplausos ecoou pelo salão. A música havia terminado, e o encanto foi quebrado.

Fátima deu um pequeno passo para trás, ainda sorrindo, mas havia algo em seus olhos, algo que dizia que ela sentia o mesmo que Diana.

- Obrigada pela dança - disse Fátima, com um tom caloroso, embora a intensidade entre elas ainda estivesse ali, latente.

Diana apenas assentiu, sem conseguir encontrar palavras. Enquanto Fátima se afastava, o coração de Diana ainda batia descompassado, e ela sabia que nada seria mais o mesmo depois daquela dança.

...

Se preparem para surtar nós próximos capítulos 😜

sweet destiny - diama.Onde histórias criam vida. Descubra agora