Não saberia dizer onde o deixei, mal sei como saí daquele buraco e cheguei em casa. Meus pés estão esfolados de tanto andar, as sapatilhas deixaram bolhas protuberantes ao longo da minha pele. Não tenho coragem de estourá-las, mas simplesmente vê-las de relance me dá agonia, então mantenho meus pés debaixo das cobertas, mesmo que o menor dos atritos traga lágrimas de dor aos meus olhos.
Sei que tomei banho quando cheguei ontem, porque meus cabelos estão cheirando a condicionador e a única coisa que cobre o meu corpo é um roupão felpudo. Minhas costas rangem contra a maciez do colchão, enquanto meu consciente se reduz a um amontoado de lembranças borradas.
Acho que esse é o sentido da vingança, afinal. Você acaba com um problema e recebe outro de troféu. As palavras que disseram ainda rondam minha mente, mas são rapidamente sobrepostas pelos gritos de Hyuk. Os risos, a humilhação, o som do meu peito sendo estraçalhado, não é o que eu ouço quando a penumbra se infiltra no quarto e o silêncio é tão brutal quanto um rolo compressor. O que eu vejo toda vez que fecho os olhos é o pânico refletido no rosto dele quando percebeu que estava sendo assassinado, sinto o cheiro da carne queimando, a brutalidade sem hesitação. Está tudo gravado em mim, corroendo-me por dentro, em um lugar que não consigo alcançar.
Estou com medo de mim mesma.
Mesmo se soubesse que ele estava vivo, acho que não pararia. Como poderia? Seria estúpido da minha parte colocar a minha segurança e liberdade nas mãos de alguém que havia feito tão pouco de mim. O meu erro foi o primeiro golpe, o que aconteceu depois foi consequência.
Mas quem me levou ao limite foi ele.
Sim, a culpa foi dele.
Não minha.
O domingo passou como um borrão e a segunda chegou com o presságio de algo ruim. Se saí da cama até agora, não me lembro. Sei que preciso ir à aula, mas meus pés ainda doem demais, meus dedos estão em carne viva. Não quero ver ninguém. Só quero continuar debaixo das cobertas.
Quero me sufocar com a opressão das quatro paredes do meu quarto, que parecem menores a cada instante.
Por alguns segundos, penso que seria mais fácil se eu também morresse. No entanto, não ter que lidar com minha própria confusão e as consequências de meus atos, seria um presente que não mereço.
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Não Descanse em Paz
RomansaCassandra Villani matou seu primeiro amor. Eles estudavam na mesma faculdade, trocaram dois olhares e um total de zero palavras, mas o estrangeiro Song Hyuk ganhou o coração da garota simplesmente por existir. Coração ou obsessão. Quando ela é reje...