Bianca Andrade
Emily estava descansando mais tranquila naquela manhã. Sua respiração parecia menos pesada, e, pela primeira vez em dias, eu senti como se um pequeno raio de luz tivesse atravessado a tempestade que estávamos vivendo. A melhora era sutil, mas estava lá, e isso me deu um pouco de esperança. Rafaella tinha passado cedo no quarto para revisar os medicamentos e deixou o café da manhã com o bilhetinho carinhoso que já era quase sua marca registrada: "Bom apetite, princesa." Ela estava cuidando da Emily com tanta dedicação que era difícil não sentir algo muito além de gratidão por ela.
Diogo tinha saído logo cedo, alegando que precisava resolver algumas pendências no trabalho. Mas eu sabia que não era apenas isso. Desde que Emily foi internada, ele parecia perdido, sem saber como lidar com tudo. O silêncio entre nós havia se tornado constante, e nossas conversas eram sempre sobre Emily, nada além disso. Ele era um bom pai, mas sua ausência emocional estava começando a pesar, principalmente agora, quando eu mais precisava de apoio.
Quando Rafaella voltou ao quarto, trazia um sorriso no rosto que iluminava o ambiente. Ao ver Emily acordada e com um semblante mais calmo, ela abriu um sorriso ainda maior.
— Bom dia, princesa. Vejo que hoje você está ainda mais forte, hein? — ela disse, aproximando-se da cama e acariciando o cabelo de Emily.
— Sim... — Emily murmurou, com um sorriso tímido.
Rafaella olhou para mim, seu olhar cheio de ternura e, ao mesmo tempo, preocupação.
— Preciso coletar uma nova amostra de sangue para os exames. Prometo ser o mais delicada possível — ela disse, sua voz baixa, quase como se estivesse pedindo desculpas.
Eu assenti, entendendo que aquilo era necessário. Mas ver o quanto isso partia o coração dela era tão difícil quanto suportar a dor de Emily. Quando Rafaella terminou o procedimento, ela se virou para mim e colocou a mão suavemente no meu ombro.
— Você precisa comer. Não adianta cuidar dela se você não cuidar de si mesma.
— Rafa, eu não estou com fome, sério... — comecei a dizer, mas ela me interrompeu, com um sorriso determinado.
— Sem desculpas. Vou buscar algo para você e não aceito um "não". Volto em um minuto.
Ela saiu do quarto, e eu fiquei observando Emily. Ainda que sua melhora fosse mínima, era como um fio de esperança a que eu me agarrava com todas as forças. Não demorou muito para Rafaella voltar com um prato de comida. Ela colocou a bandeja no meu colo e me lançou um olhar firme, mas gentil.
— Por favor, Bia. É importante.
Concordei, e enquanto eu comia, ela sentou ao lado de Emily.
— E como você esta? — perguntou com um tom que parecia atravessar minhas defesas.
— Eu não sei... — murmurei. — Acho que estou no automático. Tentando não quebrar.
Rafaella inclinou levemente a cabeça, me observando com cuidado.
— A Emi é uma guerreira. Ela está respondendo super bem aos remédios. Logo, logo, ela vai poder voltar para casa.
— Isso é porque temos a MELHOR médica cuidando dela — respondi, com um sorriso sincero, e ela retribuiu com um olhar carinhoso.
— Obrigada, Bi. Isso significa muito para mim — respondeu Rafaella, com um sorriso caloroso. Eu sorri, achando fofo o jeito que ela me chamou.
— O que foi? — perguntou ela, curiosa.
— Nada, só notei que é a primeira vez que você me chama assim — respondi, ainda sorrindo.
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Porque Eu Te Amo
General Fiction"Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio" William Shakespeare