"O reencontro é o abraço silencioso que acalma a alma e revive os melhores momentos." - Desconhecido.
Bianca caminhava pelo shopping, perdida entre as vitrines. As risadas das crianças ao redor pareciam ecoar os pensamentos sobre Emily, enquanto ela parava em frente a uma loja de brinquedos. O olhar pousou em uma prateleira de pelúcias, e ela pegou um urso macio, imaginando o sorriso da filha ao desembrulhá-lo.
No meio de sua escolha, uma voz suave a chamou, interrompendo seus pensamentos.
- Bianca?
Ela se virou, o coração batendo forte. Rafaella estava ali, com o jaleco branco e o crachá do hospital pendurado. A surpresa tomou conta de seu rosto.
- Rafaella! Que coincidência te encontrar aqui.
- Coincidência mesmo. - Rafaella sorriu, aproximando-se. - Estava no hospital e resolvi aproveitar meu intervalo para resolver algumas coisas. E você?
- Estou procurando um presente de aniversário para Emily. Ela faz oito anos no sábado. - Bianca respondeu, mostrando o urso nas mãos.
Rafaella pegou o urso e sorriu.
- Adorável. Acho que ela vai amar. Emily é uma criança encantadora.
Bianca sentiu o calor em suas bochechas, tentando desviar o olhar.
- Quer tomar um café? Se tiver tempo, claro.
- Eu adoraria.
As duas caminharam até uma cafeteria próxima e pediram cappuccinos. O aroma do café quente preenchia o ar, criando uma atmosfera aconchegante.
- Você disse que é cardiologista pediátrica, certo? Isso deve ser... intenso. - comentou Bianca.
- É. Desafiador, mas extremamente recompensador. Amo trabalhar com crianças, mesmo que, às vezes, elas partam o coração da gente. - respondeu Rafaella, com um brilho no olhar que Bianca não pôde ignorar.
- Isso é lindo. Eu amo crianças, mas nunca conseguiria lidar com algo tão emocionalmente pesado. - Bianca comentou, admirada.
A conversa seguiu leve e descontraída, mas, de tempos em tempos, Bianca se pegava olhando para Rafaella por mais tempo do que deveria. Algo nela fazia o tempo desacelerar.
Quando o café estava quase no fim, Bianca respirou fundo e se arriscou:
- Sabe, vamos fazer uma pequena festa para Emily em casa. Só pessoas próximas. Você gostaria de vir?
Rafaella piscou, surpresa, mas seu sorriso iluminou o rosto.
- É sério? Fico honrada com o convite. Eu adoraria.
Bianca soltou um riso nervoso, sentindo o coração mais leve.
- Vou te mandar o endereço, então... Ah! Espera. Eu não tenho seu número.
Rafaella riu, puxando um papel e uma caneta do bolso do jaleco.
- Aqui está. Estou ansiosa para a festa.
Bianca olhou o número anotado e, por um momento, sentiu uma sensação de calor e esperança, como se algo importante estivesse começando a se formar.
Quando Rafaella partiu, Bianca a acompanhou com o olhar até que desaparecesse entre os corredores do shopping. Com o número em mãos e um sorriso no rosto, ela voltou às compras, sentindo que a presença de Rafaella tornava seus dias mais leves.
Rafaella Kalimann
Após o encontro com Bianca no shopping, voltei para o hospital com a mente em um turbilhão. As horas se arrastaram, e cada intervalo era preenchido pela lembrança de seu sorriso e pela sensação inexplicável que ela provocava em mim. Não conseguia entender o que estava acontecendo, mas sabia que precisava desabafar. Peguei o celular e mandei uma mensagem para Marcela, minha amiga mais confiável:
"Oi, preciso conversar. Tá livre hoje à noite?"
A resposta foi imediata.
"Claro! Traz uma garrafa de vinho e vem pra cá."
Depois de um longo turno, passei em uma loja de conveniência, peguei um vinho que sabia que Marcela adorava e fui direto para o apartamento dela. Assim que ela abriu a porta, seu olhar perspicaz me analisou por completo.
