Nightmare Além da Floresta

Um Dia Qualquer

Nightmare: Além da Floresta

Capítulo 1: Um Dia Qualquer

O som dos despertadores ecoava pela vizinhança de Central City como um ritual diário. A pequena cidade, envolta por uma floresta de pinheiros que parecia infinita, despertava em um ritmo quase ensaiado. As casas, quase todas feitas de madeira escura e desgastada, tinham o charme de um lugar esquecido pelo tempo. A fumaça subia preguiçosa das chaminés, enquanto o cheiro de pão fresco e café recém-passado pairava no ar.

Na Rua Evergreen, a casa dos Walker era uma das mais modestas. Jonny Walker, de 17 anos, estava sentado à mesa da cozinha, encarando uma tigela de cereal que já tinha perdido a crocância há tempos. O jornal local, jogado no balcão, exibia uma manchete rotineira: "Central City terá o festival anual da Colheita neste final de semana!"

"Você vai se atrasar, Jonny", disse sua mãe, com a voz cansada. Ela estava em pé diante do fogão, mexendo algo que cheirava a queimado. Seu rosto parecia sempre um pouco abatido, como se cada dia fosse mais pesado que o anterior.

"Não tem problema," Jonny respondeu, sem tirar os olhos da tigela. Ele não gostava da escola, mas não era só isso. Era difícil explicar. Havia uma sensação de que o mundo fora de sua casa estava cada vez mais... estranho.

Do lado de fora, o vento cortava o ar gelado, balançando os pinheiros altos que cercavam a cidade como muralhas naturais. As folhas caídas cobriam as calçadas, enquanto o ônibus escolar parava na esquina, soltando seu tradicional chiado das portas. Jonny pegou sua mochila desbotada e saiu, sem dizer muito mais.

No ônibus, ele se sentou no meio, como sempre. De um lado, Jim Grace, uma garota que nunca parava de mexer no celular, como se Central City tivesse algo interessante para postar. De outro, um garoto que ele mal conhecia, com fones de ouvido enormes e uma expressão distante. Todos pareciam tão normais, tão previsíveis, que até dava sono.

A escola ficava no centro da cidade, cercada por um campo de futebol e um pátio onde os estudantes se reuniam antes das aulas. O som de risadas e conversas se misturava ao barulho de passos apressados. Para quem não sabia, parecia um dia qualquer.

Mas Jonny sabia. Ele sempre soube que algo estava fora do lugar.

No corredor principal, onde os armários metálicos formavam um labirinto de cores desbotadas, Jonny passou por Tomas Grace, o irmão mais velho de Jim. Tomas era um dos poucos que parecia dar atenção a ele, mas sempre de um jeito esquisito, como se estivesse esperando Jonny dizer algo importante.

"Jonny, ouviu os gritos de novo?" Tomas perguntou, com um sorriso que não era exatamente amigável.

Jonny parou. Ele odiava que as pessoas soubessem disso, mas Tomas era o único que parecia realmente acreditar.

"Não." Foi tudo o que ele disse antes de continuar andando.

As aulas começaram, e tudo seguiu como qualquer outro dia. Matemática, história, biologia... O relógio parecia andar mais devagar do que deveria. Mas no fundo da mente de Jonny, algo insistia em puxá-lo para longe, como um peso invisível.

Na hora do almoço, ele se sentou sozinho perto de uma janela com vista para a floresta. O céu estava cinza, e a névoa começava a se erguer entre as árvores, mesmo que ainda fosse cedo demais para isso. Ele não conseguia tirar os olhos dali, como se estivesse esperando algo surgir do meio das sombras.

Foi só quando Jim Grace se sentou à sua frente, com sua bandeja cheia de comida, que ele finalmente piscou.

"Você tá bem? Tá com uma cara horrível."

"Só não dormi direito," ele respondeu. Não era mentira. Os gritos, mesmo quando não vinham, pareciam ecoar em seus sonhos.

Jim deu de ombros, mastigando sem pressa. "Meu pai disse que a floresta tá cheia de coiotes ultimamente. Talvez seja isso."

Jonny não respondeu. Ele sabia que não eram coiotes.