Capítulo 06

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Não sei se meu sofrimento é causado pelo vazio da minha obsessão, ou pelo medo de ser pega

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Não sei se meu sofrimento é causado pelo vazio da minha obsessão, ou pelo medo de ser pega. Algo me diz que isso vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Porque sei que sou um fracasso como assassina e, se existe algum crime perfeito, certamente não é o meu. 

Meu coração palpita a cada batida na porta, quando eu acho que eles estão vindo atrás de mim. Há dois dias deixo a televisão ligada no noticiário, sem interrupção, aguardando pelo momento em que vão anunciar um corpo encontrado em um barranco. Meus olhos, dolorosamente fixos à tela brilhante, já estão secos e eu preciso me obrigar a piscar. Nada em mim reage de maneira natural, estou cedendo rapidamente a toda essa pressão. 

Eu até grito com a minha mãe quando ela tenta mudar de canal.

A expressão decidida que ela tem vacila, o choque transformando o rosto dela em uma careta amarga e assustada, como se não me reconhecesse por um momento. Mas, nessa altura do campeonato, nem eu mesma me reconheço.

— Cassandra, estou cansada de ouvir desgraças o dia inteiro — ela diz, como um último apelo, puxando para cima os óculos que escorriam pelo nariz curvado.

— Então, eu vou abaixar o volume — retruco, pegando o controle.

Não é isso que ela quer, eu sei. Também sei que eu não posso ser grossa e descontar tudo nela só porque eu estraguei a minha vida, ou quase isso. O arrependimento por ter agido dessa forma com ela vem bruto, como um golpe em meu peito, mas o pedido de desculpas fica preso em minha garganta. Pelo menos, ela não tenta fazer isso outra vez.

Tenho o impulso de desligar a televisão, quando o pesar rasteja sobre mim. O dedo para em cima do botão vermelho no topo do aparelho em minha mão, mas o tempo que tive com o noticiário não é o suficiente. Eu preciso ficar mais. Só mais cinco minutos. 

Mais uma hora.

Talvez duas. 

Quando a noite cai e as luzes baixas tornam a casa mais aconchegante, mamãe se aproxima com dois pratos de strogonoff, sem dizer absolutamente nada. O cheiro invade minhas narinas e meu estômago ronca em resposta, lembrando-me ruidosamente de que eu não comi o dia inteiro. E ela sabe disso. "Coma, ou vou fazer você comer". É o que o olhar em seu rosto me diz.

Sorrio timidamente e pego o objeto quente e fumegante em suas mãos. Quando ela se senta do meu lado e o sofá afunda, a atmosfera é contaminada pelas palavras que eu não disse, mas insistem em latejar em minha cabeça. O ar é denso enquanto ela encara o jornalista com o rosto sereno. Ela já esqueceu o que houve, a inquietação vem apenas de mim. É como se, de repente, minha mente se encaixasse de volta no lugar. 

Não posso viver em prol de ser descoberta, não posso ficar parada em frente a televisão até meus olhos estarem secos, não posso fazer isso dia após dia. Vou me matar aos poucos e para que?

Hyuk está morto, não eu.

A vida não tinha um sabor espetacularmente doce antes dele. Eu tinha objetivos e deveres, mas ele se transformou em um sonho. Meu sonho. Sombrio e possessivo, um conto de fadas escrito com sangue e lágrimas, onde o final feliz não passava de uma mentira reconfortante. 

Não Descanse em PazOnde histórias criam vida. Descubra agora