Prólogo

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A sensação de estar sendo observada é engraçada, principalmente quando você não consegue identificar de onde ela vem

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A sensação de estar sendo observada é engraçada, principalmente quando você não consegue identificar de onde ela vem. Em um mundo tão cheio, é natural que você seja notado por outras pessoas, por uma roupa espalhafatosa no metrô, por um som agudo do celular que atrai olhares curiosos, mas a sensação que eu tenho é mais profunda. Eu a experimento sob minha pele desde que eu era criança, impalpável e rastejante, como algo espreitando por cima dos meus ombros. Mesmo quando eu acho que acabou, ela está novamente ali. Um leve arrepio na espinha, uma pressão sobre os ombros, sobras sinuosas durante a noite que acompanham meus passos, um vento frio que parece ter como um único alvo a mim.

Minha terapeuta diz que tenho mania de perseguição, paranoia e mais alguns traumas no bolso. Eu digo que sou amaldiçoada.

As sombras me perseguem e, embora eu corra, quando elas me alcançam dentro do quarto e estou imóvel debaixo das cobertas, não há nada que eu possa fazer a não ser gritar. Mas minha voz também não funciona, grito com a alma e com os olhos. Meu coração berra a cada batida, na tentativa falha de me libertar.

Até que as sombras vão embora e eu acho que acabou. Então, começa tudo de novo.

Durante a noite, eu sinto não só olhos, mas seu próprio peso sobre mim, empurrando-me em direção ao chão, lembrando-me de que sou pequena e insignificante em relação ao que quer que ele seja. A forma como meu peito se contrai é insuportável, o coração batendo a mil por segundo. Cheguei em um ponto que nem mexer os dedos dos pés resolve mais. Antes, o simples movimento me despertava do torpor dolorido que vinha durante a noite, mas agora nem mesmo minhas extremidades se movem.

Estou à mercê da minha própria mente, para que ela me liberte no momento em que quiser. E, tão rápido quanto o despertar de um pesadelo, eu giro com brutalidade na cama, batendo o braço na quina. Respiro com dificuldade e me sento, pegando o celular debaixo do travesseiro para ligar a lanterna e olhar ao redor do quarto. Como sempre, estou sozinha. 

Mas eu ainda o sinto espreitando. 

Tento me convencer de que é uma alucinação, um fenômeno natural que acontece sempre que eu sou exposta ao estresse extremo. Mas no fundo eu sei que é ele. Meu sangue e o dele se tornaram um, mesmo morto ele não vai me deixar. Nunca mais. 

Não Descanse em PazOnde histórias criam vida. Descubra agora