- Ok, desembucha. Você está com aquela cara de quem viu um fantasma ou, no mínimo, de quem fez algo que não deveria. – disse, entregando-me uma taça e me puxando para o sofá.
- Não sei se é algo que fiz... ou algo que senti.
Marcela arqueou a sobrancelha e sentou ao meu lado, cruzando as pernas e inclinando-se para me ouvir melhor.
- Agora fiquei curiosa. É o Rodolffo? Vocês brigaram?
- Não, nada disso. Ele está bem, o jantar foi perfeito. Foi... outra coisa. Uma pessoa, na verdade.
Enquanto tomava um gole de vinho, senti a coragem começar a se formar. Contei sobre o jantar, o impacto que Bianca causou quando a vi pela primeira vez, e como Emily havia derretido meu coração. Relatei o breve encontro no shopping, a conversa leve, e o convite para o aniversário. A cada palavra, Marcela parecia absorver cada detalhe como uma esponja, seus olhos brilhando com interesse.
- Enfim, eu não consigo parar de pensar nela. – confessei, sentindo o calor subir até minhas bochechas.
Marcela colocou a taça sobre a mesinha e olhou para mim com aquela mistura de compreensão e preocupação que só uma amiga como ela poderia oferecer.
- Rafa, isso não é algo pequeno. Parece que essa mulher mexeu com você de um jeito que ninguém fez há muito tempo.
Eu suspirei, balançando a cabeça.
- Mas eu não a conheço, não faz sentido... e eu vou me casar! Não deveria estar me sentindo assim.
Marcela inclinou-se, pegando minha mão.
- Olha, sentir algo por outra pessoa não é crime. Mas é um sinal de que tem alguma coisa dentro de você que está gritando para ser ouvida. O que você sente pelo Rodolffo? É amor? É segurança? Ou é só o caminho que todos esperam que você siga?
As palavras dela me atingiram como um soco no estômago. Não consegui responder imediatamente.
- Rafa, você precisa parar e entender o que está realmente acontecendo dentro de você antes de tomar qualquer decisão precipitada. Esses sentimentos podem ser bonitos, mas também perigosos, especialmente se você não souber como lidar com eles. – Ela apertou meu ombro levemente, um gesto de apoio.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Marcela voltou a beber seu vinho, me dando espaço para processar suas palavras. Finalmente, olhei para ela, agradecida.
- Obrigada, Marcela. Eu precisava ouvir isso.
- Sempre que precisar, Rafa. E, ei, não esqueça: o que quer que você decida, vou estar aqui, segurando sua mão.
Sorri, sentindo-me um pouco mais leve. Conversamos sobre assuntos bobos por mais alguns minutos antes de eu me despedir. Já era tarde quando saí do apartamento dela e voltei para casa, mas a sensação de confusão ainda estava presente.
Sai do apartamento de Marcela um pouco mais leve, cheguei em casa e encontrei Rodolffo no sofá, assistindo a um programa de esportes. Ele olhou para mim e sorriu, levantando-se para me receber.
- Oi, amor. Como foi o plantão?
- Cansativo, como sempre. Mas sobrevivi. – Respondi, forçando um sorriso.
Ele me abraçou e beijou minha testa.
- Estava esperando você pra jantar, mas já comi um lanche. Tem comida na geladeira, se quiser.
- Obrigada, mas acho que vou direto para o banho.
Ele assentiu, voltando para o sofá enquanto eu seguia para o quarto. Fechei a porta atrás de mim e me apoiei contra ela, sentindo o peso do dia me atingir. Olhei para o anel no meu dedo, o símbolo de tudo o que Rodolffo representava – estabilidade, conforto, um futuro planejado.
Mas, por mais que tentasse, a imagem de Bianca e a intensidade de nossos breves encontros não saíam da minha mente. Algo dentro de mim estava mudando, e, por mais assustador que fosse, não sabia se poderia – ou queria – lutar contra isso.
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Porque Eu Te Amo
Romance"Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio" William Shakespeare