Rafaella Kalimann
A noite já caía quando deixei a casa da Bianca. Meu coração estava pesado, e cada passo que eu dava parecia mais lento, como se estivesse arrastando todo o cansaço e preocupação daquele dia comigo. Ao chegar em casa, encontrei Rodolffo me esperando na sala, sentado no sofá com o celular em mãos. Ele sorriu ao me ver, mas logo franziu o cenho, notando minha expressão abatida.
— Rafa, o que houve? — perguntou, levantando-se para me dar um abraço. — Você parece exausta.
Forcei um sorriso, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que carregava.
— Nada demais... só foi um dia puxado no trabalho — menti, desviando o olhar. Eu sabia que ele não entenderia a dimensão do que eu estava sentindo, então preferi não entrar em detalhes.
— Você tem certeza? — ele insistiu, inclinando a cabeça para me observar melhor. — Está parecendo mais sério do que isso.
— Tenho, Rod. Só cansaço. Vamos? Já estamos atrasados para o jantar com meus pais.
Ele assentiu, ainda visivelmente desconfiado, mas decidiu não pressionar. Pegamos o carro e seguimos para o restaurante onde meus pais nos esperavam. O ambiente era acolhedor, com uma iluminação suave e mesas dispostas de forma intimista. Quando chegamos, minha mãe, com seu olhar sempre atento, me examinou por um instante antes de me cumprimentar com um abraço apertado.
— Minha filha, você está bem? — perguntou enquanto me olhava nos olhos.
— Estou ótima, mãe — respondi com um sorriso forçado.
Durante o jantar, tentei participar da conversa, mas minha mente estava longe. A imagem de Emily, com aquele olhar cansado e abatido, não saía da minha cabeça. Por mais que eu tentasse, não conseguia fingir normalidade. Meu pai também notou.
— Rafa, você está tão quieta hoje. O que está acontecendo? — ele perguntou, preocupado.
— Só um dia difícil, pai. Muita coisa no trabalho, só isso — menti novamente, tomando um gole do vinho para evitar seu olhar penetrante.
Consegui manter a fachada até um pouco antes da sobremesa, quando me levantei para ir ao banheiro. Enquanto lavava as mãos, tentando me recompor, ouvi a porta se abrir e vi minha mãe entrando. Seu olhar era firme, mas cheio de ternura.
— Rafaella, o que está acontecendo de verdade? — ela perguntou, cruzando os braços.
Suspirei, sentindo minhas defesas desmoronarem. As lágrimas saíram antes que eu pudesse contê-las, como se não houvesse mais espaço dentro de mim para segurá-las.
— É a Emily, mãe... — comecei, minha voz trêmula.
— Emily? — Ela franziu o cenho, claramente confusa.
— A filha da Bianca, uma... amiga — expliquei, tropeçando nas palavras. — Ela desmaiou hoje na escola, e... e está apresentando um quadro extremo de cansaço.
Minha mãe continuava me encarando, tentando juntar as peças, mas ainda sem entender a profundidade da minha angústia.
— Bianca? Quem é Bianca? E quem é Emily? Rafaella, o que está acontecendo? — ela perguntou, a preocupação evidente no tom.
Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos.
— Bianca é... uma mulher que conheci há algumas semanas no meu jantar de noivado. Ela é mãe da Emily, uma menininha incrível. Nós nos aproximamos por acaso, mas desde o começo eu senti uma conexão com a menina, algo que eu não consigo explicar.
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Porque Eu Te Amo
General Fiction"Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio" William Shakespeare