EUDAIMONIA, Jujutsu Kaisen

|Yuta Okkotsu

[Alerta gatilhos]: gatilhos.

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Ela é perfeita.

Seu andar soa como um mar ondulante, seus cabelos curtos, sempre cobertos por uma tiara característica, a deixa ainda mais chamativa. Mas, para Yuta, esses são meros atributos, pois ele a odeia.

Odeia o rosto fino e com nariz arrebitado, tão bonito quanto qualquer um que ele já viu.

Também odeia o tecido rosa ao redor da cintura dela, que modela cada centímetro daquele corpo, expondo de forma atrevida a curva saliente que somente ela consegue ter. Yuta Okkotsu a odeia, ou, na verdade, ele a ame.

E somente diz que a odeia por saber que nunca irá ter aquela garota em seus braços, desamarrando o tecido rosa da cintura dela e a despindo enquanto clama os lábios carnudos, saboreando o sabor doce que possivelmente ela tem.

Yuta a quer e sabe que ele não é o único a ter esses sentimentos, pois enxerga a forma como os outros homens a olham, hipnotizados pelos lábios chamativos e pelo quadril largo. E o rapaz odeia essa atenção exagerada para cima dela, odeia que eles a desejam tanto quanto ele.

O Okkotsu tem vontade de arrancar os olhos de cada um, mesmo distante e sempre nas sombras, ele persegue sua amada garota que ainda não sabe que é dele. Ele a protege dos males das ruas, das pessoas maldosas que a encaram pelo corredor, dos pervertidos que a anseiam.

Yuta não admite, mas gosta de persegui-la e acompanhar toda a trajetória de sua querida [S/n] para saber cada passo que ela irá dar. Ele ama a sensação de estar distante, mas, ao mesmo tempo, próximo a ela, além de, também, saber de todos os seus passos mais que qualquer outra pessoa.

—Vocês souberam? A [S/n] foi convidada para um encontro com um veterano.

Trafegando pelo corredor e se desviando das pessoas, Yuta escuta de relance as aclamações exageradas e murmúrios incômodos. Ele para, distante da pequena roda que se formou ao redor de duas garotas, mas é o suficiente para ouvir cada palavra proferida por elas como um grasnar irritante.

—Eu soube!— alguém completa —E ele é tão bonito! Os dois fariam um excelente casal.

—Acho que ela aceitou.— Yuta vai se distanciando furtivamente do grupo escandaloso com os ouvidos doloridos
—Mas vocês perceberam que... A [S/n] parece que está fazendo questão de comentar sobre isso para todo mundo...

—Deve ser coisa da sua cabeça ou inveja.— provoca outra, arrancando algumas risadinhas das outras garotas ao redor.

Okkotsu já não as escuta mais, as ultrapassando com as mãos emperradas nos bolsos e com o rosto obscurecido pelo sentimento de querer algo e não possuir, no entanto, essa linha tênue entre as duas vertentes, não o impede de tê-la.

•••

O dia foi engolido pela noite em um único piscar de olhos, escureceu tão rápido quanto amanheceu em um mau presságio de que algo ruim poderá ocorrer.

Juntamente com a noite antecipada, as gotas fortes de chuvas caem do céu em uma fúria selvagem, abafando qualquer tentativa das crianças se divertirem nos parques e dos trabalhadores voltarem para suas casas.

Abafando, também, os gritos que soam pelo casebre não tão longe da cidade. Eles ecoam como ondas na chuva torrencial que a cada instante fica mais forte, são sofridos e cheios de uma angústia dolorida.

A mulher se joga de um lado para o outro nas amarras, fazendo um escândalo estrondoso quando consegue soltar minimamente o pano que cobre a sua boca. A garganta dela fica seca, necessitando de água para acalmar a laringe inflamada.

O suor cai pelo rosto contorcido de raiva, as lágrimas se misturando junto com a sensação de impotência. Ela se move de um lado para o outro na cadeira que a faz se desequilibrar e cair pateticamente no chão liso e sem cor.

Passos pesados se arrastam até a cadeira caída em que a garota perfeita está, ela não treme mais, seu corpo é apenas estático enquanto Yuta a encara por cima, admirando que a sua [S/n] agora é inteiramente dele.

Ele levanta a cadeira e a garota caída, os cabelos curtos dela cobrem os olhos descobertos a fazendo ter uma péssima imagem do seu sequestrador.

—Você está... bem?— nervoso, ele pergunta sem realmente saber o que fazer. Yuta Okkotsu fez tudo em um impulso, estava cansado de não tê-la somente para si e, vendo-a saindo com outro homem, o fez chegar em seu limite.

Ele toca o topo da cabeça dela ao sentir que ela não está respondendo a nada, preocupado que ela possa estar em estado de choque. Porém, quanto mais ele se aproxima ele pode escutar um riso contido da mulher, ela treme, rindo, mesmo que a sua boca esteja tapada por um pano firme.

Yuta levanta o rosto dela e livrando a face dos fios curtos, ficando surpreso por ela o está encarando intensamente e sorridente. Ele, confuso, tira o tecido que prende os lábios dela.

—Yuta...—ela sussurra, rindo ainda mais da reação dele —Você acha que eu não sei quem é você, meu querido Yuta?

—Como...?— ele se afasta, vendo que a garota perfeita agora parece outra pessoa.

—Matou aquele também, hum? Ou apenas o deixou desacordado como os outros?— a cada palavra os seus olhos vão ficando sombrios, marcando a face vermelha dela de forma maliciosa —Eu adoro a sua obsessão por mim, querido, adoro ser apenas o seu centro de atenção.

—Você sabia de tudo isso?

—Eu sempre fiz questão de que você soubesse, Okkotsu!— ela se remexe na cadeira, cruzando as pernas e movendo o quadril que é marcado pelo tecido rosa —É tão divertido alguém fazendo de tudo por mim, me desejando e sabendo que não pode me ter.

Os olhos dela brilham intensos para ele, seus lábios se curvando em um escárnio doentio.

—Você me quer? Rasteje para mim, Yuta Okkotsu, como um cachorrinho sendo domesticado, precisando de uma dona! Entregue-se para mim como nunca se entregou para ninguém nessa sua vidinha medíocre.

Suas palavras se estendem por todo o casebre até chegar em Yuta que a encara surpreso, mas ficando feliz a cada frase que ela solta para si.

O seu sonho de ter a sua garota perfeita, sendo realizado.

Ele se agacha no chão, próximos aos pés dela e abraça as pernas dela como um cão de guarda. Ele se acomoda nela como se tivesse achado a sua dona e a encara, contente por saber que ela é igual ou pior que ele.

[S/n] é, com toda a certeza, a sua garota perfeita.