Capítulo 22 - Ciúme

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Capítulo 22 – Ciúme

Marcus Bellini conduziu seus homens através da abadia em ruínas, guiados pela luz de tochas. Giggio não voltou e, seguindo sua pista, eles tinham chegado àquele lugar. O capitão permaneceu junto a ponte levadiça, enquanto seus guardas vistoriavam o interior do mosteiro. Estava sujo e cansado, com um humor que a cada momento ficava mais negro.

Não havia sinal de seu segundo em comando e dos homens que o acompanhavam, nenhum indício de que houvessem abandonado aquelas paragens... mas alguém se fora dali. Ele se virou, quando um guarda cruzou a arruinada ponte levadiça, trazendo notícias. – Tudo vazio, senhor, mas encontramos isto.

O guarda mostrou uma pena de falcão, manchada de sangue seco. Por entre os olhos semicerrados, Marcus examinou-a à luz da tocha. Um lento e feio sorriso formou-se em sua boca. Todas as suas perguntas tinham sido respondidas. Levantou o rosto e fitou a construção, cujas ruínas haviam abrigado o ômega amaldiçoado, o amor secreto do Bispo – e seu inimigo. Ergueu a mão, apontando para elas. – Queimem tudo! – ordenou.

Montados em seus cavalos, internaram-se novamente na noite. O alfa Marcus olhou para trás, com sombria satisfação, contemplando as chamas que consumiam as ruínas, como os fogos do inferno que logo consumiriam Elazar.

**

Ao amanhecer do novo dia, Elazar chegou ao acampamento montado em seu cavalo, de olhos postos no alto, vasculhando o céu. O falcão pairava nas alturas, no ar dourado das primeiras luzes da manhã, acima de uma montanha coroada de neve. A ave baixou em círculos quando o viu e empoleirou-se no galho inferior de um carvalho próximo. Ele desviou os olhos, sem sorrir.

No chão, Filipe dormia tão profundamente como uma criança, aninhado junto à fogueira apagada do acampamento e segurando a espada embainhada entre os braços, apertando-a como se fosse uma amante. O shifter lobo ficou mais desanimado ainda, ao contemplar o rapaz.

Chegou até junto dele e puxou-lhe a espada dos braços. O rapaz despertou sobressaltado e engatinhou aos pés de Elazar, com expressão culpada. Segurava a coberta em volta do corpo, tiritante, esfregando os olhos como se ainda estivesse exausto.

O Alfa o fitou com frieza, depois olhou para o pico da montanha, cintilando com a neve recém-caída. Se viajasse o dia inteiro, poderia chegar a Moldovan no dia seguinte... – Todas as estradas deste lado do vale são impossíveis – disse. – O único caminho aberto para a cidade será pela montanha. Fará um frio intenso... Há neve acima dos limites da vegetação.

Esperou que o rosto do rapaz o traísse. Esperou que ele iniciasse alguma desculpa, que se recusasse, que montasse em seu cavalo e fosse embora, levando consigo a carga indesejada de sua jovem vida. Entretanto o outro não fez nada disso, limitando-se a fitá-lo com ar incerto. Elazar deu meia-volta e caminhou para seu cavalo.

Filipe continuou parado onde estava, chutando as brasas mortas do fogo. – Eles o matarão! E matarão Isaac também! – exclamou, quase enfurecido. – Não conseguirão chegar a cem metros do Bispo!

Elazar prendeu a espada na sela e tornou a montar no garanhão. Olhou em silêncio para Filipe, com ar impassível, e depois espetou os calcanhares na barriga do animal. Ele sentia o cheiro de Isaac sobre Filipe. Eles não tinham tido nada íntimo demais. Só que Elazar percebeu que o ômega esfregou todo seu maldito cheiro em Filipe, o marcando de certa maneira. Do jeito em que ele próprio já foi marcado um dia.

– Deveria ouvir-me! – gritou Filipe, correndo para seu cavalo. – Não tenho que ir junto, bem sabe! Ainda sou jovem! Tenho esperanças! – Emparelhou com Elazar uns quatrocentos metros além e seguiram lado a lado.

A Madição da Colina (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora