Capítulo 09

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A faísca desliza até a ponta de meus dedos, embrenhando-se entre as sombras que embalam minha pele como uma luva

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A faísca desliza até a ponta de meus dedos, embrenhando-se entre as sombras que embalam minha pele como uma luva. Elas vibram com sua própria consciência ao redor das veias saltadas, em contraste com a palidez das minhas mãos. Ainda não me acostumei a vê-las como se fossem parte de mim. Eu as aguardava, assim como ansiava pelo meu Despertar, mas não esperava que fossem assim. Que eu seria assim. Nunca vi sombras como estas, nem as de Hyuk flutuam de forma tão indisciplinada, mesmo quando ele está puto com alguma coisa.

Mas gosto delas.

Elas são uma extensão da minha raiva e selvageria. Meu lado lúgubre em um molde palpável. Tudo o que contenho e encarcero, elas reviram e expõem. Vomitam para fora. 

O fogo se faz presente novamente, mais forte dessa vez, minhas digitais se aquecem com um calor agradável, mas os cabelos em minha nuca se arrepiam com a memória pungente que rasteja até a superfície dos meus pensamentos. Engulo em seco. O fogo não me assusta. Sob hipótese alguma. Definitivamente não, mas meu coração está batendo mais rápido e o vazio em meu estômago se expande sempre que eu o controlo.

Ainda que o meu objetivo não seja esse.

— Que caralho. — Aproximo-me mais da beirada do terraço, estreitando os olhos ao encarar a terra úmida dentro dos muros da propriedade. — É melhor você funcionar, porra.

Nada se move, nem o chão, muito menos as folhas secas caídas na grama do jardim. Encaro o chafariz no centro, o anjo cuspindo água entre as duas estradas de pedra que se bifurcam até a porta da mansão. A água está tão limpa que posso ver as moedas antigas que joguei uma vez ali, fazendo pedidos que nunca se realizaram. Não sinto nada.

Absolutamente nada.

Nem um incômodo sequer, uma pulsação diferente, ou um arrepio fugaz. 

Soco o pé contra o parapeito de ferro, baixo o suficiente para que uma criança caísse dali caso chegasse perto demais. A cerca negra e pontiaguda se enverga de forma sinuosa, mas nem a dor é o suficiente para me acalmar, até ela parece vazia. Esfrego o rosto e um fio gélido percorre a parte de trás da minha cabeça, como uma agulha de costura penetrando o meu cérebro, deslizando e repuxando. A sensação é seguida pelo vento ameno que empurra meu cabelo para trás.

Tenho sob meu comando chamas que não quero usar e uma ventania que não me serve para nada. É ridículo.

Como um ceifeiro, eu deveria ter controle dos quatro elementos — fogo, terra, ar e água. Mas eu não tenho, porque fui despertado antes da hora. Estou me forçando, levando meu corpo até o limite, na tentativa de provar que Haneul está errado. No entanto, a cada vez que eu tento, a queda e o desespero são maiores. Estou partido, assim como meu irmão disse, e não poder atestar o contrário está me corroendo por dentro. 

Lembro-me de Cassandra, a pedra em suas mãos estendida sobre a minha cabeça, antes de me esmagar como se eu fosse um inseto. Talvez, se eu sentir sua alma se esvaindo pelos meus dedos, se eu a enforcar até a morte, a dor surda que come meu peito desaparecerá. Eu a odeio tanto que chega a arder. Nada parece ser o suficiente para aplacar o latejar em minha cabeça, a culpa que envolve minha alma ou a humilhação de ser condenado a viver uma vida medíocre. A dor física é ilusória. Mesmo que eu tente causá-la, não dura o suficiente para me confortar, mas a ideia de provocá-la em outra pessoa é como avistar um bálsamo.  

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⏰ Última atualização: 5 days ago ⏰

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