O caminho para o casarão de Alexander foi marcado pelas muitas reclamações, indagações e questionamentos da mulher loira, que ainda não entendia o motivo pelo qual estava sendo expulsa, sem nenhum direito de espera pelo seu pai até o anoitecer, que ainda levaria uma tarde inteira até sua chegada. Enquanto Doyle andava com paços decididos até o estábulo, Eden o olhava incrédula.
— Por qual motivo ficaste tão aborrecido, milorde? Se foi porque não o encontrei antes, por favor, peço que me perdoe, eu sempre fui desastrada, sabes disso. — dito isso, se lembrou que não foi a primeira vez que foi respondido por comprometer a saude do homem — Ah, presumo que tenhas ficado aborrecido também com o ferimento grave que lhe causei na festa de casamento de minha irmã. Ainda tens mágoas comigo enquanto a isso, milorde? Fale-me! Diga-me!
Eden então alcançou a perna do mais alto enquanto eles subiam uma pequena colina que dava acesso aos fundos do estábulo, onde passava uma pequena estrada de pedras escorregadias. As mãos dela agarraram-se na bainha da calça de linho de Alexander, que continuou em pé, enquanto a loira se desequilibrou nas superfícies lisas das pedras. O moreno respirou fundo ao ouvir que ela havia se espatifado. Virou-se, e de imediato a colocou nos ombros, deixando sua cabeça pra baixo, agarrando suas pernas, enquanto ela batia ferozmente em suas costas, sem cansar-se de pedir respostas.
O percurso que restava para chegar ao estábulo em um instante foi completado pois, com ela nos ombros, Doyle podia andar mais rápido, sem se preocupar em deixá-la para trás. A chuva já havia cessado parcialmente, deixando somente uma garoa inofensiva no ar. Tudo que havia no chão era lama, então, colocou a moça na cela de sua égua, que já havia ficado alerta quando Alexander abriu a porteira. Depois que a loira já estava devidamente segura e acomodada, subiu no animal e agarrou as rédeas. Fez com que andasse um pouco, até um gancho no pilar de madeira, onde estava pendurada uma capa de tecido grosso e quente. Enrolou seu corpo nela, deixando que passasse um pouco para Eden; que prontamente se aproximou mais do moreno e se aconchegou na capa - ou melhor, nele.
Os lamentos dela haviam parado, a moça tinha silenciado totalmente, e Alexander que esperava se sentir aliviado com tal coisa, ficou completamente desapontado. Um de seus defeitos era ser extremamente caprichoso, nada nunca estava bom o bastante para ele. Gostava de ser o causador de dúvidas e provocar inquietações, e vê-la tão quieta era o contrário do que lhe dava prazer. Enquanto cavalgava com sua égua em uma velocidade moderada, meditava a possibilidade de dizer ou fazer algo que a desapontasse novamente, com o único propósito de ouvir sua bela voz cheia de irritação por mais minutos.
Ao completar uma hora, senhorita Hortensius havia adormecido no peito de Doyle. Os cabelos encaracolados e rebeldes escapavam levemente da capa, pois o homem teve o cuidado de cobrir seu rosto com o tecido, pois não queria nenhum bisbilhoteiro encarando-a. Era bela de mais para ser vista por olhos que não fossem os dele. Enquanto segurava as rédeas da égua, mantinha seus braços firmes, a mantendo próxima ao seu corpo, que ainda estava frio. Faltando poucos minutos para que chegassem na residência de seu pai, ela acordou. Ainda hesitando, segurou a capa e tirou-a de seu rosto, olhando em volta, incomodada com a luz do sol. Doyle sentiu vontade de condenar aquela estrela maldita, que fazia sua mais bela flor sofrer. Apenas ele poderia fazê-lo.
— Já chegamos?
— Chegamos sim, Eden.
Alexander desceu da sela, e, no chão, segurou a cintura da mais nova e a colocou no chão. Não teve coragem de soltar o corpo dela de imediato, pois sentiu-se novamente preso nos olhos azuis escuro que ela possuía, emoldurados por cílios longos e curvados. Do mesmo modo em que ele a devorava com os sentidos naquele instante, Hortensius também parecia triste em estar de volta, o olhando com uma saudade precoce.
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Arrependimento e Sacrifício
FantasiHá algum tempo atrás, nas terras inglesas, um rumor corria entre os marinheiros que paravam em uma cidade litorânea, afirmavam a existência de uma criatura mística e de natureza maléfica, que prometia dar qualquer coisa que os homens almejassem. Con...